No debate conseguimos vencer fácil tais argumentos preconceituosos de que quadrinhos era coisa só para crianças, ou porque só tinha fantasia, ou mesmo violência etc. E se fosse como eles afirmavam teríamos que acabar com os contos de fadas, a literatura infantil, os jornais diários e a tevê porque nesses veículos há fantasia tão necessária a criançada, a violência quotidiano que não pode ser desassociada da realidade. E o que vemos hoje são crianças que não tem oportunidade de sonhar, de fantasiar sua infância, de viver seu tempo.
LEITURA
Na minha adolescência li Hermann Hesse (1877-1962), escritor alemão que depositou no fim dos anos 60, do movimento hippie e das culturas alternativas. Seus livros Sidarta, O Lobo da Estepe, Demian entre outros foram decisivos em minha formação. Verdadeiro artesão da linguagem, ele transmite suas ideias filosóficas místicas marcando a geração da contracultura dos anos 70, bem diferente da profunda e modificada intelectualidade de seu amigo Thomas Mann.
Na minha época cultuava-se o professor, ou seja, eles eram respeitados e valorizados. Na escola modelo Centro Educacional Carneiro Ribeiro (localizado nos bairros da Liberdade, Caixa D'água, Pero Vaz e Pau Miúdo, em Salvador, é uma instituição de ensino pioneira no Brasil, trazendo em sua gênese a proposta então revolucionária de educação profissionalizante e em tempo integral, voltado para as populações mais carentes, tendo por idealizador o pedagogo Anísio Teixeira e concretizada no governo de Otávio Mangabeira. Seu nome homenageia o educador baiano Ernesto Carneiro Ribeiro), Escola Parque, tive a felicidade de conhecer grandes mestres que ensinaram lições essenciais de vida. O professor era um educador. E a minha professora de Português, Emilia que me ensinou a amar os livros, a leitura e eu me aprofundava em Érico Veríssimo (e seus romances magistrais), Monteiro Lobato (com suas narrativas geniais), Malba Tahan (e suas lendas orientais), José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e tantos outros, os poemas de Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana e Cecília Meireles, os contos de Anibal Machado, Machado de Assis entre outros alimentavam minha alma juvenil. Claro que eu li gibis, e muitos, misturado aos livros, tudo trans formador, híbrido, mutante.
E não poderia esquecer da criatividade do poeta paranaense Paulo Leminski, dos pernambucanos Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, da literatura fantástica de Murilo Rubião, de Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Vinícius de Moraes. Tem também Bráulio Tavares, Ruy Espinheira Filho e muito mais.... “Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. Arte é sangue, é carne. Além disso não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós mesmos, só podemos expor o que somos”, escreveu Graciliano Ramos. “Viver é um rasgar-se e remendar-se” (Guimarães Rosa)
Na juventude não posso esquecer o universo exuberante do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques em Cem Anos de Solidão. A narrativa da mística cidade de Macondo e seus habitantes quase desmemoriado e de comportamento anacrônico capaz de deixar um rastro de borboletas amarelas. Era o realismo mágico que sempre me fascinou (e que veio a mim dos quadrinhos), uma forma de protesto que escapava à censura e com Marques conheci o peruano Mário Vargas Llosa, o cubano Alejo Carpentier e os argentinos Júlio Cortazár (que inclusive flertou com as histórias em quadrinhos) e Jorge Luís Borges. Também me fascinou, na época, Encontro Marcado, de Fernando Sabino,
É uma pena que no Brasil, e pior ainda, na Bahia, os escritores não tem boas oportunidades de mostrar seu trabalho. A leitura, e ainda mais a leitura de literatura, não faz parte do cotidiano das pessoas.
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