A telenovela é fruto de vários antecedentes. Na sua formação estariam presentes entre outros, o melodrama teatral, o romance europeu do século 19; o romance em folhetim, por jornal, também no século 19; o romance em folhetim, por entregas (fascículo); a fita em série (seriado) norte americano. A radionovela; as histórias em quadrinhos e a fotonovela. Assim, o folhetim, nascido na França nos anos 30 do século XIX, irradia-se pela Europa, cruza o Atlântico, alcança a América, espraiando-se pela América Latina. O cinema o incorpora (a fita em série é um exemplo), o rádio dá-lhe sonoridade através da radionovela, as histórias-em-quadrinhos e a fotonovela roubam-lhe as páginas dos jornais e revistas com o gancho “continua no próximo capítulo”.
O melodrama (originário do século 18) ajusta-se facilmente na programação televisiva e renasce planamente na telenovela, comovendo e prendendo o interesse de milhões de telespectadores, assim como o fizeram as peças desse gênero de teatro com as platéias do passado. A narrativa envolve amores impossíveis, intrigas, conspirações, mistérios, segredos, crianças trocadas, filhos perdidos, juramentos, passagens secretas, noites tempestuosas, cortadas por relâmpagos e trovões. Tudo, de fácil apelo sentimentalista que, aos olhos do leitor desenha-se o sofrimento humano. O embate entre o bem e o mal (virtude e vício) é estruturado numa cenografia e paisagens por onde a câmera passeia, utilizando uma linguagem de planos que vão do geral ao close, valorizada pela iluminação e uma trilha musical adequadas à criação da ambientação necessária à história.
Tudo marketing. As roupas das personagens são vendidas em grandes lojas, os alimentos também, além da trilha sonora vendidas em CDs ou mesmo a divulgação do banco, do produto de beleza etc etc. A intenção explícita é cativar o público, pois o sucesso traz ao autor, produtor e atores e prestígio e retorno financeiro. Assim para se chegar a um grande sucesso é necessário abrir várias concessões para agradar platéias diferentes, tornando-o muitas vezes, graças à artificialidade da intriga, simplório e apelativo. Por outro lado, ao se aproximar da crônica da época, o melodrama trabalha elementos de clichê – os ingredientes de uma receita – com vestes de atualidade.
Valendo-se de pesquisas, ao monitorar as tendências e a reação do público, a telenovela não só procura oferecer histórias com temáticas que o agradem, mas também dá novos rumos à trama que está no ar, permitindo ao autor valorizar, suprimir ou introduzir personagens e criar novas peripécias. Se a novela é um grande sucesso, o autor “estica” mais o drama. Assim, apoiando-se na exploração de motivos sentimentais, na dinâmica da ação e no aspecto visual do espetáculo como um todo, que o autor teve a intriga e domina o gênero. As surpresas que se desdobra a cada dia, as fortes emoções, arranjos visuais e sonoros, tudo na intenção de seduzir o espectador que, eletrizado no seu lugar, assiste ao desenrolar da história e aos desdobramentos inesperados da trama, ora à base do pranto ou de indignação.
Em 1958 foi produzida a primeira telenovela do México, “Senda prohibida!. No Brasil, a primeira experiência de telenovela data de 1951 como “Sua vida me pertence”, transmitida duas vezes por semana. O ciclo das telenovelas diárias começaria mesmo em 1963, com “2-5499 Ocupado”, mas despertaria pela primeira vez a comoção popular só no ano seguinte, com a versão nacional de “O direito de nascer”. Com o tempo o Brasil e o México se tornaram agentes ativos do mercado latino americano. Em sua obra “Eu Compro Essa Mulher”, Cristiane Costa afirma que “no México, assim como no Brasil, a democratização política não foi acompanhada da democratização da televisão, a não ser daquela que apela para a ´popularização´ da programação, como sinônimo de baixa qualidade estética e de conteúdo. Nos dois países, o sistema de concessões de canais de TV é bastante permeável à corrupção”. Em seu trabalho sobre novelas ela conclui que os melodramas mexicanos e brasileiros mais se aproximam do que se diferenciam. “Nas telenovelas latino americanas, a questão social será tão silenciosa quanto obsessivamente repetida”.
É antológico a cena final de Vale Tudo (Globo, 1988), de Gilberto Braga em que a personagem vivida pelo ator Reginaldo Farias, responsável por golpes no estilo “crime de colarinho branco”, foge de helicóptero e do alto, a paisagem distanciando-se, faz o gesto caracterizado de “dar uma banana” ao país e aos que aqui ficaram. Realidade da atual situação do país com os políticos? O que predomina no folhetim eletrônico é o final feliz, pois talvez fosse crueldade demais para com o público que acompanha a luta pela vitória do amor e do bem, frustrá-lo com um desenlance infeliz, não seria “comercialmente” correto.
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