Os ventos da mudança vieram da Europa e, em seguida se espalharam pela América. Primeiro aconteceu na Itália. Criado em 1962 por uma dupla de roteiristas italianas, as irmãs Ângela e Luciana Giussani, Diabolik o homem dos mil disfarces é uma mistura de vários clichês do gênero policial, vestido com uma malha colante negra que só deixava à mostra seus olhos e sobrancelhas. A diferença marcante, porém, é que Diabolik, ao contrário de bandidos galantes que quase nunca assassinavam suas vítimas não tinha o menor pudor de se valer dos crimes mais bestiais para roubar e saquear. Ele construía seus roubos em cima de cadáveres, aterrorizando e enlouquecendo suas vítimas. A atração do público foi quase imediata. De mensal a revista passou para quinzenal em 1964. Começava uma verdadeira onda de idolatria a este tipo de personagem, com imitações famosas de Diabolik como Sadik, Kriminal e Satanik. No início dos anos 70, a Editora Brasil América Ltda (EBal) adquiriu os direitos do personagem, mas desistiu de lançar a revista por considerar suas aventuras muito violentas. Em 1981, a extinta Editora Vecchi lançou uma edição mensal do personagem que durou cerca de um ano. Em 1990, a Editora Record investiu na revista.
Ainda na Itália, no final dos anos 70, outro personagem fez furor nos quadrinhos: o raivoso, apaixonado e cibernético Ranxerox, que usa brinco na orelha esquerda e fala muito palavrão. O alucinado robô faz de tudo para proteger sua amada – uma ninfeta de 13 anos. Desde o mais carregado clima de violência, misturando pancadarias, sexo, drogas e rock and roll, até os momentos de demência do ciberpunk italiano, tudo é motivo de delírio nos textos de Stefano Tamburini (que morreu vitima de uma overdose) e nos belíssimos desenhos de Gaetano Liberatore. OI estilo de Liberatore e a crueza dos temas de Tamborini deixaram um legado aos desenhistas de HQ. O gibi espelha o espírito da década de 80.
Ainda na Itália, no final dos anos 70, outro personagem fez furor nos quadrinhos: o raivoso, apaixonado e cibernético Ranxerox, que usa brinco na orelha esquerda e fala muito palavrão. O alucinado robô faz de tudo para proteger sua amada – uma ninfeta de 13 anos. Desde o mais carregado clima de violência, misturando pancadarias, sexo, drogas e rock and roll, até os momentos de demência do ciberpunk italiano, tudo é motivo de delírio nos textos de Stefano Tamburini (que morreu vitima de uma overdose) e nos belíssimos desenhos de Gaetano Liberatore. OI estilo de Liberatore e a crueza dos temas de Tamborini deixaram um legado aos desenhistas de HQ. O gibi espelha o espírito da década de 80.
Com a morte do ditador Franco, veio a liberação política, o fim da censura e do isolamento cultural. A Espanha redescobriu o mundo e hoje Barcelona é a capital da nova HQ espanhola. O desenhista espanhol Daniel Torres criou, em 1982, Opium, um sofisticado vilão oriental que se veste como Mandrake e não se vale de meios-termos. Ele encarna a essência da crueldade e do sadismo para colocar Mundópolis sob seu jugo, com seus asseclas, a fêmea fatal Acapulco Gin e o gigante careca e barbudo Gulp. Torres utiliza o tom debochado com requintada tendência gráfica de traços preciosos, limpos e bem definidos no melhor estilo “ligne claire”.
Faces de uma mesma moeda corrompida
Os anos 80 foram violentos e os vilões roubaram as cenas dos heróis americanos. O rei do Crime, recriado por Frank Miller, passou por transformações significativas. Coringa é o personagem de maior impacto nas aventuras de Batman. O Anti-Monitordeu fim ao Flash e Super-Moça. John Byrne mudou a trajetória de Lex Luthor – ele cometeu um crime perfeito e continua solto. Os vilões estão gozando de um bom status entre os leitores. Há uma nova geração de roteiristas que têm colocado os bandidos em primeiro plano. E os leitores apóiam. Sinal dos novos tempos.
