24 janeiro 2020

80 anos de nascimento de Ildásio Tavares




“Não existe hora certa, existe o meu relógio,/Lembrando sempre com seu tic-tac/Que há vida/Para ser vivida,/Que houve a vida/Que não se viveu./Não importa que o rádio renitente ruja/São tal hora e tal minuto,/Hora oficial,/Afinal,/Que há de oficial em minha vida?” (O meu tempo, Ildásio Tavares)



Há 80 anos, dia 25 de janeiro, nascia Ildásio Tavares. Poeta, romancista, novelista, dramaturgo, ensaísta, tradutor, compositor, Ildásio Tavares (1940 – 2010) pertenceu à geração da Revista Bahia, ao lado de Cyro de Mattos, Marcos Santarrita, José Carlos Capinam, Ruy Espinheira Filho e tantos outros.



Ildásio Marques Tavares nasceu na fazenda São Carlos, atual município de Gongogi, região cacaueira da Bahia, no dia 25 de janeiro de 1940, filho de Eduardo Tavares dos Santos e Hilda Marques Tavares. Estudou em Salvador, onde se formou em Direito, e em Letras pela Universidade Federal da Bahia. Fez mestrado na Southern Illinois University, dos Estados Unidos, doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutorado na Universidade de Lisboa.



Publicou artigos de filosofia, cotos, poemas e traduções em revistas da Bahia, Rio e São Paulo. Pouco tempo depois ampliou sua colaboração a Minas Gerais, Pernambuco e Portugal. Seu primeiro livro de poesia, Somente um Canto, foi publicado em 1968 e a esse seguiram outros, de poesia e em prosa: romances, teatro e ensaios.




Entre os livros publicados estão Imago, Ditado, O canto do homem cotidiano, Tapete do tempo, Poemas seletos, Livro de salmos, IX Sonetos da Inconfidência, Lídia de Oxum, O amor é um pássaro selvagem, O domador de mulheres, A arte de traduzir... entre outros. É ganhador, entre tantos prêmios, do Leonard Ross Klein, de tradução; do Afrânio Peixoto, de ensaio; do Fernando Chinaglia, de poesia; e do prêmio nacional do centenário de Jorge de Lima.



Seu trabalho como jornalista compreende participação em vários periódicos, entre os quais, Diário de Notícias, Jornal da Cidade, A Tarde e Tribuna da Bahia. Membro praticante do candomblé, foi consagrado Ogan Omi L’arê, na casa de Oxum, e Obá Arê, na casa de Xangô e no Axé Opô Afonjá. Como  compositor teve 46 músicas gravadas por Vinícius de Moraes, Maria Bethania, Alcione, Toquinho, Nelson Gonçalves e Maria Creusa.




Também foi autor da ópera Lídia de Oxum.com música de Lindembergue Cardoso,  regida por Júlio Medaglia, levada às margens da Lagoa do Abaeté, em Salvador, para um público de aproximadamente 30 mil espectadores. Depois, foi apresentada em diversos palcos brasileiros. Tradutor e professor de Inglês, durante quase vinte anos, serviu-se dessa experiência para o seu livro A Arte de Traduzir. Faleceu no dia 31 de outubro de 2010, aos 70 anos, em razão de um grave acidente vascular cerebral, que resultou em falência múltipla dos órgãos. Grande perda. No meu livro Gente da Bahia, publicado em 1997, selecionei 100 personalidades baianas, incluindo Ildásio Tavares.



Restos (Ildásio Tavares)



Há um resto de noite pela rua

Que se dissolve em bruma e madrugada.



Há um resto de tédio inevitável

Que se evola na tênue antemanhã.



Há um resto de sonho em cada passo

Que antes de ser se foi, já não existe.



Há um resto de ontem nas calçadas

Que foi dia de festa e fantasia.



Há um resto de mim em toda parte

Que nunca pude ser inteiramente.


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