04 dezembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (07)


Outro artista do cinema brasileiro a também ir parar nos quadrinhos foi Mazzaropi, neles apresentado na caracterização de caipira que o consagrou e tornou conhecido em todos os rincões do país, como o chapéu de palha, as botas e as calças com remendos. Amácio Mazzaropi (1912-1981) foi um ator e cineasta brasileiro, comediante que interpretava o caipira do interior paulista. Ele ficou conhecido por seu programa chamado Rancho da Alegria, que começou na Rádio Tupi em 1946 e depois foi adaptado para a televisão em 1950. Dois anos depois, Mazzaropi estreava seu primeiro filme chamado Sai da Frente. Popular e dono de bilheterias que fariam inveja nos dias de hoje, ele fez sucesso ao interpretar a figura do caipira, do homem simples, mas esperto, vindo do campo. 


Depois de tantos sucessos em mídias diferentes, em 1956 a Editora La Selva lançou o gibi do Mazzaropi. As histórias que o ator vivia nos quadrinhos eram aventuras cômicas. A primeira parte da revista durou até 1958 e mais tarde ela retornou e foi publicada de 1965 até 1967. Mazzaropi em Quadrinhos chegou às bancas em 1956, desenhada por Jayme Cortez. A equipe da revista utilizava fotos do comediante como base para o desenho. A revista Mazzaropi durou 14 números e foi até 1958. Depois, teve uma segunda fase que estreou em 1965 e durou mais 20 números, totalizando 34 edições deste que é um dos maiores nomes do cinema nacional.






Anjo é detetive dos programas da Rádio Nacional que, mais tarde, foi transformado em quadrinhos (pela RGE) e filme. O personagem foi criado em 1948 para o rádio pelo ator Álvaro Aguiar (1926-1988), que também o interpretou. Roteiro do produtor de radio e tevê, Péricles Leal. O programa, Aventuras do Anjo, permaneceu no ar durante 17 anos, indo ao ar de segunda a sexta-feira, entre 18h25 e 18h30. Bebendo nas águas do Santo, mas com personalidade própria, o Anjo (seu verdadeiro nome não era revelado) era um playboy americano louro que tinha como passatempo combater o crime, sempre auxiliado por fiéis colaboradores. No início, seus ajudantes eram Metralha (tinha esse apelido porque sempre andava com uma simpática metralhadora), Campeão e Gorila. Depois, Gorila e Campeão foram substituídos por Jarbas e Faísca.  Teve a sua estréia em gibi em 1959 e a sua ultima publicação foi em 1965, num total de 73 exemplares. Em 1959 houve uma adaptação para os gibis da RGE, com desenhos de Flavio Colin (1930-2002), depois substituído por Getulio Delphin. A maior diferença em relação ao show do rádio era que, nos quadrinhos, as peripécias do Anjo se passavam no Brasil. Teve 43 números. O Anjo foi parar no cinema em 1990, no filme O Escorpião Escarlate, de Ivan Cardoso. O curioso é que, na fita, o nome civil do Detetive Milionário é justamente Álvaro Aguiar (vivido por Herson Capri).




Jerônimo, o Heroi do Sertão:  Ele foi durante muitos anos um dos maiores sucessos da Rádio Nacional. Depois ganhou imagem e repetiu o sucesso na TV Tupi. Laços de Sangue foi a primeira aventura de Jerônimo apresentada na televisão e tendo no elenco Francisco di Franco (na papel de Jerônimo), Canarinho (Moleque Saci), Eva Christian (Aninha), entre outros. Paladino da justiça e andarilho dos sertões brasileiros, Jerônimo estava sempre à disposição, onde quer que o bem precisasse triunfar. Tendo ao lado o inseparável ajudante Moleque Saci, foi um herói de quadrinhos criado em 1953 e que em 1957 e fez a alegria dos leitores de quadrinhos durante 62 edições mensais e cinco almanaques especiais, escritos pelo próprio autor da novela, Moysés Weltman, desenhados por Edmundo Rodrigues (1935-2012) e publicados pela RGE. Mas o sucesso não se restringia às HQs: o País inteiro parava em frente ao rádio para ouvir a novela radiofônica - que inspirou a revista -, e até mesmo um disco com uma canção em sua homenagem foi gravado. Como se não bastasse, em 1972 a extinta TV Tupi apresentou uma versão televisiva de suas aventuras. Esse ilustre esquecido chamava-se Jerônimo, o herói do Sertão. Jerônimo está longe de ser um caso isolado de personagens que, apesar de gozarem de estrondoso sucesso no mercado editorial brasileiro durante muito tempo, amargam hoje um desmerecido ostracismo. E isso não se restringe a criações nacionais, pois muitos ícones mundiais também estão quase apagados da memória dos fãs e, pior, são completamente desconhecidos por leitores que já atravessam várias gerações.




Entre os anos de 1956 e 1959, as tirinhas do Dr. Macarra de Carlos Estevão (1921-1972) faziam a alegria dos leitores do jornal, nas páginas de política do Diário de Pernambuco. As histórias do Dr. Macarra tinham sempre o mesmo formato: no primeiro quadro, a figura conversa com alguém e sempre se gaba de alguma coisa. No outro quadro, a realidade nua e crua. Na verdade, o Dr. Macarra nunca mentia. O interlocutor é que pensasse o que quisesse. O personagem era um malandro metido a granfino, refinado, vivia contando vantagens. No primeiro quadrinho, Macarra mente descaradamente. No segundo, Estevão mostrava a realidade dos fatos. Personagem tipicamente carioca, reuniu características bem próprios do malandro. Carlos Estêvão desenhava sempre em dois planos: um em que aparecia a personalidade aparente do Dr. Macarra; e. como uma sombra, a projeção de sua verdadeira personalidade. Dr. Macarra, de Carlos Estêvão ganhou uma revista em quadrinhos própria em abril de 1962, pela Editora O Cruzeiro. O gibi tinha 32 páginas em preto e branco, mais quatro capas coloridas. Circulou até novembro do mesmo ano. Foram oito edições mensais que levaram Carlos Estêvão às férias. E ele nunca mais quis saber de fazer uma revista inteirinha sozinho. Dr. Macarra era um mentiroso descarado. Se apresentava sempre de branco, paletó e gravata. As situações eram narradas em dois momentos. O primeiro, com ele se gabando das aventuras e o segundo mostrando as conseqüências do que realmente havia ocorrido. A revista apresentava outras séries vindas de O Cruzeiro, como As Aparências Enganam, Ser Mulher, Herois da noite e outros. E alem disso, cartuns avulsos, histórias em quadrinhos inéditas e dois novos personagens: Cabo Frio, o Galante e Sherlock Halmes. Personagem falastrão iludia seus interlocutores com seus exageros e invencionices. Na primeira vinheta da história, ele aparecia contando lorotas e, na seguinte, o leitor testemunhava o que realmente tinha acontecido. O personagem contava proezas mirabolantes a seus crédulos ouvintes, ganhando méritos por algo que nunca fez e por uma cultura e uma coragem que fingia possuir. As relações humanas no cotidiano, principalmente entre homens e mulheres, eram situações comuns tratado pelo autor.


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