Frank Millerr, junto com Bill Sienkiewicz, produziu uma HQ de suspense psicológico, temperado com espionagem, ocultismo e humor negro, para contar a história da ninja Elektra Assassina. Coringa mata, no Oriente Médio, sem piedade, o segundo companheiro de Batman, Jason Todd, o Robin. Tudo isso sob o aplauso do público leitor que, em massa, ligou para a editora pedindo a morte do pupilo Robin.. Ainda o psicopata palhaço do crime ao lado de supercriminosos como Duas Caras, Chapeleiro Maluco, Cara de Barro e outros assumem o comando do sanatório Arkhan Asylum, onde estão presos e fazem os funcionários reféns. Exigem a presença de Batman para libertá-los. O Morcego aceita, para se arrepender até a morte. Cada insano que Batman encontra esmera-se em torturas psicológicas. Para eles, não há diferença entre os internos de Arkhan e o herói. São faces de uma mesma moeda corrompida. A graphic novel tem arte de Dave Mckran (o mesmo de Orquídea Negra) e roteiro de Grant Morrison. Esse mesmo tema foi abordado na premiada A Piada Mortal.
No Brasil, os quadrinhos progressivos, que espelham a realidade da sociedade atual, estão circulando via underground, à margem, pelos milhares de fanzines espalhados pelo país. Um ótimo exemplo disso é o trabalho de Marcatti, só para gente com estômago forte. Taras, sujeira e larvas infestam seus quadrinhos. Basta conferir pelos nomes dos seus gibis: Lodo, Tralha. Outro bom exemplo é o cartunista Angeli, com suas tiras diárias, gags pinçadas na boemia dos bares paulistanos e nos resquícios de ativismo político. Ele criou Bob Cuspe, personagem que não escolhe vítimas para seus ataques salivares. Série Vilões-2. Reportagem publicada originalmente no jornal A Tarde 05/05/1991 (Gutemberg Cruz)
Faces de uma mesma moeda corrompida
Os anos 80 foram violentos e os vilões roubaram as cenas dos heróis americanos. O rei do Crime, recriado por Frank Miller, passou por transformações significativas. Coringa é o personagem de maior impacto nas aventuras de Batman. O Anti-Monitordeu fim ao Flash e Super-Moça. John Byrne mudou a trajetória de Lex Luthor – ele cometeu um crime perfeito e continua solto. Os vilões estão gozando de um bom status entre os leitores. Há uma nova geração de roteiristas que têm colocado os bandidos em primeiro plano. E os leitores apóiam. Sinal dos novos tempos.
Frank Millerr, junto com Bill Sienkiewicz, produziu uma HQ de suspense psicológico, temperado com espionagem, ocultismo e humor negro, para contar a história da ninja Elektra Assassina. Coringa mata, no Oriente Médio, sem piedade, o segundo companheiro de Batman, Jason Todd, o Robin. Tudo isso sob o aplauso do público leitor que, em massa, ligou para a editora pedindo a morte do pupilo Robin.. Ainda o psicopata palhaço do crime ao lado de supercriminosos como Duas Caras, Chapeleiro Maluco, Cara de Barro e outros assumem o comando do sanatório Arkhan Asylum, onde estão presos e fazem os funcionários reféns. Exigem a presença de Batman para libertá-los. O Morcego aceita, para se arrepender até a morte. Cada insano que Batman encontra esmera-se em torturas psicológicas. Para eles, não há diferença entre os internos de Arkhan e o herói. São faces de uma mesma moeda corrompida. A graphic novel tem arte de Dave Mckran (o mesmo de Orquídea Negra) e roteiro de Grant Morrison. Esse mesmo tema foi abordado na premiada A Piada Mortal.
No Brasil, os quadrinhos progressivos, que espelham a realidade da sociedade atual, estão circulando via underground, à margem, pelos milhares de fanzines espalhados pelo país. Um ótimo exemplo disso é o trabalho de Marcatti, só para gente com estômago forte. Taras, sujeira e larvas infestam seus quadrinhos. Basta conferir pelos nomes dos seus gibis: Lodo, Tralha. Outro bom exemplo é o cartunista Angeli, com suas tiras diárias, gags pinçadas na boemia dos bares paulistanos e nos resquícios de ativismo político. Ele criou Bob Cuspe, personagem que não escolhe vítimas para seus ataques salivares. Série Vilões-2. Reportagem publicada originalmente no jornal A Tarde 05/05/1991 (Gutemberg Cruz)
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