13 dezembro 2011

O que é que a música baiana tem? (1)

A Bahia é extensa e não há como definir um rumo linear para a música popular. De forte apelo popular, ela não possui uma voz única. Temos samba, reggae, samba reggae, afoxé, axe, pop, rock, pagode, arrocha, forró, funk, erudita, sertaneja, instrumental, experimental, e muitas outras. Os meios de comunicação não disseminam de forma democrática, com igualdade de oportunidades os diversos gêneros sonoros que povoam nosso território. Afinal, há uma engrenagem financeira imediatista ao mercado. Muitas músicas são financiadas (o chamado jabá) para tocar nas mídias. E o circuito se autoalimenta, já que ele condiciona o ouvido da maioria da população a um único tipo de música e abordagem. De vez em quando, dentro desse cenário viciado, há algumas exceções, independentes espalham-se em ritmo avassalador e se destaca.


Nas épocas de grandes festas (carnaval e festejo junino) o foco único passou a concentrar-se nos chamados produtos descartáveis, de fôlego curto, vendas altas e mediatas. E fora do foco estão programadores/produtores/intérpretes que privilegiam timbres e texturas. Mas o mercado econômico privilegia os reality shows e sua rasa casta de celebridades com a internet e suas redes sociais possibilitando ao artista um acesso direto ao fã. O resultado é uma perda técnica com músicas compelidas em iPods e MP3 e uma massificação descaracterizadora onde sobrevive quem fala direto ao povo – seja no contexto sexual ou na violência gramatical. E salve-se quem puder.


As práticas musicais populares, no século XVII, por se difundirem e preservarem por meio da oralidade, não possuem registros grafados e, portanto, se perderam na “boca do povo”. Naquela época havia uma dança, praticada pelos mestiços, repleta de gestos sensuais, cuja trilha sonora eram os batuques dos negros. Essa dança era chamada de lundu. O poeta baiano Gregório de Mattos Guerra, conhecido como “Boca do Inferno” costumava usar o artifício de cantar na forma de versos em que o significado resultaria do cruzamento do duplo sentido das palavras. Ele enfrentou a moral católica e críticos mais contundentes e pagou por suas ousadias. Preso e deportado para Angola (Luanda) só retornou tempos depois co uma condição – não escrever aquele tipos de poemas. A obra de Mattos se identificava com o popular, era explícita no linguajar utilizado em muitos de seus poemas.


A primeira música gravada no Brasil, em 1902, foi o lundu “Isto é bom”, de autoria de Xisto Bahia (1841-1894), interpretado pelo cantor Baiano (1870-1944). Mas, algumas décadas antes do advento da indústria fonográfica, o lundu exerceu papel importante no teatro de revista e popularizou-se como atração humorística, executada ao violão pelos palhaços do circo.


O lundu se distingue por expressar-se por meio do ritmo sincopado, originário da cultura africana, pelo tom humorístico das letras, além da malícia e da sensualidade. Ao longo do período que vai da segunda metade do século XVIII ao início do século XX, passou por transformações significativas no que diz respeito à temática.


A origem da palavra lundu vem de calundu, dança ritual africana as vezes também chamada de lundu. O termo está relacionado aos batuques dos negros, e é compreendido inicialmente como dança: uma combinação entre a umbigada africana e o fandango europeu. O ritmo da dança, mais tarde, vai dar origem ao lundu-canção.


Para Tereza Virgínia de Almeida, em seu estudo “No balanço malicioso do lundu”, “o humor dos lundus advém, em parte, das cenas transgressoras e maliciosas que apresentam, em estrofes sempre marcadas pela leveza e pela graciosidade. O surpreendente e curioso é que estas formas consigam trazer à tona questões complexas como a escravidão e a violência, temas que encontram no tom humorístico o viés possível de visibilidade ainda no século XVIII” (p.s47, 48).

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