15 fevereiro 2011

Eduardo Barbosa Uma vida em função do quadrinho nacional. Autêntico (1)

A simpatia é natural, o riso é fácil no rosto de cabelos grisalhos e os encontros alegres com amigos que conhecei por onde andou, tornando-se uma figura conhecida na Bahia: não tenham dúvidas, é o Eduardo Barbosa. Durante muitos anos, na infância e adolescência, Barbosa morou no Rio de Janeiro e fez muitos amigos. O batismo de quadrinhos foi com O Tico Tico. De leitor, passou a desenhista no Suplemento Juvenil, de Adolfo Aizen. O segundo batismo foi com Alex Raymond (autor de Flash Gordon, Jim das Selvas e Nick Holmes), seu grande ídolo. Daí em diante, começou a mudar e a lutar por um quadrinho mais nacional. Chegou a ser relator de uma lei que regulamentava as histórias em quadrinhos no Brasil, no Conselho Nacional de Cultura (no término do Governo de João Goulart). Na oportunidade, reuniram-se vários desenhistas para discutir os problemas do quadrinho nacional. A lei foi engavetada, como aconteceu com todas as outras que a procederam.


Mesmo sem condições de lançar seus próprios personagens, pois as editoras estavam mais interessadas nos quadrinhos de fora, Barbosa continuou a desenhar. Fez quase toda a Série Sagrada e As Grandes Figuras, da Editora Brasil América Ltda (Ebal), os Clássicos Ilustrados, Cavaleiro Negro, Reizinho, Fantasma, da Rio Gráfica; Fuzarca e Torresmo para a La Selva, Tio Patinhas para a Abril, entre outras. E o que mostra a trajetória de suas obras, uma dose de criatividade, hoje transformou-se na vivência de quem dedicou a vida inteira em função de implantar um quadrinho nacional autêntico.


Em 1958, escreveu um livro sobre Lampião (Lampião, Rei do Cangaço) e que serviu de base para um filme de Carlos Coimbra (pela Cinedite). Publicou também no Gazetas de Notícias do Rio, em folhetim, o romance Judas Tadeu, além de escrever colunas de artes plásticas, participar de coletivas, fazer xilogravuras, reformar graficamente diversos jornais, inclusive as revistas de Cultura. E ele está aí, firme como sempre foi.

Este ano (15 de maio de 1979 quando foi publicada esta entrevista no jornal Correio da Bahia), surpreendeu todos nós com a segurança, a precisão e a beleza formal de suas lendas em quadrinhos e de sua nova historieta, Mentalo, o Mago, que será distribuída por um sindicato francês. Através de imagens carregadas de um lirismo bem dosado, Barbosa adaptou os planos isolados numa linha puramente classicista. O que vocês leitores, poderão constatar.


Você começou a desenhar HQ em que ano?

EB – O Aizen, por volta de 1938 lançou um concurso no Suplemento Juvenil. O suplemento foi lançado no jornal A Nação. Os primeiros números vinham ali dentro, encartado e o suplemento era chamado Infantil. Houve uma aceitação tão grande da novidade que o jornal aumentou a tiragem e era comum o leitor pedir assim: “Eu só quero o suplemento que está aí no jornal”. Do número 14 ou 15 o Aizen já lançou o suplemento nas ruas, independente do jornal, e ao preço de 100 réis (um tostão). Como outra novidade, uma HQ nacional: Os Exploradores da Atlântida, desenhada pelo Monteiro Filho. Foi um sucesso. Lançou também Flash Gordon, Tarzan, Mandrake e todos os demais heróis que se conhece hoje e, daí, foi crescendo o suplemento e ele criou o Grande Consórcio de Suplementos Nacionais. Em 1938, como dizia, o Aizen lançou um concurso de histórias em quadrinhos, de âmbito nacional. Fernando Dias da Silva ganhou o primeiro lugar. Aí foi quando apareceu o Antonio Euzébio, o Celso Barroso, o Salvio Correia Lima, o Alciro Dutra, o Oscar Renner, Nelson Junglubuth, eu e outros mais. Naquela ocasião já trabalha o Mário Pacheco, fazendo capas, o Ideu Moreira fazendo letrinhas junto com Hugo Wikelmann que também desenhava e com quem fiz, de parceria, minha HQ para diversas revistas do Rio. Antes disso, já desenhava histórias de bandeirantes e lendas para a revista Rataplan, do Louzadas, que, depois do Suplemento, foi a primeira revista infantil que aceitou trabalho de desenhista brasileiro. O pioneiro, se não me engano, foi mesmo o Tico Tico.


E não tinha nenhum baiano nos quadrinhos?

EB – Na verdade, o único cara que conheço que é metido em quadrinhos e que é baiano, é o Adolfo Aizen. Nasceu aí na Ladeira da Praça....


Ele nasceu em Juazeiro

EB- Detalhes. O que importa nisso tudo é que foi ele, o Aizen, quem realmente deu a mão ao desenhista nacional. Isso é inegável e irrefutável. E o desenhista de HQ, nenhum deles, pode ignorar esse fato.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este senhor,Eduardo Barbosa´,é meu pai,e meus irmãos Jacqueline Andréa e Carlos Eduardo.
Deixou minha mãe aqui e foi p Salvador em busca de trabalho.Bígamo.Conheceu Naira com quem teve um filho ainda e o tempo todo casado com minha mãe.Estive em Salvador na casa dele aos 21 anos.Hoje tenho 44,conheci o filho dele e Naira.
Engraçado é que, a história profissional e de vida antes dele chegar em Salvador não foi contada.
Caso haja algum interesse em saber mais alguma coisa,meu email é: profkatia10@hotmail.com
oBS> Meu filho de 15 anos possui o mesmo dom do avô; desenha muito.