Criado em 1959 pelo italiano Alberto
Uderzo, e por um judeu crescido na Argentina, René Goscinny, a mais francesa
das histórias em quadrinhos, Asterix comemora 60 anos no dia 29 de outubro. As
aventuras dos gauleses vão ter um ano com várias iniciativas especiais. Uma
delas é a publicação de um novo livro, ainda sem título, que chega às livrarias
poucos dias antes do aniversário, a 24 de outubro. Está a ser finalizado pelos
sucessores de Goscinny e Uderzo, Didier Conrad e Jean-Yves Ferri. É o álbum
número 38 das aventuras de Astérix e Obélix.
Ainda em 2019 o universo de Astérix terá
ainda reedições de luxo, um audiolivro, um livro de arte relacionado com a
saga, e um tributo a estes gauleses de vários ilustradores. Além disso, em
janeiro, estreou em Portugal o filme “Astérix e o Segredo da Poção Mágica”. Um
dos personagens de quadrinhos mais famosos da França (e do mundo também),
Asterix, ganhou uma homenagem nas moedas de dois euros para celebrar os 60 anos
de sua criação.
Ele nasceu na revista Pilote, como insulto
aos livros escolares que contavam as glórias dos gauleses, “antigos franceses”.
E acabou adotado como material didático. De insulto, o personagem passou a
identidade nacional. Unindo aulas de história com muito humor, os até agora 37
álbuns de Asterix, o Gaulês são um verdadeiro tesouro dos quadrinhos que
precisam ser explorados e devorados por todos, além das adaptações para TV e
cinema. Além das histórias serem muito boas, elas representavam um sentimento
nacional francês. Na década de 1950 o país perdia sua importância para a nova
potência mundial, os EUA e Asterix acabou se tornando símbolo da resistência
cultural francesa. Publicado no Brasil pela editora Record desde 1983, o
personagem clássico Asterix ganhou uma nova casa. Segundo o Universo HQ, a
partir de agora a Panini é a nova editora do gaulês em nosso país.
GUERREIRO - Asterix, o gaulês, apareceu
pela primeira vez na revista francesa Pilote, em histórias apresentadas em
capítulos. O personagem era um guerreiro baixinho e de aparência inofensiva que
habitava uma aldeia da Gália (território que compreendia França, Bélgica e a
Itália) por volta de 50 a.C. À época, o poderoso império romano já havia
invadido a região, mas encontra resistência exatamente da aldeia de Asterix, já
que seus habitantes rechaçavam os invasores graças à enorme força que conseguem
ao tomar a poção mágica do druida da aldeia.
O maior aliado de Asterix é o grandalhão
Obelix, que é proibido de tomar a poção mágica, pois caiu dentro do caldeirão
da poção quando era bebê e desenvolveu força constante. Ao lado de Obelix e do
cãozinho Ideiafix, Asterix viveu inúmeras aventuras ao redor do mundo, contadas
em 35 álbuns em quadrinhos que já venderam um total de 325 milhões de
exemplares em diversas línguas. A série já rendeu filmes, desenhos animados e
um parque temático, além de ganhar alguns dos mais importantes prêmios da
indústria dos quadrinhos ao longo dos anos.
Além da força que obtém ao tomar a poção,
Asterix também se destaca pela inteligência
Aliados e coadjuvantes: Obelix, seu
atrapalhado melhor amigo; Ideiafix, o cãozinho aventureiro; Panoramix, o druida
que cria as poções mágicas para a aldeia; Abracurcix, o chefe da aldeia;
Chatotorix, o desafinado cantor da aldeia
Criado pelo roteirista René Goscinny
(1926-1977) e pelo desenhista Albert Uderzo (nascido em 1927), o personagem e
suas aventuras pelo mundo antigo foram sucesso imediato, tornando-se uma das
BDs (sigla de bande dessinée que, em tradução literal significa “tira
desenhada” ou, na tradução mais correta, simplesmente histórias em quadrinhos)
mais famosas do mundo. O primeiro álbum, publicado em 1961 (Asterix, o Gaulês,
contendo material dos números 1 a 38 da Pilote), vendeu 6 mil cópias na França
à época de seu lançamento. O segundo álbum, A Foice de Ouro, publicado em 1962,
vendeu 20 mil cópias. Só aí, com a triplicação das vendas em apenas um ano na
década de 60, é possível notar o quão influente a obra da dupla Goscinny/Uderzo
seria. E não deu outra. O nono álbum, Asterix e os Normandos, de 1967, vendeu
impressionantes 1,2 milhões de cópias não durante o ano de seu lançamento, mas
em apenas dois dias.
