06 dezembro 2007

Reforma, urgente, na religião


Há 490 anos foi deflagrada uma reforma religiosa por causa da compra e venda de indulgências, uma espécie de letra de câmbio papel. Quem pagava ia para o céu. Malandragem religiosa. Os abusos cometidos pela Igreja Católica e uma mudança na visão do mundo, fruto do pensamento renascentista foram as principais causas do processo de reformas religiosas que teve início no século XVI. A Igreja Católica vinha, desde o final da Idade Média, perdendo sua identidade. Gastos com luxo e preocupações materiais estavam tirando o objetivo católico dos trilhos. Muitos elementos do clero estavam desrespeitando as regras religiosas, principalmente o que diz respeito ao celibato. Padres que mal sabiam rezar uma missa e comandar os rituais deixavam a população insatisfeita.

A burguesia comercial, em plena expansão no século XVI, estava cada vez mais inconformada, pois os clérigos católicos estavam condenando seu trabalho. O lucro e os juros, típicos de um capitalismo emergente, eram vistos como práticas condenáveis pelos religiosos. Por outro lado, o papa arrecadava dinheiro para a construção da basílica de São Pedro em Roma, com a venda das indulgências (venda do perdão). No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois este interferia muito nos comandos que eram próprios da realeza.

O novo pensamento renascentista também fazia oposição aos preceitos da Igreja. O homem renascentista, começava a ler mais e formar uma opinião cada vez mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. Um pensamento baseado na ciência e na busca da verdade através de experiências e da razão.

O monge alemão Martinho Lutero foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da Igreja Católica. Afixou na porta da Igreja de Wittenberg as 95 teses que criticavam vários pontos da doutrina católica. As 95 teses de Martinho Lutero condenava a venda de indulgências e propunha a fundação do luteranismo ( religião luterana ). De acordo com Lutero, a salvação do homem ocorria pelos atos praticados em vida e pela fé. Embora tenha sido contrário ao comércio, teve grande apoio dos reis e príncipes da época.Em suas teses, condenou o culto à imagens e revogou o celibato.

Um elemento comum às igrejas que surgem da Reforma Protestante é esta centralização na salvação do indivíduo. Bernard Cottret: "A reforma cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade". Este aforismo de Lutero do ano 1531 caracteriza bem a importância da história pessoal de cada um para a causa reformadora. Lutero não é nenhum fundador de um império, ele é um monge em busca da sua salvação. Como Pierre Chaunu mostrou de forma extraordinária, "não se trata de uma questão da Igreja mas de uma questão da salvação".

Em 1517, Martinho Lutero, revoltado com a desmoralização da Igreja Católica, fixa na porta da sua igreja as 95 Teses onde criticava ferozmente a Igreja Papal, tendo o Papa Leão X ordenado a sua retratação em 1520, sob pena de ser considerado herege. Lutero, porém, queimou em praça pública a ordem Papal, sendo excomungado em 1521.
Todo esse processo, aparentemente de cunho religioso, trazia embutido em seu bojo, a clara insatisfação dos nobres (principalmente alemães) e dos camponeses, desejosos (os dois segmentos da sociedade) de escaparem (os nobres ambicionando apoderarem-se das terras da Igreja e, com isso, ampliarem seus poderes abalados com a decadência do Feudalismo e os camponeses, da miséria em que viviam) do poder que a Igreja impunha sobre eles.

Em 1555, o imperador alemão Carlos V que defendia o interesse da Igreja Católica, concede aos príncipes alemães o direito de escolher sua religião, através do acordo assinado e chamado de “Paz de Algsburgo”. Nessa época a Igreja detinha 1/3 (um terço) das terras francesas e mais de 40% (quarenta por cento) das terras férteis alemãs. E os camponeses? Eles, juntamente com o seu líder Thomas Muntzer (seguidor de Lutero, de estilo radical, que reivindicava a divisão das terras da Igreja entre os pobres), foi criticado por Lutero por apoiar o movimento dos camponeses (conhecidos por anabatistas), tendo revidado chamando Lutero de “Doutor Mentiroso” – rompendo assim com o monge – sofreu juntamente com os anabatistas violenta repressão por parte da nobreza (com o total apoio de Lutero), tendo como resultado final à morte de mais de cem mil camponeses - dentre eles – Thomaz Muntzer, que morreu decapitado. Coisas de religião. É preciso, hoje, fazer uma nova reforma.


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