02 outubro 2019

Lembrando o genial Alex Raymond


Ele revolucionou os quadrinhos de aventura. Seu traço refinado marcou época e inspirou uma geração de artistas, elevando a arte seqüencial a um novo patamar de sofisticação e elegância. Desenhou quatro histórias em quadrinhos de primeira linha: Flash Gordon, X-9, Jim das Selvas e Rip Kirby. Sua influência foi reconhecida por grandes quadrinhistas como John Buscema, Joe Kubert, John Romita Jr, Russ Manning, Jack Kirby e muitos outros. George Lucas declarou que as aventuras de Flash Gordon estão entre as maiores inspirações para a saga de Star Wars.



O artista gráfico Alex Raymond (1909 - 1956) completaria 110 anos neste 02 de outubro de 2019. Um artista com formação acadêmica, Raymond criou personagens como o detetive Rip Kirby e o explorador Jim das Selvas. Mas será sempre lembrado como o homem que inventou um ícone da ficção científica, Flash Gordon.




Começa a vida profissional como auxiliar de escritório. Com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, perde o emprego e resolve tirar proveito de seu talento para o desenho. Torna-se desenhista-assistente no King Features Syndicate, executando histórias assinadas por outros. Depois de ganhar um concurso interno, em 1934, dá início a sua produção. Faz simultaneamente as tiras de Jim das Selvas, Flash Gordon e Agente Secreto X-9, escrito pelo autor de romances policiais Dashiell Hammett.




Agente Secreto X-9 não se contenta em combater os criminosos, insinua-se no meio deles, adquirindo seus hábitos, gírias e até seus métodos. Extremamente ligado ao mundo do crime, o Agente só se distingue dos criminosos que persegue pela diversidade de intenções. X-9 não fez sucesso, mas fez escola: foi a primeira grande HQ noir, cheia de cinismo e brutalidade. E Raymond escolheu a Malásia para ambientar Jim das Selvas e mostrar seu estilo naturalista, desenhos minuciosos, precisos, fieis nos detalhes, tanto mais fotográfico quanto mais fantástico era o assunto.




Foi com Flash Gordon que Raymond conseguiu atingir o auge do seu talento visual, definitivamente inspirado, seus traços foram praticamente perfeitos e genialmente modernos, de forma a imortalizá-lo como um dos maiores desenhistas de todos os tempos. Raio laser, propulsão a jato, mini saia, foguetes espaciais. Tudo isso já existia em 1932, na mente de Alex Raymond. Com 22 anos ele criou Flash Gordon. A célula fotoelétrica, televisão, biquíni, telefone numa só peça. A imaginação de Raymond antecipava-se aos cientistas e técnicos de nosso século. Suas concepções de máquinas, roupas, armas e outros objetos iriam transforma-se em realidade com tanta exatidão, influenciando todo o complexo industrial do mundo ocidental.




Se hoje sabemos que a Terra é azul é porque – como registrou o jornalista, escritor e quadrinhólogo Sérgio Augusto – Flash Gordon, em 1934, muito antes do russo Gagarin subir ao espaço, nos contou, pelas tiras dominicais de Raymond. Ele prenunciou, também, o advento da minissaia, da propulsão a jato, dos foguetes interplanetários, da televisão, dos intercomunicadores, do raio laser, dos computadores e das vias expressas elevadas. Fez mais: deu forma aerodinâmica aos aviões a jato, numa época em que existiam apenas modestos bimotores. E embora confessasse um certo desprezo pela verossimilhança científica, foi quem intuiu todo o mecanismo de segurança e conforto dos futuros astronautas.



Sérgio Augusto lembra que a Nasa, em um de seus boletins oficiais, reconheceu haver-se inspirado nas histórias de Flash Gordon para resolver determinados problemas de suas espaçonaves. Além de excelente desenhista, dono de um estilo elegante, mas rico em expressividade, Raymond ampliou o mundo de Júlio Verne e H.G. Hells, antevendo, como poucos artistas de seu tempo, o design do futuro.




A Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (Nasa) utiliza seus desenhos como referência na pesquisa de questões de aerodinâmica. Em 1944 deixa os quadrinhos para servir na Marinha, mas retoma os desenhos dois anos mais tarde. Inventa um novo personagem, o detetive-cientista Rip Kirby, que não atinge a mesma popularidade de suas outras criações.



Raymond deu às suas historietas três ingredientes fundamentais: juntou à arte dos desenhos o conteúdo científico e a sensação da aventura que tanto fascinou crianças e adolescentes de antes da guerra. Ele sempre afirmou que as histórias-em-quadrinhos, em si, eram uma forma de arte. E isso numa época difícil de fazer tais afirmações. Para ele, as HQs refletem a vida e o tempo com muito mais precisão e são mais artísticas do que a ilustração, pela criatividade: “Decidi, honestamente, que as histórias em quadrinhos são uma forma de arte“, disse certa vez, complementando: “Ela reflete a vida e o tempo com mais esmero e é mais artística que as ilustrações de revistas, desde que seja inteiramente criativa. Um ilustrador trabalha com câmera e modelos; um artista de quadrinhos começa com uma folha de papel em branco e imagina tudo: ele é, ao mesmo tempo, escritor, roteirista, diretor, editor e artista“. Ele fez essa declaração aos 28 anos; quatro anos depois de ter criado Flash Gordon.



Alex Raymond recebeu um Prêmio Reuben da Sociedade Nacional de Cartunistas em 1949 por seu trabalho em Rip Kirby, e mais tarde serviu como presidente da Sociedade em 1950 e 1951. Postumamente ele foi introduzido no Will Eisner Comic Book Hall of Fame em 1996. Em 1956, quando morreu – aos 46 anos – num desastre de automóvel, Alex tinha além do título de desenhista mais plagiado do mundo, um outro título: o Julio Verne o Século XX. Álvaro de Moya, professor de comunicação social e um apaixonado pelos quadrinhos, autor de HQs e inúmeros livros sobre o assunto, cognomina Alex Raymond de Gustave Doré dos quadrinhos.




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