Asterix continuaria sendo publicado
basicamente na proporção de um álbum por ano até 1979, com Asterix na Bélgica,
o último álbum contando com o desenhista René Goscinny, que morrera em 1977, em
meio à produção. Mas Albert Uderzo continuou sozinho, assumindo o manto de
escritor também e, mesmo com menos qualidade, manteve seus personagens vivos até
2005, ainda que com maior espaçamento entre cada publicação. Somente em 2013,
Uderzo passou o bastão adiante, permitindo que o primeiro álbum sem sua
participação direta fosse lançado: Asterix e os Pictos com desenhos de Didier
Conrad e Jean-Yves Ferri.
Goscinny também roteirizou outros
personagens que fizeram sucesso nos quadrinhos, como Lucky Luke, personagem
criado pelo desenhista Morris (Maurice de Bevère), em 1946, que satirizava os
cowboys americanos (Goscinny passa a escrever a partir da década de 50), e
Iznogoud, criado em 1962 (desenhado por Jean Tabary), grão-vizir que queria ser
califa e elaborava planos para usurpar o trono. Goscinny exercitou toda sua
verve cômica e seu pendor para trocadilhos, que abundam na história. Mesmo os
nomes dos personagens são trocadilhos. Asterix vem de asterisco e Obelix vem de
Obelisco. A dupla tem um cachorro de estimação, Ideiafix, que ganhou esse nome
por tinha a ideia fixa de segui-los para onde quer que eles fossem. Na
história, todos os gauleses têm nomes terminados em ¨ix¨, os romanos nomes
terminados em ¨us¨ (Acendealuz, Apagaluz, etc).
As histórias de Asterix ganharam as salas
de cinema nos anos 60. O primeiro desenho animado foi “Asterix, o gaulês”
(1967). Em 1999, o diretor Claude Zidi transpôs para as telas os personagens em
carne e osso em “Asterix e Obelix contra César”, com Christian Clavier no papel
de Asterix e Gérard Depardieu como Obelix. Os números relativos à Asterix são
grandiosos: 37 álbuns, oito longas animados e quatro filmes (sempre com Depardieu
no papel de Obelix). As histórias foram traduzidas para 83 línguas e os álbuns
já venderam 350 milhões de exemplares em todo o planeta e inspiraram jogos,
brinquedos e um parque temático, localizado nos arredores de Paris.
Mary Beard – especialista no mundo romano
da Universidade de Cambridge (leia uma entrevista com ela em espanhol) – se
perguntava em seu último livro, Confronting the classics (Confrontando os
clássicos, em tradução livre, não publicado no Brasil), sobre o motivo do
sucesso de Asterix e também sobre a dificuldade para exportar a historieta aos
Estados Unidos, um dos últimos lugares do Ocidente imunes à poção mágica e, em
geral, à chamada linha clara europeia (tipo história em quadrinhos feita com
desenhos de linhas de espessura uniforme, narrativa linear e bem-humorada e
temática que privilegia a aventura e referências históricas). "Asterix é
selvagemente europeu", explicava Beard. "O legado do Império Romano
proporciona um marco dentro da cultura popular para que os diferentes países
europeus falem sobre cada um deles, sobre sua história e seus mitos
compartilhados". Como diriam os Monty Python, o sucesso do povo gaulês se
explica pelo que os romanos fizeram por nós, pelas marcas – culturais e não
apenas linguísticas – que Roma deixou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário