ANOS
60
Nos anos 60 o mundo ocidental efervescia.
Enquanto os hippies e o movimento psicodélico abriam fronteiras através da
meditação do misticismo e da exploração dos estudos alterados da mente, outro
movimento procurava a expansão da consciência social. Era tempo do questionar a
autoridade através do movimento estudantil, do movimento pelos direitos
humanos, do feminismo e da arte.
Os festivais de música foram a grande arena
da cultura brasileira. Os concursos principais, transmitidos pelas emissoras
Record, Excelsior, Tupi e Globo, deram notoriedade a uma das gerações mais
vigorosas da música popular brasileira. Artista mais proeminente da Jovem
Guarda (uma ingênua, mas divertida, versão brasileira do rock), Roberto Carlos
partia em busca de um público mais maduro com Roberto Carlos, de 1969, disco
recheado de canções românticas.
Ziraldo lança o gibi Pererê, a primeira a
refletir toda a euforia de uma época, com personagens tipicamente brasileiros.
Henfil cria Os Fradinhos. Mauricio de Sousa cria os personagens Mônica, Cascão
e Chico Bento. O maior mito do cinema novo, Glauber Rocha torna-se símbolo de
sucesso do cinema brasileiro no exterior com os filmes Deus e o Diabo na Terra
do Sol, Terra em Transe, Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. A bossa
nova viajou muito bem para os EUA, onde todo mundo dançava o twist. O destaque
era para o talento elegantíssimo de Tom Jobim e o canto de João Gilberto. No
comando da Jovem Guarda, Roberto e Erasmo Carlos arrebatam as paradas com
versões de rock estrangeiros, doces baladas e novos padrões de comportamento
jovem. Armados de guitarras e discursos inflamados, Caetano Veloso e Gilberto
Gil semeiam a polêmica nos festivais de MPB, colhem prestígio e inventam a
Tropicália.
Nos anos 1960 e 1970, os leitores
brasileiros se habituaram à produção de revistas de histórias em quadrinhos
baseadas em séries televisivas e programas de variedades da televisão. No mesmo
ano em que estreava na televisão brasileira, o popular seriado O Vigilante Rodoviário,
que trazia as aventuras de um policial da polícia rodoviária federal e seu cachorro
Lobo, recebeu versão quadrinizada pelas mãos do desenhista Flávio Colin, para a
Editora Outubro, de São Paulo. A trama policial se passava em cidades brasileiras,
apresentando episódios singelos que emulavam a série televisiva.
Personagem-título da famosa série de TV
brasileira Vigilante Rodoviário,
criada em 1959, mas que só estreou em 1961. Era inspirado, em parte, no cowboy
mascarado brasileiro, o Vingador. O objetivo da série era de concorrer com Rin
Tin Tin, Papai Sabe Tudo e outros. O Vigilante Rodoviário (interpretado por
Carlos Miranda) era um policial das estradas, sempre pilotando sua motocicleta
Harley Davidson ou o carro Simca Chambord. Na garupa, era acompanhado por um
pastor alemão chamado Lobo. A presença do cão policial teve que ser explicada
num episódio, uma vez que a presença de cachorros não era permitida na polícia
da época. Entre os atores convidados para a série estavam Ary Toledo, Stênio
Garcia (que, curiosamente, cerca de 20 anos depois também viveria um herói das
estradas televisivas: o caminhoneiro Bino de Carga Pesada), Juca Chaves, Etty
Fraser, Elísio de Albuquerque, Luiz Guilherme, Geraldo Del Rey, Milton Ribeiro,
Fúlvio Stefanini, Mário Alimari, Lola Brah, Lucy Meirelles, Amândio Silva
Filho, Sérgio Hingst e Tony Campello.
