17 julho 2019

Asterix comemora 60 anos


Criado em 1959 pelo italiano Alberto Uderzo, e por um judeu crescido na Argentina, René Goscinny, a mais francesa das histórias em quadrinhos, Asterix comemora 60 anos no dia 29 de outubro. As aventuras dos gauleses vão ter um ano com várias iniciativas especiais. Uma delas é a publicação de um novo livro, ainda sem título, que chega às livrarias poucos dias antes do aniversário, a 24 de outubro. Está a ser finalizado pelos sucessores de Goscinny e Uderzo, Didier Conrad e Jean-Yves Ferri. É o álbum número 38 das aventuras de Astérix e Obélix.



Ainda em 2019 o universo de Astérix terá ainda reedições de luxo, um audiolivro, um livro de arte relacionado com a saga, e um tributo a estes gauleses de vários ilustradores. Além disso, em janeiro, estreou em Portugal o filme “Astérix e o Segredo da Poção Mágica”. Um dos personagens de quadrinhos mais famosos da França (e do mundo também), Asterix, ganhou uma homenagem nas moedas de dois euros para celebrar os 60 anos de sua criação.

 


Ele nasceu na revista Pilote, como insulto aos livros escolares que contavam as glórias dos gauleses, “antigos franceses”. E acabou adotado como material didático. De insulto, o personagem passou a identidade nacional. Unindo aulas de história com muito humor, os até agora 37 álbuns de Asterix, o Gaulês são um verdadeiro tesouro dos quadrinhos que precisam ser explorados e devorados por todos, além das adaptações para TV e cinema. Além das histórias serem muito boas, elas representavam um sentimento nacional francês. Na década de 1950 o país perdia sua importância para a nova potência mundial, os EUA e Asterix acabou se tornando símbolo da resistência cultural francesa. Publicado no Brasil pela editora Record desde 1983, o personagem clássico Asterix ganhou uma nova casa. Segundo o Universo HQ, a partir de agora a Panini é a nova editora do gaulês em nosso país.



GUERREIRO - Asterix, o gaulês, apareceu pela primeira vez na revista francesa Pilote, em histórias apresentadas em capítulos. O personagem era um guerreiro baixinho e de aparência inofensiva que habitava uma aldeia da Gália (território que compreendia França, Bélgica e a Itália) por volta de 50 a.C. À época, o poderoso império romano já havia invadido a região, mas encontra resistência exatamente da aldeia de Asterix, já que seus habitantes rechaçavam os invasores graças à enorme força que conseguem ao tomar a poção mágica do druida da aldeia.

 


O maior aliado de Asterix é o grandalhão Obelix, que é proibido de tomar a poção mágica, pois caiu dentro do caldeirão da poção quando era bebê e desenvolveu força constante. Ao lado de Obelix e do cãozinho Ideiafix, Asterix viveu inúmeras aventuras ao redor do mundo, contadas em 35 álbuns em quadrinhos que já venderam um total de 325 milhões de exemplares em diversas línguas. A série já rendeu filmes, desenhos animados e um parque temático, além de ganhar alguns dos mais importantes prêmios da indústria dos quadrinhos ao longo dos anos.



Além da força que obtém ao tomar a poção, Asterix também se destaca pela inteligência

Aliados e coadjuvantes: Obelix, seu atrapalhado melhor amigo; Ideiafix, o cãozinho aventureiro; Panoramix, o druida que cria as poções mágicas para a aldeia; Abracurcix, o chefe da aldeia; Chatotorix, o desafinado cantor da aldeia

 


