28 maio 2010

Música, música & Poesia, poesia

Espaço Liso (Paulinho Moska)


Eu amo a causa, e não a consequência

Eu amo o Pensamento, e não a inteligência

Eu amo a Loucura, e não a consciência

Eu amo a paciência, eu amo a paciência


Eu amo o deserto, e não a muralha

Eu amo o mergulho, e não a medalha

Eu amo suor, e não a toalha

Eu amo a batalha, eu amo a batalha


Eu amo a alma, e não a pessoa

Eu amo a cara, e não a coroa

Eu amo a corrida, e não a linha de chegada

Eu amo a estrada, eu amo a estrada


Eu amo o agora, e não a memória

Eu amo a luta, e não a vitória

Eu amo o fato, e não a história

Eu amo a trajetória, eu amo a trajetória


Eu amo o bem forte, e não o assim

Eu amo o papel, e não o cetim

Eu amo pra onde vou, e não de onde eu vim

Eu amo o meu meio, e não o meu fim.



Todos os Verbos (Marcelo Jeneci | Zélia Duncan)

Errar é útil

Sofrer é chato

Chorar é triste

Sorrir é rápido

Não ver é fácil

Trair é tátil

Olhar é móvel

Falar é mágico

Calar é tático

Desfazer é árduo

Esperar é sábio

Refazer é ótimo

Amar é profundo

E nele sempre cabem de vez

Todos os verbos do mundo

Abraçar é quente

Beijar é chama

Pensar é ser humano

Fantasiar também

Nascer é dar partida

Viver é ser alguém

Saudade é despedida

Morrer um dia vem

Mas amar é profundo

E nele sempre cabem de vez

Todos os verbos do mundo


Poema de sete faces (Carlos Drummond de Andrade)


Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.


As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.


O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus,

se sabias que eu era fraco.


Mundo mundo vasto mundo

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.




Com licença poética (Adélia Prado)


Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

-- dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

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