O personagem fora idealizado e dirigido
por Ary Fernandes, inspirado na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo,
criada em 1948 por Ademar de Barros, governador de São Paulo, para dar emprego
aos Pracinhas por lutarem na Segunda Guerra Mundial. A série chegou aos gibis
em 1963 e contava as aventuras do Inspetor Carlos (Carlos Miranda) e seu cão
Lobo (King), que lutava contra o crime sobre uma moto Harley Davidson 1952 ou
em um possante carro Simca Chambord ano 1959. Foram produzidos em película
cinematográfica (mais cenas) 38 episódios, que seria depois reprisados pelas
emissoras Excelsior, Cultura, Globo e Record. Flavio Colin adaptou os primeiros roteiros da TV. Depois, foi
substituido por Osvaldo Talo a partir do número nove. Quando vigilante
rodoviário saiu, a Outubro já publicava o gibi do Capitão 7, super herói vivido
pelo ator e ex lutador de boxe Aires Campos, na TV Record, que liderava a
audiência das19h em SP durante seis anos a partir de 1955. O seriado foi um
grande sucesso, mas os políticos da época o tornaram inviável financeiramente:
antes mesmo de completar a primeira temporada, aumentaram os custos das fitas,
graças às instruções 204 e 208, promulgadas por Jânio Quadros. Ou seja, taxaram
os produtos importados em 100%, aumentando absurdamente o valor dos materiais
utilizados na realização do "show". Para pegar carona no sucesso de
TV, a Editora Outubro, dirigida por Jayme Cortez e Miguel Penteado, produziu um
gibi do Vigilante Rodoviário. Os roteiros de Gedeone Malagola eram bem fieis às
tramas da TV. No início, os desenhos ficaram a cargo de Flavio Colin e posteriormente
passaram para Osvaldo Talo, que assumiria também os roteiros. O título teve 12
edições e um almanaque, publicado entre 1962 e 1964.
O primeiro super-herói brasileiro nasceu
na TV Record de São Paulo: Capitão 7.
Estreou em 24 de outubro de 1954 e durou até o ano de 1966 – 12 anos no ar -,
atingindo 503 episódios, alguns alcançando a marca de 92% de audiência no
horário. Idealizado pelo diretor Rubens Biáfora, o personagem foi inspirado em
heróis dos quadrinhos americanos como Superman e Flash Gordon. Estrelado pelo
galã Ayres Campos que se revelou melhor empresário que artista. Patenteou a
personagem e o licenciou para vários produtos e arranjou um patrocinador para o
programa, o leite Vigor. Um produto altamente consumido pelas crianças, logo o
gibi Capitão 7 também seria licenciado. No papel da namorada do protagonista, a
atriz Idalina de Oliveira. O gibi inspirado na série chegou às bancas em
novembro de 1959, lançado pela editora paulistana Continental. O primeiro
número foi produzido pelo luso-brasileiro Jayme Cortez, mas artistas como Julio
Shimamoto, Getúlio Delphim e Juarez Odilon se revezavam na equipe de criação da
revista. O herói passou a voar sozinho, sem a utilização de espaçonave, e
erguer pesos indescritíveis com seus poderosos braços. Em sua identidade civil,
ele era o cientista químico Carlos. Ainda criança, ele ganhou seus poderes de
um alienígena, que o levou para ser educado e treinado em outro planeta. A
revista chegou a estampar o rótulo do patrocinador, bem como o de camisetas e fantasias
para crianças. Na época, Aires Campos se preocupava em manter uma fábrica de
uniformes do herói, com fantasias até hoje de todos os outros super heróis no
Brasil. O personagem usava um uniforme, malha colante azul com o número sete em
amarelo no peito. O capacete, uma mascara nos olhos e um bigode apareceram
apenas nos primeiros episódios da série. Mais tarde, o herói passou a aparecer
de cara limpa. De olho no sucesso da revista, a fábrica de brinquedos Estrela
encomendou à Continental a produção do gibi de outro herói, o Capitão Estrela,
de Juarez e Cortez. O gibi do Capitão 7 durou até meados de 1964. Foram 60
edições e o super herói só voltou às páginas impressas em março de 2010, como
forma de resgate e homenagem a um dos personagens mais icônicos do Brasil,
sendo apresentada a uma nova geração de leitores na revista Almanaque Meteoro
n.01. O gibi só acabou porque o próprio Ayres Campos proibiu a publicação. O
ator alegou que não recebia royalties pelo uso da imagem do herói. O personagem
também foi escrito por Gedeone Malagola e Helena Fonseca. Desenhada também por
Osvaldo Talo e Sergio Lima. Nos quadrinhos o Capitão Sete teve um único
uniforme que ele guardava comprimido numa caixa de fósforos, era o tímido
químico Carlos, namorado de Silvana, a filha de um tenente da Interpol. O super
herói se parecia com o Super Homem, quando voava, ainda mais por usar também um
uniforme azul. Curiosidade: o número do Capitão é uma referência à TV Record,
sintonizada no canal 7 paulistano. Assim era fácil lembrar que ele era o
"herói do 7" ou "herói da Record".
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