06 maio 2010

Memórias, trajetória (4)

Paulo Freire considerava o ensino da época rígido e autoritário. Os professores davam aulas formais para alunos dos quais se esperava comportamento dócil e passivo. Era a conhecida “pedagogia da dominação”. Ele criou a “pedagogia da libertação”, ou seja, formar pessoas capazes de tomar consciência de sua condição, de que, sendo exploradas, podiam mudar a situação. O educador imaginava um processo de ensino flexível e participativo, que incentivasse o diálogo entre professores e alunos.


Assim o ensino deveria partir da realidade dos alunos, de palavras conhecidas por eles – as “palavras geradoras”. Ao mesmo tempo em que ensinava, o professor deveria criar discussões e estimular a reflexão sobre a realidade dos alunos. Mas dar consciência ao aluno de seu papel na sociedade não por método que agradou a ditadura militar instaurada em 1964 e naquele ano, o pensador Paulo Freire ficou preso por 70 dias, e libertado, exilou-se. Reconhecido como um de nossos mais importantes pensadores, Freire tem uma estátua em plano centro da capital sueca, Estocolmo. Doutor honoris causa em 28 universidades, o educador pernambuco é reconhecido no mundo todo como um dos seus mais importantes pensadores brasileiros do século passado.


Sobre a educação, costumava dizer: “A tradição brasileira, profundamente autoritária, coloca sempre o formando como objeto sob a orientação do formador, que funciona como o sujeito que sabe. É preciso deixar de ser assim. Conhecimento não se transfere, conhecimento se constrói”.

A educação transformadora é aquela em que o aluno, além de acumular conhecimentos como desenvolve uma consciência crítica que o faz intuir o novo rumo da história. A visão política e social da educação é ativada. O indivíduo omisso perante o mundo dá lugar ao ser participativo, militante da história. É preciso ser inserido nos projetos político pedagógicos as questões que dizem respeito ao mundo das comunidades negra e indígena, fazendo parte das práticas que permeiam o currículo escolar.

ROTINA


Muitos colegas estranham essa minha mania de seguir, diariamente, de ritual. De segunda a sexta, sempre aquela rotina. Sábado e domingo dedicados a leitura e ao cinema (e/ou video). Nos dias atuais onde há uma infinidade de opções e excesso de publicidade e consumismo, uso de rituais cotidianos para que a vida entre numa trilha mais ordenada. No começo muitos pensam que esses rituais parecerão chatos demais, e inúteis, mas se provarão eficientes na medida em que você os preservar assim, cotidianos. Mas essa prática, vou logo avisando, é a minha, cada um faz de seu cotidiano o que melhor lhe convém.


Sei que na “terra do axé”, a prática sagrada da arte da despreocupação é tom corrente, mas não uso esse expediente, sigo outros caminhos, trajetórias, rios. Será um desvio: Não sei, só sei que não transformo mais sonhos, minhas crenças. A cada nascer do sol é um novo dia e forças renovadas. O importante é saber como você vai lidar com essa realidade.


Mudar planos não é problema, mesmo contrariando a todos. O problema é você assumir a liberdade de mudá-los, e fazê-los contrariando as opiniões, todas sensatas, de que você não deveria fazer isso. Quando as pessoas começaram a criticar você por ter mudado de opinião e perspectivas, lembre a eles, que é muito melhor ter uma opinião que possa ser mudada do que não ter nenhuma, ou do que resistir à inevitável transformação de tudo.


È bom idealizar situações de rara beleza. Mas o melhor é dar um passo na direção de experimentar essas idealizações. Idealizar é bom, mas transformar isso em realidade é bem melhor. As grandes mudanças não se operam repentinamente, mas pela inclusão de hábitos que, repetidos sistematicamente, somam-se uns aos outros e, aí, quando você menos espera, sua vida já não é mais a mesma de antes.


Proceda de acordo com suas convicções, pois enquanto a razão sensata manda assegurar-se ao máximo antes de dar cada passo, a emoção encaminha sua alma por meio de desígnos tortuosos. Respire fundo, pense, reflita e depois aja. Cuidado, pois você só percebe a verdade por trás das aparentes emoções quando se atrever a experimentá-los.


Mas é bom lembrar que nem todas as pessoas seguiam por exigências tão grandes quanto as que sua alma faz a respeito da vida. Por isso, elas nunca vão conseguir entender muito bem porque você reclama tanto. Nos dias atuais a mediocridade foi elevado ao status de representação democrática da realidade, e o talento criativo, que é a própria essência do coração humano, foi se atrofiando ao longo dos anos. Todos sabem que o poder corrompe, e que a boa política é a da subserviência ao império do lucro. E todos seguem essa cartilha. Raul Seixas numa velha canção já cantava: “Eu é que não me sento no trono de um apartamento com uma boca escancarada cheia de dente esperando a morte chegar” (Ouro de Tolo).


“Quando uma instituição entra em declínio, a primeira coisa que se degrada é a linguagem”, disse Octavio Paz. Parece que o mundo atravessa um dos períodos mais medíocres naquilo que diz respeito à criatividade. Antes a cultura e a produção artística geravam criadores e obras que faziam a diferença. A arte interferia no cotidiano de forma efetiva e sem pedir licença, e ela trazia consigo um referencial da cultura que permeava séculos de História. Hoje o que existe é um marketing publicitário direcionando o conceito de arte e cultura rumo à banalização e à diluição. Com pequenas exceções, o que se lê, ouve, ver e experimenta é uma grande decepção, e o que é pior, a geração atual digere sem nenhum senso crítico.

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