Quando me formei em jornalismo, entrei numa espiral de vida totalmente alucinada que me mantinha permanentemente em estado de alerta, angústia, de ansiedade permanente, na busca de divulgar a notícia em primeira mão (na época editava o caderno cultural do Correio da Bahia nos anos 80 e tido como o melhor da cidade). Foi um desgaste e, ao mesmo tempo, uma recompensa porque, na época, procurávamos divulgar todo tipo de cultura na cidade, seja no centro, no Pelô, cidade baixa ou periferia. Isso em relação a música, teatro, dança, literatura (seja cordel, romances, ensaios), artes plásticas, artesanato, religião e outras ações sociais. O trabalho me ocupava em todas as horas, e sempre foi assim.
É preciso informar com foco no interesse público. Quem é jornalista conhece a luta diária para que a missão seja cumprida diante dos prazos apertados e da pouca disponibilidade de recursos. Fiz essa opção mesmo sabendo das condições adversas. E continuo tentando cumprir o papel, todos os dias.
MUDANÇA
Depois que um grande amigo recebeu a notícia que tinha câncer e resolveu mudar seu cardápio alimentar, decidi que faria tudo para mudar minha qualidade de vida, passando a dedicar mais tempos aos seres que eu amava, a aproveitar melhor cada instante. Mas mudar hábitos é difícil e fui rapidamente devorado pelo ritmo estressante da função de jornalista, mas estou tentando e quando tenho folga meu refúgio é em Barra de Jacuípe com meus animais, plantas e raríssimos amigos mais próximos. Gosto da solidão, da reflexão, do pensar a vida, mexer na ferida, estancar as perdas e partidas, relembrar aonde está a medida e viajar no tempo como saída.
Como sou um ser pontual, chego ao local sempre meia hora antes do encontro para não atrasar. Sempre fui assim, pontual. Já vem do habito familiar. A gente tem o primeiro período como jovem, de descobertas, o segundo – no qual nos encontramos – e, logo em seguida, vem o momento em que a maioria das pessoas morre de medo. Abraçar a velhice com sabedoria é uma dádiva. A sociedade atual, por melhores leis, não trata os mais velhos com reverência, respeito. A tendência é colocá-los à parte. Nas sociedades tradicionais, os mais velhos são tratados como sábios.
Conheço um garotinho de oito anos, filho de um amigo, que usa o computador com todas as possibilidades. Ele escreve um texto, faz um blog do personagem. É a palavra se libertando do seu suporte único, que era o papel, e está numa época de experimentação enorme. Hoje o ficcionista faz pintura, o romancista faz quadrinhos, o quadrinista faz poesia, e o poeta faz literatura. Acabaram as fronteiras. Somos todos parte de culturas híbridas. O processo de globalização transformou os caminhos dos seres humanos. De um lado desterritorializou ou seja, os lugares se globalizam. Assim, cada local (não importa onde se encontre, Salvador ou Japão), revela o mundo. Os objetos são compartilhados em grande escala – calças jeans, Coca Cola, televisores, etc. Eles constituem nossa paisagem, mobiliando nosso meio ambiente. Assim, essa modernidade objeto (estão em todos os lugares – Danone, Nestlé, Reebok... - impregna os aeroportos internacionais (idênticos em todos os lugares), as ruas do comércio, nomes de escritórios. Tem um amigo baiano morando no Japão.Lá ele vende produtos baianos (acarajé, cds do axe music, berimbau...) para matar a saudade dos baianos que moram lá. É um espaço desterritorializado.
O mercado tornou-se uma das principais forças reguladora. A noção de pessoa já não mais se encontra centrada na tradição. Os laços de solidariedade se romperam. E o anonimato das grandes cidades e do capitalismo corporativo pulverizou as relações sociais existentes, eixando os indivíduos soltos na malha social. A sociedade, como escreveu Renato Ortiz (Mundialização e Cultura) deve inventar novas instâncias para a integração das pessoas.
Sou uma pessoa off, livre, não estou ligado o tempo todo na Internet,mas essa garotada abre quinze
janelas e ficam ligadas em todas. Gilberto Gil foi o primeiro Ministro da Cultura que botou a gente na linha de frente da cultura digital e fez os pontos de cultura. Ele descentralizou, foi ver onde já tinha Cultura e deu incentivo. Isso é uma revolução.
Ilusões da Vida ( Francisco Otaviano, 1825/1889)
Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
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