Histórias, aventuras e desventuras dos quadrinhos envolvem permanentemente questões que giram em torno do certo/errado, bem/mal. Seus discursos, nesse sentido, incorporam inevitavelmente uma ética e uma moral com as quais estruturam a visão de mundo na qual agem seus personagens. Uma ética, kantiana, para histórias em quadrinhos porque envolvida por julgamentos de valor universal, princípios e leis morais, regras e normas que fundamentam ações humanas independentemente de circunstâncias, uma ética categórica do bem, do correto, do perfeito dever.
Tem heróis que perdem a direção e viram bandidos. E até vilões que mudaram de lado como Feiticeira Escarlate, Mercúrio e alguns outros. Tiveram seus motivos e o roteirista conseguiu argumentos convincentes. Em um artigo sobre vilões, o comentarista Rafael Cardoso no site Sobrecarga (www.sobrecarga.com.br) afirmou: “Os autores devem saber fazer o equilíbrio entre histórias com vilões antigos, novos e histórias sem tais antagonistas. Usar o `cinza` para mostrar que muitas vezes os vilões podem estar certos e os heróis errados ou fazer desafios que não necessariamente envolvam um antagonista é uma outra boa opção, se não for usada em excesso. Assim, evitamos aparições normais, chatas e rotineiras. Queremos os vilões que realmente amamos odiar”.
Super-heróis são seres além da dualidade que marcam a relação da consciência humana com o mundo, isto é, que não comungam com o mal como a própria condição do bem, e que o encaram como “exterior”: o mal como “estranho”, deve ser eliminado. São seres cuja prática, produtora exclusiva desse bem unilateral, em nome do qual agem, não supõem qualquer ato voluntário de vocação ou vontade, mas imposição fortuita do destino – intervenções sobrenaturais, acidentes de laboratórios, pedras alienígenas, palavras mágicas etc – que os transcende como sujeitos, solitários, rotineiros, previsíveis e banais.
Por outro lado, a prática do mal por vilões de HQs são cidadãos comuns que decorre de atos livres e voluntários, atos sim de vontade e querer. De um lado está a linearidade e a mesmice das atitudes de um Batman ou Homem Aranha. De outro, a diversidade, criatividade e complexidade de comportamentos variáveis de um Coringa, um Pingüim ou um Luthor. Tal como posto pelas histórias em quadrinhos – o bem como dever irrevogável, o mal como prazer inquestionável -, a imprevisibilidade do mal diante do bem irredutível confirma virtudes e delícias da transgressão. “Aquele que transgride não apenas quebra uma norma. Ele vai a algum lugar onde os
Tem heróis que perdem a direção e viram bandidos. E até vilões que mudaram de lado como Feiticeira Escarlate, Mercúrio e alguns outros. Tiveram seus motivos e o roteirista conseguiu argumentos convincentes. Em um artigo sobre vilões, o comentarista Rafael Cardoso no site Sobrecarga (www.sobrecarga.com.br) afirmou: “Os autores devem saber fazer o equilíbrio entre histórias com vilões antigos, novos e histórias sem tais antagonistas. Usar o `cinza` para mostrar que muitas vezes os vilões podem estar certos e os heróis errados ou fazer desafios que não necessariamente envolvam um antagonista é uma outra boa opção, se não for usada em excesso. Assim, evitamos aparições normais, chatas e rotineiras. Queremos os vilões que realmente amamos odiar”.
Super-heróis são seres além da dualidade que marcam a relação da consciência humana com o mundo, isto é, que não comungam com o mal como a própria condição do bem, e que o encaram como “exterior”: o mal como “estranho”, deve ser eliminado. São seres cuja prática, produtora exclusiva desse bem unilateral, em nome do qual agem, não supõem qualquer ato voluntário de vocação ou vontade, mas imposição fortuita do destino – intervenções sobrenaturais, acidentes de laboratórios, pedras alienígenas, palavras mágicas etc – que os transcende como sujeitos, solitários, rotineiros, previsíveis e banais.
