04 fevereiro 2011

A hora e vez dos quadrinhos baianos (23) (yes, nos temos quadrinhos)

A proposta de lei (pl-6581/2006) apresentada pelo deputado Simplício Mário do PT do Piauí, que visa estabelecer mecanismos de incentivo para a produção, publicação e distribuição de revistas de histórias em quadrinhos nacionais é polêmica porque dividiu os artistas nacionais. Para muitos fica a interrogação: até que ponto essa lei seria realmente benéfica para toda a classe de artistas?. De um lado, há os defensores da lei que afirmam que é preciso de alguma pressão (leia-se obrigatoriedade) para que as editoras possam olhar para os artistas de quadrinhos nacionais não como mendigos, mas como trabalhadores artesãos que pretendem simplesmente viver digna e honestamente da sua arte. Do outro lado, há os que defendem que uma lei que obrigue qualquer coisa vai gerar a produção e veiculação de produtos de baixíssima qualidade que irá apenas enterrar de vez a tentativa de resgatar um mercado nacional de artes gráficas.

Os primeiros lembram que em países como Argentina, França, Espanha e Coreia existem incentivos e leis que protegem minimamente (e em alguns casos totalmente) o mercado interno produtor de quadrinhos. Os segundos relembram dos anos da ditadura no qual houve um controle estatal no que deveria ser ou não ser produzido e que, em tempos mais recentes, uma lei semelhante, ao ser aprovada para o cinema nacional, gerou a criação de lixo apenas para se manter dentro da lei. Mas é bom salientar que hoje vivemos numa democracia plena e com uma economia globalizada.


É preciso ficar atento porque o cerne da questão não está contido nesse projeto, mas sim em como os artistas nacionais, embora numerosos e talentosíssimos, não conseguem se reunir de forma organizada e eficiente em nível nacional para criar um projeto que possa, de fato, ser baseado numa realidade de mercado e que seja minimamente justo para, não só eles, mas todas as partes envolvidas no processo (como as editoras e distribuidoras).


Em Pernambuco uma entidade voltada para as artes gráficas mostrou-se muito vago e voltado para outros propósitos, principalmente, da sua diretoria. E isso pode ser um espelho de onde se encontra o verdadeiro problema dos quadrinhos nacionais. Resumindo numa frase, : "farinha pouca, meu pirão primeiro". Ou seja, embora aparentemente unidos, está cada um mais e primeiramente preocupado apenas com o seu trabalho.


Em Salvador, desisti de dar continuidade ao clube de quadrinhos nos anos 90 por essa questão. Posso estar enganado hoje, mas um grupo alternativo já está se unindo para fortalecer mais ainda as artes gráficas na Bahia. Espero que tudo dê certo. Pois é de suma importância que nós tenhamos os quadrinhos nacionais como uma ferramenta de fortalecimento da cultura e da identidade de nosso povo, precisamos soltar as amarras que nos prendem ao mercado estrangeiro, e abrir as portas para o profissional brasileiro, para que assim tenhamos em breve um mercado de trabalho ativo e aberto para os trabalhadores do setor.


As HQs são consideradas um veículo muito importante para a informação, produção de significados e tentativa de sensibilização das crianças, jovens e adultos. A leitura, compreendida como uma prática capaz de produzir significados para seus leitores, pode ser entendida como tendo grande importância no que diz respeito ao processo de sensibilização das pessoas em relação aos problemas sociais enfrentados na atualidade. Pensando a Educação como um processo de construção de novos valores, pode-se ponderar sobre os diversos locais nos quais esta ação se dá, sendo que estes espaços não estão comprados apenas à sala de aula, na prática da educação formal, dando-se, pelo contrário, muitas vezes para além dos muros escolares, assim como os tempos e espaços nos quais se adquire cultura, que são produzidos na articulação de diferenças culturais (Bhabha, H.K. O local da cultura. Belo Horizonte, Ed. da UFMG, 1998).

Neste contexto, a mídia (seja ela impressa, visual, etc) coloca-se em posição privilegiada no que diz respeito à produção de sujeitos e saberes, assumindo assim um caráter pedagógico, de construção de identidades. Uma parte importante desta construção de identidade, e o processo de educação como um todo, podem ocorrer quando se integra o ensino formal em sala de aula, com tecnologias audiovisuais, impressos, orais, corporais, musicais, etc.


Num mundo onde a realidade encontra-se exposta, sem limites, em tempo real, por meio das mídias digitais, a HQ é uma dos únicos meios de expressões que recupera o sonho. Uma vez que o elemento onírico está se perdendo da concepção dos bens culturais, num mundo onde as características realistas da informação e da comunicação são cada vez mais reforçadas, em detrimento do direito de sonhar, inerente ao ser humano. E até os efeitos especiais, que já foram voltados para a criação de ilusões e fantasias, atualmente recriam hiper-realidades, onde o efeito imagético e sonoro equivale aos eventos e leis naturais, mesmo nos territórios ficcionais mais fantásticos. É no conteúdo da linguagem das HQs que o elemento afetivo demonstra a força da fantasia no despertar da imaginação e do gosto pela leitura infantil, que prossegue ao longo de toda a vida.

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Estamos publicando, em 23 artigos, a hora e vez dos quadrinhos baianos. Final

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