21 dezembro 2011

O que é que a música baiana tem? (7)

“A Bahia continua usando mais o quadril, região lateral do corpo humano, que vai da cintura até a parte superior da coxa, do que neurônio, célula essencial ao tecido nervoso. Na verdade, todo o Brasil. É que na Bahia, o quadril parece ter vida própria e de intensidade tão extrema que as duas atividades culturais mais espetaculares do Estado são o Carnaval e o São João, que, de diferentes, têm entre si, quadril com Banda ou quadril com bomba”, escreveu Aninha Franco em sua coluna semanal na revista Muito publicado aos domingos pelo jornal A Tarde.


A deputada estadual Luiza Maia (PT) é autora do Projeto de Lei n.19.203/2011 que tramita na Assembleia Legislativa que prevê não pagar com recursos públicos apresentações de grupos de pagode que, com músicas e danças, possam denegrir a figura feminina os fazer apologia à violência. A iniciativa tem apoio de toda bancada feminina.


Na opinião da deputada Luiza Maia, algumas letras de pagode e outros gêneros abreviam a mulher apenas a “peito, bunda e genitália”. “Não sou a favor de nenhuma censura a qualquer que seja o gênero musical. Mas o poder público não pode financiar a reprodução do preconceito e violência contra as mulheres, como a lógica de que para vender um pneu de carro é preciso associá-lo a uma bunda de mulher”, contesta numa reportagem publicada no jornal A Tarde (05/07/2011)


“È preciso, sim, um mecanismo de controle sobre o machismo no imaginário popular”, concorda Ana Vaneska Almeida, do coletivo da Guerreiras Sem Teto. “A mulher precisa ser respeitada e o estado não pode aceitar uma coisas dessas”, diz Maia referindo-se à apresentação ao vivo, com apoio oficial, de bandas responsáveis por repertórios de qualidade duvidosa.



“Esse projeto vem no sentido de a gente abrir uma campanha pra educar, inclusive, alguns dos nossos artistas. A mulher é um ser humano que precisa ser respeitado e não dá pra o governo pagar, com o dinheiro público, a quem faça um tipo de apologia à violência, à desqualificação e constrangimento da mulher”, afirmou.


Referências:

ABREU, Márcia. Cultura letrada: Literatura e leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2006.

ALCÂNTARA, Débora. Quebrança geral. Polêmica. Projeto de lei coloca na berlinda o pagode que incentiva a violência e o machismo. Salvador: A Tarde. Caderno 2. 05 de julho de 2011, p.1.

ALMEIDA, Tereza Virgínia de. No balanço malicioso do lundu. Festas e Batuques do Brasil. Revista História Biblioteca Nacional no bolso. Rio de Janeiro: Editora Sabin, 2009, p.42 a 49.

ARAUJO, Paulo César de. Eu não sou cachorro não: música popular cafona e ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2007.

____________________. Roberto Carlos em detalhes. Rio de Janeiro: Planeta, 2006.

BLACKING, John. Music, culture and experiece. Chicago, EUA: Chicago University Press, 1995.

BRASIL, Hebe Machado. A Música na Cidade do Salvador: 1549-1900. Salvador: Prefeitura Municipal do Salvador, 1969.

BRITO, Hagamenon. Letra sacana é uma coisa, pornográfica é outra. Salvador: Correio, 31 de janeiro de 2010, p.27.

CANCLINE, Néstor Garcia. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 1998.

CONNOR, Steven. Teoria e valor cultural. São Paulo: Loyola, 1994.

FRANCO, Aninha. Entre o quadril e o neurônio. Salvador: Muito. Jornal A Tarde, 03 de julho de 2011, p.41.

LEME, Mônica Neve. Que “tchan” é esse?: indústria e produção musical no Brasil dos anos 90. São Paulo: Annablume, 2003.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975.

ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e industria cultural. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1999.

ROCHA, Nélson. Cerco ao pagode. Salvador. Tribuna da Bahia. Cidades. 07 de junho de 2011, p.11.

SA, Simone Pereira de. Mediações musicais através dos telefones celulares. In: FREIRE FILHO, João; JANOTTI JÚNIOR, Jeder (Org.). Comunicação & música popular massiva. Salvador: EdUFBA, 2006.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações no samba (1917-1933). Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2001.

SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

TATIT, Luiz. O século da canção. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2004.

TROTTA, Felipe. Critérios de qualidade na música popular: o caso do samba brasileiro. In: Dez Anos a Mil. Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet. Maceió/Recife, 2011: http://www.dezanosamil.com.br/LivroCompleto.pdf

VERGER, Pierre. Noticias da Bahia de 1850. Salvador: Corrupio, 1981.

VIANA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: EdUFRJ/Zahar, 1995.

----------------------. Paradas do Sucesso Periférico. In: Revista Sexta-feira, nº8, 2006. Editora 34. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/banco/paradas-do-sucesso-periferico. Acesso em 04 de julho de 2010.

--------------------------------------


Um salto no abismo: A Pele que Habito


A pele é o maior e mais visível órgão do corpo humano. Sua riqueza e sua complexidade biológicas só são excedidas pelas do cérebro e do sistema imunológico. Pele é o primeiro elemento, depois da alma, de que dispomos para exercer nosso desejo. E a nossa casca, no filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar, vira uma espécie de roupa de látex. Estamos falando de A Pele que Habito, ambíguo, sadomasoquista, excitante, repulsivo.

Perdoar seu inimigo, prendê-lo, torturá-lo e manipulá-lo pode transcender o simples desejo. É libertário. Cuidado com o que você odeia, pois pode desejar mais tarde. É no pântano da psique que você pode colher uma flor...amaldiçoada.


Há uma delicada operação de costurar retalhos, reconstruir uma pessoa, um amor, uma obsessão. Tudo feito sob medida. O cineasta utiliza o tema que para ele é essencial: a não conformidade com os gêneros sexuais. E o que assistimos é um desatino, um salto no abismo. Vale a pena assistir.

------------------------

Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929).

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal seu comentario do filme !