A partir de sua paixão pelas autora, o escritor norte americano Benjamin Moser escreveu a biografia de Clarice Lispector. Foram cinco anos ininterruptos de pesquisas sobre a vida e a obra dessa escritora, na tentativa de resgatar detalhes preciosos sobre a enigmática Clarice. Why this world (Por que esse mundo?) é o título da versão original do livro. Traduzido e publicado no Brasil pela Cosac Naify, sob o título de Clarice, ou seja, “Clarice virgula”. A vida de Clarice Lispector não comporta um ponto final.
Na introdução das biografia intitulada “A Esfinge”, Moser escreveu que Clatice Lispector “já chegou a ser considerado um pseudônimo, e seu nome original só foi conhecido depois de sua morte. Onde exatamente ela nasceu e quantos anos tinha também eram pontos poucos claros. Sua nacionalidade era questionado, e a identidade de sua língua nativa era obscura. Uma autoridade atestara que era de direita, e outra, que era comunista. Uma insistirá que era católica devota, embora na verdade fosse judia”.
A obra de Moser é um estudo que resgata muitas particularidades das origens judaicas de Clarice, do seu universo literário e de sua vida pessoal, que chega às mãos do leitor como uma surpresa reveladora de grandes descobertas. O contexto histórico de sua chegada ao Brasil, sua insistência em se considerar brasileira, a vida difícil que levaram seus pais, a dor e as cicatrizes psicológicas trazidas pela morte de sua mãe, assim como sua admiração por Spinoza, sua busca pela leitura dos livros de autores aos quais fora comparada, sua tendência amoral e selvagem, tudo está intimamente ligado à sua obra.
A alma exposta em sua obra é a alma de uma mulher só, mas dentro delas encontram toda a gama da experiência humana.
“Quem me acompanha que me acompanhe: a caminhada é longa, é sofrida mas é vivida. Porque agora te falo a sério: não estou brincando com, palavras; Encarno-me nas frases voluptuosas e ininteligíveis que se enovelam para além das palavras. E um silêncio se evola sutil do entrechoque das frases.
“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
“O que te direi/ te direi os instantes”. (Água Viva)
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