É antiga a polêmica sobre a distinção entre erotismo e pornografia. Os dois termos pretendem descrever um conjunto de sensações, sentimentos, ideias e atitudes relacionados à temática sexual e suas figurações, mas, entre eles, existem grandes diferenças. A pornografias origina-se do grego pornographos, que significa “escritos sobre prostitutas”, sendo este um gênero fundado no século II pelo escritor grego Luciano em “Diálogo das Cortesãs”. Já a palavra erotismo, derivada de Eros, deus grego do amor e paixão carnais, surgiu apenas no século XIX.
No imaginário ocidental persiste a ideia de que é possível (e desejável) distinguir o pornográfico do erótico visando uma separação sutil. E a própria origem dos termos demonstra essa diferenciação. Assim, a pornografia passou a figurar como o que transforma sexo em produto de consumo, e está ligada ao mundo da prostituição e busca a excitação dos apetites mais “desregrados” e “imorais”. Evoca assim uma ideia mais carnal, sensual, comercial, e “explícita” que o erotismo. Já o erotismo tenderia ao sublime, espiritualizado, delicado, sentimental e sugestivo.
A pornografia e o erotismo transitam sempre em terreno marcado pelas contradições, um território não-determinado, uma fronteira entre situações opostas, a tensão entre polaridades. Ao se instalarem, o fazem sempre como uma transgressão das interdições que também são, por sua vez, parte de um conjunto de contradições. Essa impossibilidade de traçar limites precisos entre o erótico e o pornográfico é, a meu ver, sinal de sensatez e um bom ponto de partida, tendo em vista as contradições, o jogo semântico que cerca o uso social dessas palavras, a forma dialética com a história tem tratado do assunto.
Não é fácil estabelecer o limite entre o erotismo e pornografia, na medida em que ele varia com as épocas e segundo os indivíduos. Os excessos cometidos em nome do erotismo nas letras e artes nestes últimos anos correm o risco de tornar questionáveis liberdades penosamente adquiridas. Alguns sonham com uma volta ao puritanismo e à proibição, enquanto há quem defenda a tolerância incondicional.
O erotismo e a pornografia residem não na palavra escrita, não em representações desenhadas, pintadas ou esculpidas, e não em fotografias – ou seja, em nada do que está contido nas páginas deste livro – mas sim na mente do observador.
O erotismo e a pornografia têm muito a dizer-nos sobre a nossa própria natureza como seres humanos, sobre o contexto atual em que vivemos, e muito para agradar ao sentido estético. Podemos tapar os olhos e os ouvidos, que não desaparecem. O erotismo e a pornografia são parte impossível de desatar da estrutura do mundo contemporâneo.
O imaginário do erótico e pornográfico continua a perturbar o intelecto, a imaginação e mesmo até os sonhos da sociedade contemporânea. Pode-se-ia dizer com segurança que nenhum outro tipo de imaginário tem um poder equivalente. E nenhum nos leva tão diretamente às fontes da personalidade humana ou, até mesmo, às fontes da própria vida.
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