22 novembro 2006

Shakespeare, virtuoso das palavras


O mais famoso dramaturgo e poeta inglês de todos os tempos. Um virtuoso das palavras e dos sons. William Shakespeare (1564/1616) foi um inventor de palavras em uma escala ímpar na literatura inglesa. Havia 150 mil palavras na língua inglesa em sua época, das quais ele usou cerca de 20 mil, assim suas invenções totalizam mais de 10% de seu vocabulário. Criou palavras transformando substantivos em verbos e vice-versa, ou acrescentando-lhes sufixos.

Há 314 exemplos de uso do prefixo “um” (equivalente ao nosso prefixo “in”). Acrescentou também o prefixo “out”. Muitos desses neologismos não pegaram. Há 322 palavras que apenas Shakespeare usou. Outros foram logo incorporando ao vocabulário. Alguns foram rejeitados na época, mas depois redescobertas. Se ele apenas se divertia com as palavras inventadas outras vezes ele usou palavras curtas para conduzir a trama e produzir ação, como na tensa e concisa cena do assassinato de Macbeth ou mesmo da beleza de A Fênix e a Tartaruga.

A Inglaterra dominava o mundo, a época era musical e o teatro refletia esse amor pela música. A música era usada para sinalizar tragédias ou aumentar a tensão, marcar as mudanças nos personagens ou o tom da ação. Sonho de uma Noite de Verão, Um Conto de Inverno e A Tempestade são peças musicais.

Shakespeare escreveu 39 peças (entre históricas, comédias e tragédias) que chegaram até nós e colaborou em muitas outras. Escreveu também muitos poemas e centenas de sonetos. Durante sua vida, as peças já eram encenadas tanto na Inglaterra como em outros países. De lá para cá foram traduzidas para todos os idiomas conhecidos e encenadas ao redor do mundo. As 103 canções que pontilharam suas peças receberam arranjos de inúmeros compositores, suas obras inspiraram mais de 300 filmes e milhares de adaptações para a televisão, além de terem fornecido material ou idéias para a maioria dos dramaturgos profissionais.

Ele compôs suas peças durante o reinado de Elizabeth I (1558/1603) e de James I que a sucedeu. Em 1592 ele já fazia sucesso como ator e dramaturgo. Mas eram suas poesias – e não suas peças – que eram aclamadas pelo público. Em virtude da peste, os teatros permaneceram fechados entre 1592 e 12594, impossibilitando seu contato com o público. Vênus e Adônis, O Rapto de Lucrécias, dois poemas, e Sonetos tornaram-se famosos por explorar todos os aspectos do amor e trouxeram-lhe reconhecimento como poeta.

Segundo os especialistas, Shakespeare raramente demonstrava com clareza suas opiniões, preferindo deixar pistas e indícios, insinuar e sugerir, a declarar abertamente suas crenças. Seu evangelho é a moderação em todas as coisas. Sua preferência, a tolerância. Ele aceitava as pessoas como elas eram, imperfeitas, inseguras, fracas e falíveis ou voluntariosas e tolas, muitas vezes desesperadas e, mesmo assim, sempre interessantes, em geral dignas de amor ou comoventes.

“Muitas vezes, nossos remédios estão dentro de nós”. “Melhor um tolo espirituoso do que um espírito tolo”. “A gratidão é o único tesouro dos humildes”. “Somos o tecido de que são feitos os sonhos”. “As mais belas jóias, sem defeito, com o uso o encanto perdem”. São algumas das citações de Shakespeare. Seus textos são animados com palavras e frases que ele retirava de ruas, invenções verbais. Elas se tornaram parte do idioma, às vezes da fala cotidiana. Ele espalhou milhares de confetes verbais sobre o nosso discurso. “Morrer – dormir – Dormir! Talvez sonhar”, “o resto é silêncio”, “o destino me chama”, etc.

Shakespeare foi um homem de tantas palavras que muitas vezes as usamos de maneira quase inconsciente suas citações. “Ser ou não ser, eis a questão” (Hamlet), “Quanto um tempo se estende numa palavra breve”. “Quanto longos invernos e quatro pródigas primaveras. Findam numa palavra: tal o respirar dos reis” (Ricardo II), “a vida...é uma história contada por um tolo, cheia de som e fúria, significando nada” (Macbeth).

Para o crítico norte americano Harold Bloon, a arte de Shakespeare é tão infinita que nos contém e há de continuar abraçando os que vierem depois de nós. As suas peças nos lêem de maneira definitiva. E não é à toa, portanto, que depois de Jesus, Hamlet é a figura mais citada no Ocidente.


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