25 janeiro 2007

Milton Santos

Geógrafo e professor. Milton Santos é baiano de Brotas de Macaúbas, onde nasceu a 03 de maio de 1926, de pais professores primários. Veio para Salvador, onde fez o curso secundário como aluno interno do Instituto Baiano de Ensino. Cursou, depois, as faculdades de Direito e Jornalismo e trabalhou no jornal A Tarde por quase 20 anos. Foi professor da Universidade Católica e, anos depois, da UFBA, onde fundou, em 1959, o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, durante a gestão do professor Edgard Santos, época em que retornava da França, onde fez doutorado. A Geografia na Bahia desenvolveu a partir de então, através do empenho de Milton Santos, que trouxe para o laboratório da localidade, professores e pesquisadores de outros estados, criando assim um núcleo de estudos.

Nesta mesma época, o geógrafo foi o representante civil do governo Jânio Quadros, na Bahia, e presidente da Comissão de Planejamento Econômico da Bahia, apesar de nunca ter sido um político, no sentido partidário do termo. Em 1964, foi preso pela ditadura militar e, ainda na prisão, recebeu convites de várias universidades internacionais. Durante o exílio ensinou e fez consultorias para várias universidades dos Estados Unidos, Venezuela, Tanzânia, Japão e Canadá. Doutorou-se em Geografia pela Universidade de Strasbourg (França), lecionou em Toulouse, Nova Iorque, Bordeaux, Paris, Toronto, Lima, Dar-Es-salaam, Venezuela e Federal do Rio, antes de ingressar na USP, em 1983.

O geógrafo, que se tornou uma referência em epistemologia e um escritor de apurado estilo, retornou ao Brasil em 1978, quando lançou o livro Para Uma Geografia Nova, considerado um marco na Geografia brasileira. Foi, então, lecionar na Universidade Federal do Rio de Janeiro e, depois, na Universidade de São Paulo. Em 1995, já no reitorado do professor Luiz Felippe Perret Serpa, foi reintegrado à UFBA. Considerado o maior geógrafo metodológico do mundo e um dos mais respeitados nos meios acadêmicos e científico internacional, o professor Milton Santos é detentor do troféu máximo de Geografia: o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, uma espécie de Prêmio Nobel da especialidade, atribuído por universidades de 50 países, recebido em 1994, além de uma série de títulos honoríficos outorgados por diversas universidades nacionais e estrangeiras. Ele já recebeu 12 títulos de Doutor Honoris Causa, em universidades do Brasil e exterior (UFBA, 1986; Estadual do Centro Oeste, 1995; Federal de Sergipe, 1995; Federal do RS, 1996, Estadual do Ceará, 1996; Toulouse, França, 1980; Buenos Aires, 1992; Complutense de Madrid, 1994; Barcelona, 1996, entre outros; o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, 1995; o Prêmio USP pela Orientação da Melhor Tese - Ciências Humanas, 1993; a Medalha do Mérito da Universidade La Habana, Cuba, 1994; a Medalha Tomé de Souza da Câmara Municipal de Salvador, 1994; Medalha da Câmara Municipal de São Paulo, 1995, e o Prêmio do Mérito Tecnológico do Sindicato dos Engenheiros do Est. de SP, 1995.

Ex-professor de universidades na França, EUA, Canadá, Peru, Venezuela, Tanzânia e da Unicamp, Milton tem hoje uma das mais extensas bibliografias brasileiras, certamente a mais opulenta bibliografia entre os geógrafos latino-americanos, com mais de 40 livros publicados (a maioria centrada no estudo do subdesenvolvimento, das relações de espaço na sociedade e das cidades do Terceiro Mundo) e 300 títulos em artigos científicos, prefácios e pequenas publicações, além da editoria de 14 coletâneas. Mais que geógrafo, Milton Santos tornou-se uma referência em epistemologia e um escritor em grande estilo. Tudo isso vem de longe e de uma disciplina obstinada de trabalho. Desde a escritura de O Centro da Cidade do Salvador (1959) ele se insurgia para o projeto de compreender a transformação do espaço do homem e, por consequência, do espaço e do tempo. Metamorfoses do Espaço Habitado; Pensando o Espaço do Homem; Técnica, Espaço, Tempo são os títulos de obras que avança na elaboração de um caminho da técnica para o homem, e em favor do lugar, tempo e emoção. Seu livro O Espaço Dividido (1975), que desenvolve uma teoria sobre o espaço geográfico urbano e o subdesenvolvimento, é hoje um clássico mundial do assunto. Em 1978, foi publicado Por uma Geografia Nova.

Em 1996 ele foi homenageado na USP, onde é professor da Pós-Graduação em Geografia. As homenagens começaram com a realização do seminário internacional O Mundo do Cidadão. Um Cidadão do Mundo, ao qual compareceram representantes de 17 universidades internacionais. O Mundo do Cidadão do Mundo foi também o nome de um dos lançamentos que marcaram as homenagens ao geógrafo. Organizado por cinco professores, brasileiros e estrangeiros, que foram colegas de Santos durante sua vida acadêmica. Ensaios de Geografia Contemporânea, Milton Santos, Obra Revisitada, igualmente assinado por vários autores (estudantes da USP) é outro título que gira em torno do seu trabalho. O professor emérito da USP publicou em 1997, A Natureza do Espaço - Técnica e Tempo, Razão e Emoção. O espaço é a porta de entrada que o autor emprega para refletir sobre a nossa contemporaneidade, já que nele se materializam os anseios, os medos e as aspirações de toda uma época, entremeados por tensões da existência humana. Ele tem declarado que uma importante tarefa do início do próximo século será “a recriação da cidadania, mediante uma outra globalização, horizontalizada e não verticalizada, como a atual”. Ele acredita existir espaço para a emoção, que é “o que une os homens”. Em uma de suas palestras discorreu sobre o que vê como a reemergência das massas em uma fase popular da história e sobre a contrapartida de um mundo em que os objetos técnicos começam a dominar o homem: a produção ilimitada de carências e de escassez. Milton Santos é hoje o geógrafo brasileiro mais conhecido no mundo. Este grande brasileiro, morreu em São Paulo-SP, no dia 24 de Junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Foi um grande homem, progressista, comprometido com o desenvolvimento intelectual. O Brasil perde um grande cientista. A academia brasileira está órfão.
Parabéns Milton. Que surjam muitos e muitos Milton em nosso país.