Ele revolucionou os quadrinhos de aventura.
Seu traço refinado marcou época e inspirou uma geração de artistas, elevando a
arte seqüencial a um novo patamar de sofisticação e elegância. Desenhou quatro
histórias em quadrinhos de primeira linha: Flash Gordon, X-9, Jim das Selvas e
Rip Kirby. Sua influência foi reconhecida por grandes quadrinhistas como John
Buscema, Joe Kubert, John Romita Jr, Russ Manning, Jack Kirby e muitos outros.
George Lucas declarou que as aventuras de Flash Gordon estão entre as maiores
inspirações para a saga de Star Wars.
O artista gráfico Alex Raymond (1909 -
1956) completaria 110 anos neste 02 de outubro de 2019. Um artista com formação
acadêmica, Raymond criou personagens como o detetive Rip Kirby e o explorador
Jim das Selvas. Mas será sempre lembrado como o homem que inventou um ícone da
ficção científica, Flash Gordon.
Começa a vida profissional como auxiliar
de escritório. Com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, perde o emprego e
resolve tirar proveito de seu talento para o desenho. Torna-se
desenhista-assistente no King Features Syndicate, executando histórias
assinadas por outros. Depois de ganhar um concurso interno, em 1934, dá início
a sua produção. Faz simultaneamente as tiras de Jim das Selvas, Flash Gordon e
Agente Secreto X-9, escrito pelo autor de romances policiais Dashiell Hammett.
Agente Secreto X-9 não se contenta em
combater os criminosos, insinua-se no meio deles, adquirindo seus hábitos, gírias
e até seus métodos. Extremamente ligado ao mundo do crime, o Agente só se
distingue dos criminosos que persegue pela diversidade de intenções. X-9 não
fez sucesso, mas fez escola: foi a primeira grande HQ noir, cheia de cinismo e
brutalidade. E Raymond escolheu a Malásia para ambientar Jim das Selvas e
mostrar seu estilo naturalista, desenhos minuciosos, precisos, fieis nos
detalhes, tanto mais fotográfico quanto mais fantástico era o assunto.
Foi com Flash Gordon que Raymond conseguiu
atingir o auge do seu talento visual, definitivamente inspirado, seus traços
foram praticamente perfeitos e genialmente modernos, de forma a imortalizá-lo
como um dos maiores desenhistas de todos os tempos. Raio laser, propulsão a
jato, mini saia, foguetes espaciais. Tudo isso já existia em 1932, na mente de
Alex Raymond. Com 22 anos ele criou Flash Gordon. A célula fotoelétrica,
televisão, biquíni, telefone numa só peça. A imaginação de Raymond
antecipava-se aos cientistas e técnicos de nosso século. Suas concepções de máquinas,
roupas, armas e outros objetos iriam transforma-se em realidade com tanta
exatidão, influenciando todo o complexo industrial do mundo ocidental.
Se hoje sabemos que a Terra é azul é
porque – como registrou o jornalista, escritor e quadrinhólogo Sérgio Augusto –
Flash Gordon, em 1934, muito antes do russo Gagarin subir ao espaço, nos
contou, pelas tiras dominicais de Raymond. Ele prenunciou, também, o advento da
minissaia, da propulsão a jato, dos foguetes interplanetários, da televisão,
dos intercomunicadores, do raio laser, dos computadores e das vias expressas
elevadas. Fez mais: deu forma aerodinâmica aos aviões a jato, numa época em que
existiam apenas modestos bimotores. E embora confessasse um certo desprezo pela
verossimilhança científica, foi quem intuiu todo o mecanismo de segurança e
conforto dos futuros astronautas.
Sérgio Augusto lembra que a Nasa, em um de
seus boletins oficiais, reconheceu haver-se inspirado nas histórias de Flash
Gordon para resolver determinados problemas de suas espaçonaves. Além de
excelente desenhista, dono de um estilo elegante, mas rico em expressividade,
Raymond ampliou o mundo de Júlio Verne e H.G. Hells, antevendo, como poucos
artistas de seu tempo, o design do futuro.
A Administração Nacional da Aeronáutica e
Espaço dos Estados Unidos (Nasa) utiliza seus desenhos como referência na
pesquisa de questões de aerodinâmica. Em 1944 deixa os quadrinhos para servir
na Marinha, mas retoma os desenhos dois anos mais tarde. Inventa um novo
personagem, o detetive-cientista Rip Kirby, que não atinge a mesma popularidade
de suas outras criações.
Raymond deu às suas historietas três
ingredientes fundamentais: juntou à arte dos desenhos o conteúdo científico e a
sensação da aventura que tanto fascinou crianças e adolescentes de antes da
guerra. Ele sempre afirmou que as histórias-em-quadrinhos, em si, eram uma
forma de arte. E isso numa época difícil de fazer tais afirmações. Para ele, as
HQs refletem a vida e o tempo com muito mais precisão e são mais artísticas do
que a ilustração, pela criatividade: “Decidi, honestamente, que as histórias em
quadrinhos são uma forma de arte“, disse certa vez, complementando: “Ela
reflete a vida e o tempo com mais esmero e é mais artística que as ilustrações
de revistas, desde que seja inteiramente criativa. Um ilustrador trabalha com
câmera e modelos; um artista de quadrinhos começa com uma folha de papel em
branco e imagina tudo: ele é, ao mesmo tempo, escritor, roteirista, diretor,
editor e artista“. Ele fez essa declaração aos 28 anos; quatro anos depois de
ter criado Flash Gordon.
Alex Raymond recebeu um Prêmio Reuben da
Sociedade Nacional de Cartunistas em 1949 por seu trabalho em Rip Kirby, e mais
tarde serviu como presidente da Sociedade em 1950 e 1951. Postumamente ele foi
introduzido no Will Eisner Comic Book Hall of Fame em 1996. Em 1956, quando
morreu – aos 46 anos – num desastre de automóvel, Alex tinha além do título de
desenhista mais plagiado do mundo, um outro título: o Julio Verne o Século XX. Álvaro
de Moya, professor de comunicação social e um apaixonado pelos quadrinhos,
autor de HQs e inúmeros livros sobre o assunto, cognomina Alex Raymond de
Gustave Doré dos quadrinhos.
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