ANOS
80
Oitenta foi a década dos anseios e das
interpretações e pode ser definida por uma palavra: pós-moderno. Signo do
vale-tudo da década, esse jargão funcionou como um abre-te sésamo para explicar
qualquer coisa. E para caracterizar as inovações e o estilo de vida desses anos
de paródia e marketing do passado reciclado. Compact discs, videoclip,
videocassete, antena parabólica, fax, computador pessoal, TV a cabo, controle
remoto.
Livres, agressivas, as mulheres
irromperam, nos primórdios da década, determinadas a garantir seu espaço. Sônia
Braga, Xuxa, Luma de Oliveira e Luiza Brunet se destacaram aqui e lá fora. Um
inimigo microscópio, capaz de matar o homem em menos de um ano, mobilizou
médicos de todo o mundo: o HIV, vírus da Aids. E não há qualquer droga capaz de
destruí-lo ou impedir sua multiplicação em níveis não letais.
Além da década da democracia, os anos 80
foram também a década do meio ambiente – da expansão planetária da consciência
ecológica. Começando a perder o medo de ser negra, a Bahia atravessou a década
no passo do Ilê Ayê e do Olodum, que ocuparam as ruas num rito de contagiante
liberdade. Nos quadrinhos, os vilões ganharam projeção. Muitos desenhistas
fixaram a loucura da década sob o signo das artes plásticas nas HQs. As graphic
novels (edições de luxo das novelas gráficas) invadiram as livrarias,
aumentando a média etária dos leitores. Ninguém mais diz que quadrinhos é coisa
de criança.
Na esteira do êxito de Rita Lee, o rock
nacional ganha força e qualidade inéditas e consagra-se como o mais recente
movimento a mudar o panorama da música brasileira.
Ao longo da década de 1980, cartunistas como
Angeli, Glauco e Laerte imaginaram tipos que fazem sátira ao comportamento da classe
média apática, hipócrita e consumista. As tramas dos quadrinhos de humor
publicados por esses artistas nas revistas da Circo Editorial se passam no
ambiente urbano. A cidade de São Paulo é o lugar em que surgem personagens como
o consumista e inseguro Geraldão (do cartunista Glauco), os anárquicos Piratas
do Tietê (de Laerte), a além da boêmia Rê Bordosa e do punk Bob Cuspe, concebidos
por Angeli. Os personagens masculinos representam as mudanças enfrentadas pelo
homem: o machista inveterado e crepuscular, os hippies envelhecidos, o
militante de esquerda que não se adapta aos novos tempos marcados pela democracia
ou o hedonista que dança diante do espelho para apreciar a própria imagem. As
mulheres, se já não são mais donas de casa submissas, enfrentam a solidão da
cidade e das relações frias e de curta duração. O espaço típico onde esses
personagens vivem seus dramas é o condomínio, microcosmo que oferece uma falsa
sensação de segurança. Há, também, aqueles que se revoltam ou vivem à margem
dessa sociedade, como os piratas que navegam no principal rio de São Paulo, o
poluído Tietê, ou o punk que habita os esgotos da metrópole e percorre as ruas sujas,
entulhadas com os detritos que já foram mercadorias. Seu grito de protesto ecoa
pelas paredes de concreto que revestem os edifícios-montanhas que abrigam os
trogloditas modernos, mas, limitado pelos muros
Analista
de Bagé: Personagem
mais multimídia do escritor Luis Fernando Verissimo. Começou como crônica, teve
longa vida no teatro e várias histórias produzidas em quadrinhos a partir de
1983.
Condomínio – Série criada
por Laerte com os habitantes do Condomínio (o Síndico, o Zelador) para o jornal
O Estado de S.Paulo na década de 1980, e depois nas revistas Piratas do Tietê e
Striptiras. O Condomínio foi o primeiro núcleo de tiras que ele fez. Teve essa
idéia quando foi morar num prédio pela primeira vez, mais ou menos em 1973; lá
conheceu um síndico e um zelador muito parecidos com o Síndico e o Zelador das
tiras.
Dora
Mulata
– Quadrinho criado pelo cartunista baiano Lage (1946-2006) na revista
Viverbahia a partir de 1981. A sensual Dora era uma nativa da ilha de
Itaparica, na Bahia. Ela se relaciona com um gringo, um francês e um nativo.
