Hoje, dia 02 de dezembro se
comemora o Dia Nacional do Samba. O samba surgiu na Bahia, mas se popularizou
nacionalmente através do Rio de Janeiro, que, com uma indústria fonográfica
forte, teve um papel fundamental na divulgação dessa música. Ao primeiro toque
do tambor, homens e mulheres se colocavam a postos, em círculos. E iam se
alternando no centro da roda, dançando sozinhos ou em pares, enquanto os outros
acompanhavam em palmas. “A dança consiste num bambolear sereno do corpo,
acompanhado de um pequeno movimento dos pés, da cabeça e dos braços. Estes
movimentos aceleram-se, conforme a música se torna mais viva e arrebatada, e,
em breve, se admira um prodigioso saracotear de quadris”, informa o antropólogo
Edison Carneiro em seu livro “Samba de umbigada”. Quando dançam sozinhos,
convidam outro a substituí-lo com uma umbigada, que chamam de “semba”.
Filho legítimo das danças
africanas, especialmente dos povos de língua banto, o samba veio dos batuques e
lundus. Onde se plantava cana, tabaco, algodão, café e minas de ouro, havia negros
e onde havia negros, havia dança e música, lembra Carneiro. Assim, os batuques
foram se espalhando pelo país e se misturando com sonoridades e danças dos
portugueses e dos índios, dando origem ao coco (no Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco e Alagoas), ao jongo (no Rio, São Paulo, Minas e Goiás) e
ao samba (no Maranhão, Bahia, Guanabara e São Paulo), afirma o pesquisador.
Considerado obscena, ofensivo, os
sambas eram vistos como locais de orgia e bebedeira, dignos da mais severa
perseguição. Apesar de tudo, o samba sobreviveu. Os negros eram a maioria da
população e o samba, a forma que eles conheciam de celebrar, se divertir,
brincar. E apesar da base africana, o samba é natural do Brasil, onde descobriu
novos instrumentos, coreografias e sotaques.
Os pesquisadores são unânimes em
afirmar que o centro de tudo, o local onde o samba ganhou vida foi no recôncavo
baiano, onde a música estava nas plantações, na pesca, na hora de construir, no
lazer. O samba, naquela época cadenciava o trabalho. O coração do samba no
recôncavo é a região que inclui Santo Amaro, Acupe, Santiago do Iguape e
Cachoeira. E foi de Cachoeira que saiu Hilária Batista de Almeida, ou Tia
Ciata, a mulata baiana que, no começo do século XX, ensinou o Brasil a sambar.
Ela promovia em sua casa festas onde estava presentes os grandes músicos da
época e foi lá que surgiu “Pelo Telefone”, o samba que lançaria no mercado
fonográfico um novo gênero musical. A gravação de Donga foi em 1917, mas antes
dele, em 1902, o santo-amarense Baiano foi o responsável pela primeira gravação
feita no Brasil, o lundu “Isto é Bom”, do baiano Xisto Bahia. A partir daí o
samba se espalhou por todo o país.
Há várias vertentes do samba como
o choro, um samba em forma de canção, ou a bossa nova, ritmia do samba a
serviço do requinte melódico da região. O samba de roda foi a grande fonte de
inspiração do pagode baiano, assim como o samba duro e o pagode carioca.
Depois que a Unesco reconheceu o
samba de roda como Obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial
da Humanidade,
todas as atenções se voltaram para essa expressão cultural que, desde os tempos
da escravidão, floresce no entorno da Baía de Todos os Santos. O samba de roda
do Recôncavo Baiano sobrevive em dezenas pequenas comunidades interioranas, sendo
a principal manifestação folclórica nas datas festivas, comemorações do dia a
dia ou nos batuques que animam o encontro de amigos nos butecos.
“Desde que o Samba é Samba”,
composição do mano Caetano diz: “A tristeza é senhora,/Desde que o samba é samba
é assim/A lágrima clara sobre a pele escura,/a noite e a chuva que cai lá
fora/Solidão apavora,/tudo demorando em ser tão ruim/Mas alguma coisa
acontece,/no quando agora em mim /Cantando eu mando a tristeza embora//O samba
ainda vai nascer,/O samba ainda não chegou/O samba não vai morrer,/veja o dia
ainda não raiou//O samba é o pai do prazer,/o samba é o filho da dor/O grande
poder transformador”.
Caetano Veloso, Maria Bethânia,
Gilberto Gil, Roberto Mendes e outros artistas baianos já se renderam à beleza
do ritmo tendo gravado vários samba de roda. De raiz africana, era a diversão
dos escravos e se subdivide em vários formatos como a chula, o samba de
corrida, o de parada, de quadra, o samba duro, entre outros. O samba não é
apenas um ritmo, é algo mais que uma simples música, ele evidencia o sentimento
de um povo, uma espécie de herança que passa de gerações a gerações sendo,
portanto, um conjunto de emoções.
O poeta Vinícius de Moraes
sintetizou, com extrema felicidade, a origem do samba brasileiro, seu
compromisso com a herança africana e as contribuições que lhe foram trazidas
pela cultura europeia, ao dizer que “o samba nasceu lá na Bahia e se hoje é
branco na poesia, ele é negro demais no coração...”.E Zé Keti completa: “Eu sou
o samba/A voz do morro sou eu mesmo sim senhor/Quero mostrar ao mundo que tenho
valor/Eu sou o rei do terreiro/Eu sou o samba/Sou natural daqui do Rio de
Janeiro/Sou eu quem levo a alegria/Para milhões de corações brasileiros/Salve o
samba, queremos samba/Quem está pedindo é a voz do povo de um país/Salve o
samba, queremos samba/Essa melodia de um Brasil feliz”.
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