28 dezembro 2011

Pós-modernismo: estilo e subversão

Os anos 70 assistiram ao fim das chamadas grandes doutrinas, que tudo explicavam e rotulavam. As generalizações já não cabiam mais nesse caos criativo de um mundo em que tudo se cria, recria, copia e se cola. Gosto estético e ideologias à parte, é inevitável que a forma como vivemos a arte e o mundo hoje é fruto desse movimento que ousou dessacralizar os cânones. Tirou da arte formal a forna, deu forma de arte a objetos banais, fez do ordinário o extraordinário. De torradeiras a projetos arquitetônicos, de poltronas a capas de discos, de esculturas a figurinos de cinema e videoclipes.


Tudo ao mesmo tempo agora


Fenômeno artístico, arquitetônico, comportamental, filosófico, conhecido como pós-moderno ajudou a sacudir o século XX: Tudo ao mesmo tempo agora. Um mundo em que a arquitetura rui em função de uma forma que não serve mais. A pintura tem sua saciabilidade violada pela cópia xerox e pela bricolagem pura e simples. A moda que a tudo incorpora, digere e devolve em camadas de tecidos e ideias. A música que se apodera de melodias, tendências e recria um novo om. O cinema que a tudo absorve e a tudo espelha. Isso tudo é pós-moderno. E tudo, como definiu Karl Marx, é sólido mas desmancha no ar.


Tudo é sólido mas desmancha no ar


Uma das característica do pós moderno é a reação à ortodoxia do modernismo, à visão única do mundo. É a celebração da diversidade, da arquitetura do prazer, colorida e até kitsch. É levar a ironia às últimas consequências. O que dizer de uma simples, mas inusitada poltrona – Bel Air Chair, criada por Peter Shire – da Memphis, de 1982, onde arte e utilidade se encontram.


Copiam, recriam ideias, adicionam outras novas. Bricolagem


Em 1979 a cantora Grace Jones desfilou com o Vestido de Grávida Construtivista (ela posou de mãe e musa pós-moderna) que inspiram os figurinos Lady Gaga nos dias atuais. Hoje utilizam objetos simples, copiam, recriam ideias, adicionam outras novas. Bricolagem. Pode-se chamar de plágio. Há quem chame de canibalismo. Nossos modernistas de 22 talvez chamassem de antropofagia.


É brincar com a arte e subvertê-la. A brincadeira com o valor da arte, de compra, de venda, do dinheiro e do consumismo também era uma das maiores fontes de inspiração e crítica pós moderna. Aí é que entra o famoso Dollar Sign (cifrão) de Andy Warhol.


E o que dizer do longa de Ridley Scott, o melancólico Blade Runner que completa 30 anos em 2012 e é a síntese do pós-moderno. Na saga do caçador de androides Dick Deckard, estão o niilismo, a dúvida, o caos, o néon, e, sobretudo, a distopia que reinariam na Los Angeles de 2019. A Piazza d´Italia (1979), em plena New Orleans, é uma ode ao kitsch e, ao mesmo tempo, uma crítica ao estilo pastiche tão propagado pelos filósofos do pós-modernismo com Jean Baudrillard.


Niilismo, a dúvida, o caos, o néon, e, sobretudo, a distopia


O termo "pós-modernidade" é de ampla definição e foi cunhado pelo famoso historiador britânico Arnold Joseph Toynbee (1889-1975) na década de 1940, quando escrevia os seus doze volumes intitulados Um Estudo da História. Toynbee era um filósofo católico, porém influenciado pelo hinduísmo. Segundo Toynbee, a pós-modernidade se caracteriza especialmente pela decadência da cultura ocidental, do cristianismo e de tudo o que é absoluto. Resumindo, no pós-modernismo, morre o cristianismo e sua única verdade absoluta (Jesus Cristo) e tudo passa a ser relativo.


