02 fevereiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (21) (yes, nos temos quadrinhos)


26. POLITICAS PÚBLICAS

Os autores de quadrinhos lutam por mais apoio público para o segmento. As HQS começam a ser cada vez mais reconhecidas pelos governos em suas três esferas, mas ainda são poucas as ações efetivas para aumentar a promoção, a circulação e difusão dos produtos e seus criadores. Infelizmente a Bahia ainda engatinha no assunto, mesmo tendo sido um dos primeiros estados a defender o quadrinho com o surgimento do Clube da Editora Juvenil publicando nos anos 70 o fanzine Na Era dos Quadrinhos.


Em 2005 a prefeitura de Paulo Afonso juntamente com a Secretaria de Educação e Cultura e Secretaria de Serviços Urbanos deram apoio cultural a uma obra que atravessou fronteiras. Trata-se de Sertão Vermelho 2 (formato 21 x 28 cm, 106 páginas), do roteirista Haroldo Magno e do desenhista Edvan Bezerra. Através da arte sequencial eles contam a saga de Lampião, o rei do cangaço pelo sertão da Bahia. Nesse trabalho eles contaram com a participação de artistas especialmente convidados como Júlio Shimamoto (Lídia e Zé Baiano: Beleza, traição e tragédia), Eugênio Colonnese (Corisco, o Vingador de Lampião) e Vítor Barreto (O Raso da Catarina). A capa é assinada por Rodolfo Zalla. A diversidade de estilos tornou a obra ainda mais interessante. Além de Lampião e Maria Bonita, aparecem nas histórias o padre Cícero e os cangaceiros Zé Baiano e Corisco, "o Diabo Louro".


A linguagem utilizada por Haroldo é a sertaneja. O argumento é criativo e bem desenvolvido. Já o traço de Bezerra é ágil com destaque para o uso de aguados, técnica que lembra a aquarela e que deu um charme todo especial a alguns capítulos da trama. A representação da paisagem nordestina em suas múltiplas formas foi apresentada com uma fidelidade poucas vezes vista.


O álbum Lucas da Vila de Sant´Anna da Feira (lançado em 2010), patrocinada pelo Banco do Nordeste/Ministério da Cultura através do Edital de Microprojetos Culturais, é fruto de anos de pesquisa do roteirista Marcos Franco e de entrevistas realizadas em conjunto com o também roteirista Marcelo Lima, com pesquisadores e líderes de associações de bairros feirenses, resgata a história do escravo rebelde Lucas da Feira. “Lucas da Feira, em nossa visão, foi um indivíduo aguerrido que tinha a criminalidade como ofício, posição marginal que cabia bem a um ser humano considerado inferior pela sociedade em que vivia. Nesse sentido, achamos excessivamente moralista tachá-lo de psicopata e lhe atribuir uma aura maligna. Ao mesmo tempo, sua coragem para rejeitar a sub-missão imposta desde a nascença não o torna herói de ninguém a não ser, talvez, de si mesmo. Tornar-se um assassino cruel foi opção dotada de forte capacidade de se erguer e reagir ante as adversidades, ante de tudo uma maneira de se permitir o impensável para um escravo: possuir autoestima para cuidar de si e da própria vida. De qualquer modo, sendo ele considerado algoz ou vítima, a sua influência na cultura feirense é algo inquestionável, como forte valorizador, sobretudo, da cultura afro-brasileira”, continua os roteiristas e pesquisador Marcos e Marcelo no prefácio.


Os diálogos coloquiais e os desenhos de Hélcio Rogério ajudam a ambientar a região. A começar pela capa que foge do padrão com muita criatividade. Há um recorte do rosto da personagem, impactante. O uso do tom, excelente. Os desenhos registram todo os aspectos, ambientes da época. O traço de Hélcio é forte, personalístico e dinâmico. Há um detalhamento essencial para a realização desse álbum que merece ser lido por todos. A equipe (Marcos Franco, Marcelo Lima – roteiro e pesquisa, Helcio Rogerio – desenho; Caio SA Telles – capa; Jefferson Loureiro – letras; Patricia Martins – fotos dos autores e Adauto Silva – terceira capa) está de parabéns. Um trabalho que pode ser publicado para fora do país.

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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo talento!
A arte merece mais atenção nesse país!
Abraço!