Triângulo amoroso onde ela tinha preferência pelo francês. Foi publicada também
na revista Axé Bahia. Sua maneira objetiva de apresentar, com a simplicidade de
seu traço, os vários problemas diferentes ao ser humano, descrevendo com
capacidade, firmeza os muitos quadros públicos. O olhar “malandro” das suas
personagens, desta vez apresenta o empoderamento da mulher que começa a se
emancipar do machismo da época.
Dr.
Baixada
- Criado por Luscar (Luiz Carlos dos Santos) em 1980, na época do Mão Branca e do Esquadrão
da Morte que atuava na Baixada Fluminense. Capa preta, chapéu e arma na mão,
esse é o Dr. Baixada, sempre atuando — ou no assaltante ou na vítima. A ordem é
apagar, fazer o serviço, sem perguntas e sem que ele próprio saiba a quem
serve.
Mara Tara - Personagem
humorística criada por Angeli para a revista Chiclete com Banana, n.07,
novembro de 1986. Era a primeira história da pacata cientista que se transforma
na pervertida Mara Tara quando acuada. Mara Tara é uma cientista super recatada
e dedicada a sua profissão, no qual ela estava fazendo sua pesquisa sobre O
Sexo das Bactérias, pois ela insistia que "As bactérias têm sexo, como
todos nós...". Mas, em consequência de suas pesquisas, a doutora Mara
contraiu o vírus Ninfus Maniacus e em momentos de alta tensão, seu corpo recebe
grandes mutações, tirando-lhe a consciência e dando a ela formas volumosas.
Sim, Mara Tara transforma-se em uma tarada e obcecada por sexo, momento em que
ela não têm mais consciência de si e ataca todos os homens, que morrem de medo
dela. Suas armas são nada mais que chicotes, meia arrastão, botas de cano longo
e um lindo espartilho preto. Pudica, quando fica excitada, transfigura-se em uma
mulher fatal, obcecada por sexo e que ataca os homens de uma maneira sádica e
devoradora, até matá-los. Ela é uma metáfora exacerbada de mulheres
independente da década de 1980, que intimida os membros do sexo masculino. Basicamente,
a personagem faz uma crítica ao universo urbano, que mostra o homem
contemporâneo super liberal, porém, no fundo, totalmente conservador.
Radical
Chic
- Personagem de cabelo vermelho e curtinho criada pelo cartunista Miguel Paiva.
Irônica e divertida sátira sobre uma típica mulher urbana de trinta anos (que
se auto denomina, "sou um pupurri de emoções"). Seus quadrinhos,
originalmente publicados no suplemento dominical do Jornal do Brasil,
apresentam como temas principais a feminilidade, o sexo, o papel das mulheres
na sociedade e as diferenças entre elas e os homens na maneira de reagir às
situações cotidianas.
Rê
Bordosa
– O cartunista Angeli cria nas páginas do Folha de S.Paulo, a partir de 04 de
abril de 1984, a junkie Rê Bordosa que logo depois vira musa da porralouquice
nacional. Ela era a pin up dos anos 80, a mulher esponja. Em dezembro de 1987 o
criador mata a personagem. Eleita em 1984 a “Pin up do Final do Século” pela
revista Around, a personagem idealizada por Angeli representa a desilusão
sentida pela geração de mulheres que se emancipou da família e dos homens, mas
não conseguiu estabilidade emocional. Rê Bordosa casou com Juvenal, o garçom do
bar onde costumava embriagar-se, mas acabou morrendo de tédio provocado pelo
casamento.
Menino
Maluquinho
– Sem dúvida nenhuma o maior sucesso
de Ziraldo, O Menino Maluquinho surgiu em livro no ano de 1980. Além de livros,
revista, peça de teatro e filmes para cinema, ganhou também sua versão em tiras
diárias em 1989 realizada pelo estúdio Zappin e foi publicado em vários jornais
Brasil afora. Em 1991 a revista saiu quinzenalmente pela Abril com o mesmo nome
do personagem. Desta forma o personagem nasceu de um livro de sucesso.
A história do menino inquieto, que tinha o
olho maior que a barriga e fogo no rabo, publicado pela Editora Melhoramentos,
virou peça de teatro, filmes, videogame, HQ, bonecos, ópera infantil, parque
temático e até minissérie de TV.
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