07 outubro 2021

Amor de mar, amor Odemar (04)


Logo que conheci Odemar senti que gostava dele. Foi irresistível. Não do jeito que um amigo gosta do outro, mas de um jeito que alguém do outro, por interesse que vai além da amizade. Brota no íntimo da alma e chega à flor da pele feito fruta do desejo intenso. E faz o corpo querer mais e mais. Como se um imã dentro de mim me atirasse a você. Esse interesse por você vai além da amizade. No início nada sabia do amor, estava longe disso. A caminhada seria longa, uma travessia. Muitos condenam esse tipo de relacionamento. Mas o que é normal nessa vida? O que é certo e errado nessas coisas de amar e amor?. 

No início eu mesmo fiquei assustado quando descobri dentro de mi uma alma diferente e que meu interesse não era por uma outra, mas por um outro. Quando você chegava na estação rodoviária, vindo de Vitória da Conquista, lá estava eu a lhe esperar, aflito. Tive vontade de ficar mais perto de você, sentir seu corpo, seu hálito, enfim fazer parte de sua vida por inteiro, da forma mais íntima possível, como se não tivesse nada para nos separar.

 


Parecia que estávamos predestinado a ser mais um casal lendário no mundo, desses que têm os nomes ligados para sempre: Romeu e Juliets, Tristão e Isolda, eu e você... Parece até coisa de novela, mas era a realidade acontecendo a cada minuto, segundo... Eu sei que não posso mudar o seu passado, mas quero fazer parte de seu futuro. Esse era o meu pensar naquele instante.

 

Mas não foi fácil não. O primeiro dia que o encontrei em uma festa de um amigo, ele acabou, depois de muita insistência minha, dormindo em minha casa. Bêbado, não aconteceu nada. Pela manhã fiz o café com pão. Ele detestou e disse que eu era péssimo na cozinha. Foi no local e preparou um café perfeito, rápido e delicioso. Fiquei admirado.

Fazia algum tempo que eu vivia isso. Disfarçava quando podia e quanto a vida exigia de mim, mas foi só quando lhe encontrei que foi ficando mais claro o meu desejo e sentimento enjaulado. Descobrira em você minha identidade amorosa.

 


Ficava pensando no poema de Manoel Bandeira, Neologismo que viajava pelos sentidos das palavras “beijo pouco, falo menos ainda/Mas invento palavras (...) inventei, por exemplo, o verbo teadorar/Intransitivo/Teadoro, Teodora”. Cazuza também inventava. Ele inventou amores, o “nosso amor a gente inventa pra se distrair”.

 

E foi naquele verão quente que fomos a praia e nos descobrimos....

Sem pedir licença ele entrou na minha vida. Por um longo instante, percebi que na trajetória das pessoas há muitos esconderijos, pontos nebulosos, inquietantes. Ninguém fica impune aos sentimentos humanos. Na escola ninguém estava preparado para discutir o assunto pois o preconceito inundava tudo. Era impossível encontrar alguém pronto a entender esse tipo de sentimento que não se enquadra dentro do padrão regular, normal (?!) aceito. Estamos falando dos anos 1970. Havia risos disfarçados, comentários irônicos e atitudes agressivas. Em casa, nem pensar. Ninguém estava preparado para escutar a voz do coração. As pessoas das famílias vêm tudo enviesado e torto, e acabam não entendendo que algumas pessoas do mesmo sexo, podem até se gostar. De um outro jeito. Algo sério, comprometido.

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