A simulação cria um perfeito simulacro da realidade


Alguns filósofos franceses também debruçaram-se sobre o tema da pós-modernidade, entre eles, Jean-François Lyotard, Michel Maffesoli e Jean Baudrillard. Para Baudrillard, nos tempos pós-modernos ocorrerá o "domínio do simulacro" onde será possível a substituição do mundo real por uma versão simulada tão eficaz quanto a realidade. Em outras palavras, a simulação cria um perfeito simulacro da realidade, como um sonho tão vívido que, ao "acordarmos", não conseguimos distinguir entre ilusão e verdade. O filme Matrix é um bom exemplo disso.


Um dos primeiros pensadores a desenvolver uma teoria abrangente e coerente sobre a pós-modernidade foi o filósofo francês Jean-François Lyotard com o seu livro “A Condição Pós-Moderna”, lançado em 1979. Outros pensadores associados à ideia de pós-moderno são Michel Foucault, Jacques Derrida e Jean Baudrillard.


Gilles Lipovetsky acredita na hipermodernidade


Para o intelectual marxista Fredric Jameson, o pós-modernismo representa uma nova fase do capitalismo, em que uma série de transformações tecnológicas impactou na ascensão de novas formas de relação de consumo e de movimentações do capital financeiro. Já o filósofo Gilles Lipovetsky acredita que, em vez de pós-modernidade, o que estamos vivenciando é justamente uma exacerbação dos valores da Era Moderna. A esse fenômeno ele deu o nome de “hipermodernidade”.


Para Jair Ferreira dos Santos em O que é pós-moderno (Ed. Brasiliense, 1987) pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o modernismo (1900-1950). Ele nasce com a arquitetura e a computação nos anos 50. Toma corpo com a arte Pop nos anos 60. Cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70, como crítica da cultura ocidental. E amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o cotidiano com desde alimentos processados até microcomputadores), sem que ninguém saiba se é decadência ou renascimento cultural.

Em sua origem, pós-modernismo significava a perda da historicidade e o fim da "grande narrativa" - o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da apropriação e da citação de obras do passado. A obra de Frederic Jameson, "Pós-Modernismo" (1991), enumera como ícones desse movimento:


na arte, Andy Warhol e a pop art, o fotorrealismo e o neo-expressionismo;


na música, John Cage, mas também a síntese dos estilos clássico e "popular" que se vê em compositores como Philip Glass e Terry Riley e, também, o punk rock e a new wave";


no cinema, Godard;


na literatura, William Burroughs, Thomas Pynchon e Ishmael Reed, de um lado, "e o nouveau roman francês e sua sucessão", do outro.


Na arquitetura, entretanto, seus problemas teóricos são mais consistentemente articulados e as modificações da produção estética são mais visíveis.


O pós-modernismo afirma que a linguagem não pode expressar verdades a respeito do mundo de um modo objetivo. "A linguagem, por sua própria natureza, dá forma ao que pensamos. Visto que a linguagem é uma criação cultural, o significado é, em última análise, uma construção social." Os valores do pós-modernismo não são pessoais, mas sociais, da cultura. O verdadeiro significado das palavras é parte de um sistema fechado de uma cultura, que não faz sentido para uma outra cultura. (Este artigo é dedicado a Sonia Elizabeth, a paulista mais baiana que conheço, com olhos construtivista e espírito crítico realista

)

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3 comentários:

Sonia Elizabeth disse...

Fiquei emocionada com o carinho demonstrado pelo amigo e grande jornalista. Sinto imensas saudades de Salvador, seu calor, seu sol, sua mar, suas ladeiras, do cheiro de dendê.....

Gutemberg disse...

Soninha,

Você faz parte de nossa vida,
de nossa estrutura molecar,
de tudo que está neste lugar.

Você é tudo que brilha, é luz solar,
é pura energia, um raio que ilumina
tudo de bom que há.

E o que mais dizer, e o que falar,
se você é tudo isso,
só me restar amar

Gutemberg disse...

Soninha

Eis a Grace Jones,
enigmática,
não estática,
fantástica.
Pos moderna
Um furacão
eterna

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