Por outro lado, a prática do mal por vilões de HQs são cidadãos comuns que decorre de atos livres e voluntários, atos sim de vontade e querer. De um lado está a linearidade e a mesmice das atitudes de um Batman ou Homem Aranha. De outro, a diversidade, criatividade e complexidade de comportamentos variáveis de um Coringa, um Pingüim ou um Luthor. Tal como posto pelas histórias em quadrinhos – o bem como dever irrevogável, o mal como prazer inquestionável -, a imprevisibilidade do mal diante do bem irredutível confirma virtudes e delícias da transgressão. “Aquele que transgride não apenas quebra uma norma. Ele vai a algum lugar onde os
outros não vão; e conhece algo que eles não sabem”, segundo Susan Sontag. Assim, os super heróis são seres a serviço exclusivo da ordem e do bem, no mundo em permanente da desordem e do mal.
Enquanto os heróis são corretos e de beleza física, os bandidos são o oposto. Basta observar o Rei do Crime (figura obesa), Dr.Octopus (gordo, baixo e feio), Kaisen Gamorra, o Consertador e Dr. Silvana (velhos) ou mesmo os pequenos como o gênio tecnológico Chip e o duende da Quinta Dimensão Mxplt. Assim o herói apresenta a imagem que o mercado propõe ao homem moderno: belo, forte e bem sucedido, enquanto o bandidão é feio, fraco e sem sucesso, uma figura desprezível.
No Brasil temos também vilões, e como temos. O desenhista Laerte criou nas histórias de Overman, o estranho herói da tiras “Piratas do Tietê”. O personagem chegou para liquidar o mito de que herói não pode falhar. E nem todos os vilões de Overman almejam o controle do planeta. A maioria se dedica às suas vilanias por puro espírito de porco, praticando o mal através de trotes telefônicos, escritos em nota de dinheiro ou peidos – como os do temível Maníaco Flatulento.
Vale lembrar o filme de Kubrick, “Laranja Mecânica”, o retrato da nossa sociedade narcisista e fascista, o caos em que sociedade e bandido se confundem. Kubrick mostra no que o homem pode se tornar, já que o meio faz o homem. Para o cineasta, a autonomia é o que nos torna humanos. O ser humano cria diversas justificativas para não se enxergar como vilão. Para muitos, o mau são os outros. Enquanto o anti-herói tem conhecimento do que faz para servir a um bem maior (que ele acredita), o vilão faz por uma necessidade, uma essência do mal que vem desde a infância. Não se justifica, mas está ali. Muitas vezes a maldade está em todos, mocinhos e bandidos. A diferença é como cada um lida com ela. Pense nisso e reflita. Série Vilões 4. Final (Gutemberg Cruz)
Enquanto os heróis são corretos e de beleza física, os bandidos são o oposto. Basta observar o Rei do Crime (figura obesa), Dr.Octopus (gordo, baixo e feio), Kaisen Gamorra, o Consertador e Dr. Silvana (velhos) ou mesmo os pequenos como o gênio tecnológico Chip e o duende da Quinta Dimensão Mxplt. Assim o herói apresenta a imagem que o mercado propõe ao homem moderno: belo, forte e bem sucedido, enquanto o bandidão é feio, fraco e sem sucesso, uma figura desprezível.
No Brasil temos também vilões, e como temos. O desenhista Laerte criou nas histórias de Overman, o estranho herói da tiras “Piratas do Tietê”. O personagem chegou para liquidar o mito de que herói não pode falhar. E nem todos os vilões de Overman almejam o controle do planeta. A maioria se dedica às suas vilanias por puro espírito de porco, praticando o mal através de trotes telefônicos, escritos em nota de dinheiro ou peidos – como os do temível Maníaco Flatulento.
Vale lembrar o filme de Kubrick, “Laranja Mecânica”, o retrato da nossa sociedade narcisista e fascista, o caos em que sociedade e bandido se confundem. Kubrick mostra no que o homem pode se tornar, já que o meio faz o homem. Para o cineasta, a autonomia é o que nos torna humanos. O ser humano cria diversas justificativas para não se enxergar como vilão. Para muitos, o mau são os outros. Enquanto o anti-herói tem conhecimento do que faz para servir a um bem maior (que ele acredita), o vilão faz por uma necessidade, uma essência do mal que vem desde a infância. Não se justifica, mas está ali. Muitas vezes a maldade está em todos, mocinhos e bandidos. A diferença é como cada um lida com ela. Pense nisso e reflita. Série Vilões 4. Final (Gutemberg Cruz)
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