01 março 2012

Pasolini, o diagnosticador dos tempos (1)

No dia 05 de março de 2012 Pasolini completaria 90 anos de nascimento. Profundo, mordaz e a favor da independência humana, o cineasta, escritor, poeta, jornalista político, homem de teatro e filósofo Pier Paolo Pasolini, morreu tragicamente há 33 anos, deixou uma obra que ainda causa polêmica.

Píer Paolo Pasolini (1922/1975), artista que hoje se chamaria de um multimídia – era prosador, poeta, repórter, articulador, pintor, e “também” cineasta. Quer dizer, o cinema era um meio de expressão, entre outros. E esse meio lhe servia para dar forma a uma posição determinada diante do mundo. Posição de esquerda, porém fora da esquerda oficial. Libertária do ponto de vista sexual, provocativa em política, conservadora na religião.


Ele queria captar o discurso do povo e não fazer um discurso sobre o povo. Seus filmes mostram a disposição de encontrar essa força primitiva que viria dos estratos populares, livre de contaminação da cultura de elite. Forças primais, as forças da saúde – o sexo, a fome, o riso, o prazer em todas as suas formas, mesmo as mais escatológicas.


Pasolini nunca foi uma unanimidade, mas foi, incontestavelmente, um personagem decisivo da cena cultural italiana e não apenas da cinematográfica. Como Glauber Rocha no Brasil, ele foi acima de tudo um agitador. Revolucionou – e talvez tenha convulsionado – a estética e a política.


Emerge do neo-realismo do após-guerra e mescla temas sociais a um cristianismo popular muito à sua feição. Ele é um retratista de primeira da periferia romana, como se vê em “Desajuste Social” (1962), e “Mama Roma”. Seu “Evangelho Segundo São Mateus” mostra um Cristo revolucionário e a crítica política em “Gaviões e Passarinhos”. Em “Teorema” é a sexualidade que vem desarranjar a sonolenta estabilidade da família burguesa. Da mesma forma, os filmes míticos como “Medeia” e “Édipo Rei”, seriam buscas de salvação na luta de classe sem-fim.


Enquanto o homem moderno acostumou-se a tratar com desdém a Idade Média, chamando-a de época das trevas, Pasolini lançou a sua trilogia da Vida como “Decameron”, “Os Contos de Canterbury” e “As Mil e Uma Noites” onde haveria alguma esperança no homem.


Para ele, a idade da escuridão era esta, a nossa, a do capitalismo e da sociedade de consumo. Essa profecia do caos ele a realizou por completo no filme que acabou como sendo seu testamento, “Saló”, no qual identifica o fascismo com a obra de Sade. Ele fala da cidade de Saló, onde Mussolini fundou a República Social Italiana, sob proteção alemã, em 1943, já no epílogo da sua aventura. O filme é trágico, profético e fundamental.


“Pasolini foi um crítico radical da sociedade de seu tempo”, afirma a professora da Unicamp, Maria Betânia Amoroso no livro Píer Paolo Pasolini (Cosac & Naify). “Ele foi um dos que, por primeiro, souberam enxergar a virada irreversível do mundo”. A estudiosa preferiu tratar, entre as várias facetas de Pasolini, a do “diagnosticador” dos tempos que viriam, ressaltando os dois pontos que ele defendeu ao longo da vida.


“O primeiro é que, para ele, o mundo está constituído de forças contrastantes, sem que, todavia, isso signifique o conformismo estéril; e o segundo é que a arte exige conhecimento prévio e técnico, não sendo ato de pura vontade nem dom natural. Quando fez crítica à ideologia, nunca foi cínico”. Ele radicalizou, como poucos pensadores, o discurso anticomunista e antifascista. Teve a intuição do que seria o mundo globalizado e o criticou com veemência. É esse seu maior legado.


Poeta, roteirista, ensaísta, professor e cineasta, Pasolini também era ateu e homossexual assumido. Grande ativista nos debates que movimentaram a classe artística italiana nos anos 1960 e 70, acossada pelo conservadorismo político, ele usou caneta, câmera e garganta para se posicionar.


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