20 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (2)

O português Rafael Bordalo Pinheiro criou em 1878 para O Psitt!! o personagem Fagundes com pescoço longo, alentadas suíças, cenho e sobrolho franidos, em concentração, personificando o político falastrão e medíocre, alusivo aos deputados brasileiros. Trata-se do porta-voz da mediocridade politica brasileira, Fagundes, uma espécie de barriga travestida de deputado, de governante, de fura vidas na politiquice. Mas o personagem de maior popularidade, nas brechas do campo para a cidade é o Zé Caipora, de Angelo Agostini, que seria por algum tempo o personagem característico do Brasil agrário. Surge na Revista Ilustrada, em 1884, reaparece no Don Quixote, em 1901, e, novamente, em O Malho, em 1904.

O italiano Voltolino traria do imaginário popular a figura do Saci, personagem porta-voz da Revista Caipira em São Paulo. Voltolino praticamente pôs em cena a morfologia social da cidade ao valer-se dos esquecidos mas efetivos representantes sociais: o tocador de realejo, o pequeno jornaleiro, a baiana com o tabuleiro de quitutes repleto de Lacta e Guaraná. De 1910 aos anos 20, Juó Bananére foi uma figura popular na cidade de São Paulo. Criação de Voltolino, a personagem já encarna a imagem do ítalo paulista: gorducho, baixo, com vastos bigodes, espalhafatoso. Desempenha funções distintas como tocador de realejo, barbeiro etc. Juá Bananére é um homem do povo, transparente em suas atitudes, que fala claramente muitas verdades, sem eufemismos, de modo incisivo e direto. O personagem (porta voz do Bexiga, ou melhor, da colônia italiana de São Paulo) exerceu influências nas publicações humorísticas, nos programas de rádio e na música popular.


No dia 11 de outubro de 1905 a editora O Malho lançava a revista Tico Tico, que viria a ser o marco inicial das publicações dedicadas às crianças no Brasil. Além de publicar os quadrinhos norte americano, a revista lançou muitos personagens genuinamente brasileiros como Chico Farófia e Tinoco o caçador de feras (Théo), Reco Reco, Bolão e Azeitona (Luis Sá), Pandareco, Pára-choque, Cachimbau (Max Yantok), Jujuba, Carrapicho e Lamparina Macaco e Faustina (Alfredo Storni), Bolinha e Bolonha (Nino Borges), Pernambuco o Marujo (Belmonte) etc. A tiragem inicial era de 21 mil exemplares. Com o sucesso, logo chegaria a 30 mil, na 11ª edição. A revista trazia já nos primeiros números quatro páginas em cores, sendo as demais com impressão monocromática, em tom de vermelho, azul ou verde, em vez de preto. Era uma publicação que reunia diversas expressões culturais, com ênfase na literatura, mas que abria um generoso espaço para os quadrinhos, arte que começava a se firmar no país. (J.Carlos),


O Tico-Tico (1905-1962) foi a única revista dedicada às crianças brasileiras, e lhes dava tudo: histórias, adivinhações, prêmios, páginas de armar e, principalmente, aventuras. Um dos personagens mais queridos da revista era tida como brasileiro, mas teve sua origem nos Estados Unidos. Chiquinho, seu cãozinho Jagunço e a garota Lili eram, na verdade, uma cópia de Buster Brown, Tige e Mary-Jane, de Richard Outcault, autor do também conhecido Yellow Kid, ou Garoto Amarelo. Com a Primeira Guerra Mundial, quando os quadrinhos norte-americanos deixaram de chegar ao Brasil, o personagem ganhou ainda mais brasilidade. Emprestaram seu

traço ao encapetado guri os desenhistas Luís Gomes Loureiro, Augusto Rocha, Paulo Affonso, Alfre

do Storni, seu filho Osvaldo Storni e Miguel Hochman.

Aliás, coube a Luís Gomes Loureiro a tarefa de adaptar Buster Brown para a realidade brasileira, situando-o no ambiente local e dando-lhe um lastro de cultura nacional. Um de seus grandes méritos foi a criação da personagem Benjamin, que acompanhava as aventuras do protagonista. Benjamin, que estreou em 1915, era um moleque negro inspirado num criado da casa de Loureiro. Nas palavras do próprio autor, em entrevista concedida à Revista da Semana, em 31 de março de 1945, o terrível infante tinha os plano mais demolidores para as molecagens da turma, o que levava Chiquinho a temer que as ideias do negrinho dessem na clássica surra de escova com que o pai coroava sempre as suas aventuras.


Chiquinho tornou-se um personagem muito querido dos leitores de O Tico-Tico. Uma prova inconteste de sua adaptação à realidade brasileira é que, mesmo depois da morte de Outcault e do desaparecimento de Buster Brown, ele continuou sendo produzido no país, tornando-se uma das marcas da revista.

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