Criado pelo roteirista René Goscinny (1926-1977) e pelo desenhista Albert Uderzo (nascido em 1927), o personagem e suas aventuras pelo mundo antigo foram sucesso imediato, tornando-se uma das BDs (sigla de bande dessinée que, em tradução literal significa “tira desenhada” ou, na tradução mais correta, simplesmente histórias em quadrinhos) mais famosas do mundo. O primeiro álbum, publicado em 1961 (Asterix, o Gaulês, contendo material dos números 1 a 38 da Pilote), vendeu 6 mil cópias na França à época de seu lançamento. O segundo álbum, A Foice de Ouro, publicado em 1962, vendeu 20 mil cópias. Só aí, com a triplicação das vendas em apenas um ano na década de 60, é possível notar o quão influente a obra da dupla Goscinny/Uderzo seria. E não deu outra. O nono álbum, Asterix e os Normandos, de 1967, vendeu impressionantes 1,2 milhões de cópias não durante o ano de seu lançamento, mas em apenas dois dias.



Asterix continuaria sendo publicado basicamente na proporção de um álbum por ano até 1979, com Asterix na Bélgica, o último álbum contando com o desenhista René Goscinny, que morrera em 1977, em meio à produção. Mas Albert Uderzo continuou sozinho, assumindo o manto de escritor também e, mesmo com menos qualidade, manteve seus personagens vivos até 2005, ainda que com maior espaçamento entre cada publicação. Somente em 2013, Uderzo passou o bastão adiante, permitindo que o primeiro álbum sem sua participação direta fosse lançado: Asterix e os Pictos com desenhos de Didier Conrad e Jean-Yves Ferri.

 


Goscinny também roteirizou outros personagens que fizeram sucesso nos quadrinhos, como Lucky Luke, personagem criado pelo desenhista Morris (Maurice de Bevère), em 1946, que satirizava os cowboys americanos (Goscinny passa a escrever a partir da década de 50), e Iznogoud, criado em 1962 (desenhado por Jean Tabary), grão-vizir que queria ser califa e elaborava planos para usurpar o trono. Goscinny exercitou toda sua verve cômica e seu pendor para trocadilhos, que abundam na história. Mesmo os nomes dos personagens são trocadilhos. Asterix vem de asterisco e Obelix vem de Obelisco. A dupla tem um cachorro de estimação, Ideiafix, que ganhou esse nome por tinha a ideia fixa de segui-los para onde quer que eles fossem. Na história, todos os gauleses têm nomes terminados em ¨ix¨, os romanos nomes terminados em ¨us¨ (Acendealuz, Apagaluz, etc).



As histórias de Asterix ganharam as salas de cinema nos anos 60. O primeiro desenho animado foi “Asterix, o gaulês” (1967). Em 1999, o diretor Claude Zidi transpôs para as telas os personagens em carne e osso em “Asterix e Obelix contra César”, com Christian Clavier no papel de Asterix e Gérard Depardieu como Obelix. Os números relativos à Asterix são grandiosos: 37 álbuns, oito longas animados e quatro filmes (sempre com Depardieu no papel de Obelix). As histórias foram traduzidas para 83 línguas e os álbuns já venderam 350 milhões de exemplares em todo o planeta e inspiraram jogos, brinquedos e um parque temático, localizado nos arredores de Paris.

 


Mary Beard – especialista no mundo romano da Universidade de Cambridge (leia uma entrevista com ela em espanhol) – se perguntava em seu último livro, Confronting the classics (Confrontando os clássicos, em tradução livre, não publicado no Brasil), sobre o motivo do sucesso de Asterix e também sobre a dificuldade para exportar a historieta aos Estados Unidos, um dos últimos lugares do Ocidente imunes à poção mágica e, em geral, à chamada linha clara europeia (tipo história em quadrinhos feita com desenhos de linhas de espessura uniforme, narrativa linear e bem-humorada e temática que privilegia a aventura e referências históricas). "Asterix é selvagemente europeu", explicava Beard. "O legado do Império Romano proporciona um marco dentro da cultura popular para que os diferentes países europeus falem sobre cada um deles, sobre sua história e seus mitos compartilhados". Como diriam os Monty Python, o sucesso do povo gaulês se explica pelo que os romanos fizeram por nós, pelas marcas – culturais e não apenas linguísticas – que Roma deixou.




Nenhum comentário: