28 dezembro 2010

“Sim, a mulher pode” (2)

Segundo a socióloga, Fátima Jordão, o voto em Dilma “é um salto de qualidade, cidadania e de democracia, pois faz cair vários mitos de que a mulher não está preparada para altos cargos, que mulher não vota em mulher, de vários preconceitos com estereótipos ultrapassados de que mulher é emocional, sensível e, portanto, não pode ocupar os cargos duros da política”. Perguntada sobre se muda alguma coisa com uma mulher na presidência, a socióloga afirmou:

“Creio que sim. Primeiro, muda o aspecto cultural. Já se discute se é presidente ou presidenta, já se discute como vai ser formado o ministério com uma face mais feminina, já se discute como vão ser formadas políticas contra a violência à mulher, políticas de mulher no poder. A ONU Mulher acaba de publicar uma nota em consideração à Dilma Rousseff e fortalecendo a ideia dela levar a sério a agenda da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, ocorrida em Pequim no ano de 1995 e de outras conferências. Faltava essa orientação e essa direção para que isso pudesse criar uma expectativa mais favorável. Vamos lembrar que na presidência da ONU Mulher está uma amiga de Dilma, que é Michele Bachelet, ex-presidente do Chile”.


E sobre o perfil de Dilma, disse: “É um perfil compatível com o cargo. Ela tem uma longa experiência técnica, ela é uma mulher sofisticada, muito preparada, ela tem certas características que dão alguma autonomia a ela, inclusive um histórico partidário que não vem da raiz do PT. Portanto, é um perfil dos mais adequados. Dilma tem uma dependência, na medida em que foi criada pelo lulismo, mas, por outro lado, ela tem qualificações técnicas para ter autonomia em áreas cruciais, como, por exemplo, no setor de energia. Na questão do petróleo e da matriz energética do país, Dilma é especialista e o Brasil, efetivamente, vai entrar numa fase em que essa questão vai se complicar no sentido amplo. Isso porque o pré-sal tem reservas extraordinárias. Além disso, o Brasil tem condições de manejar economicamente as escolhas de energia sustentável. Portanto, sua especialidade em energia é uma feliz coincidência para o país, nesse momento. (…) O Brasil tem uma série de problemas econômicos pela frente, mas certamente a leitura que Dilma fará será mais refinada em relação à especificidade das mulheres no que diz respeito às políticas públicas”.


A maior parte dos principais postos no mundo político, econômico, empresarial e acadêmico continua sendo dos homens. Os resultados das eleições de 2006 mostraram que de 2.498 candidatas, foram eleitas apenas 176 mulheres: três governadoras, quatro senadoras, 46 deputadas federais e 123 deputadas estaduais/distritais (dados do Centro Feminista de Estudos e Assessoria). Para romper a lógica que privilegia as candidaturas masculinas, instituiu-se uma cota de 30% de candidatas nos partidos. Mas a legislação é inócua, desconhecida pelos candidatos e desobedecida até mesmo pelos partidos políticos.


E se agora Dilma foi consagrada nas urnas por homens e mulheres, não pode ser considerada exceção, também não é regra, principalmente na política. São do sexo feminino 51,8% dos eleitores brasileiros, mas elas não têm, como nunca tiveram, proporcional representação. Na atual legislatura, as mulheres ocupam menos de 10% das cadeiras no Congresso. Nem mesmo uma lei que cria cotas de 30% por partido para as candidaturas é cumprido. Nesta eleição, apenas cerca de 20% dos concorrentes eram mulheres.


Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon. A primeira mulher a exercer o mais alto posto de poder no Brasil carregava várias mulheres no nome. A Princesa Isabel, ficou conhecida como “redentora dos escravos”, mas acumulou outro título: o de primeira mulher a administrar o Brasil. Filha de dom Pedro II, esteve a frente do governo durante as viagens do pai ao exterior. Agora, mais de um século depois,, surge a segunda: Dilma Rousseff. Em maio de 1888, Isabel assinou a Lei Áurea acabando com a escravidão. Agora, Dilma chega à Presidência da República embalada num programa em que os avanços sociais estão entre as principais promessas.


O fim do século XX marca uma ruptura com a história de invisibilidade das mulheres e com o que a elas se refere. Agora elas exigem novas formas de participação popular, maior acesso ao conhecimento e aos bens coletivos. O desafio está sendo vencer o sentimento de culpa, reaprender a ser mulher, pronta para criar os filhos e o companheiro, administrar o lar e continuar sendo a profissional que revolucionou a história da humanidade sem medo de ser feliz.

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