04 agosto 2022

Caetano Veloso: 80 anos de vida (02)

 

“Caetano Veloso é, certamente, uma das mais 'inexplicáveis' personalidades brasileiras. Não apenas por ser um artista polêmico e camaleônico, cuja força sempre esteve na capacidade de escapar às classificações e desautomatizar chaves convencionais de interpretação, mas também por se tratar de alguém que não cansou de se auto explicar ao longo dos seus quarenta nos de vida artística (iniciada em 1965), a ponto de parecer esgotar tudo o que de novo se poderia dizer a seu respeito. Ao mesmo tempo, continua a atrair para si a atenção de um público imenso – dentro e fora do país -, mantendo-se como um foco de controvérsias a exigir sempre novas explicações. Quer dizer: a 'explicação', aqui, não e dispensável ou redundante. Na verdade, ao atacar a autonomia formal da canção, incluindo uma série de elementos no seu interior – encenação, ruídos, referências visuais, cultura de consumo -, o tropicalismo deu ao discurso conceitual um papel construtivo, transformando a música brasileira em um campo de cruzamento onde as coisas estão todas postas em estado de explicação”, escreveu o arquiteto e ensaista Guilherme Wisnik no livro Caetano Veloso. Folha Explica, 2005.

 


Nos anos 70 compôs músicas de sucesso como Tigresa, Odara, Leãozinho e Sampa.

 

Nos anos 1980, Caetano Veloso continuou gravando e produzindo discos, como "Outras Palavras", "Cores, Nomes", "Uns" e "Velô". Em 1986, comandou, ao lado de Chico Buarque, o programa de televisão "Chico & Caetano", onde cantavam e recebiam convidados.

 


Nos anos 1990, voltou a fazer sucesso com o disco "Circuladô", cuja faixa-título era baseada num poema de Haroldo de Campos. Logo em seguida, "Tropicália 2" refez a parceria entre Caetano e Gil.

 


“...Caetano Emmanuel Viana Telles Veloso é o mais imaginativo, versátil e polêmico poeta-compositor no Brasil contemporâneo. Apesar deste compositor der talento versátil conhecer bem as tradições musicais populares, o que mais distingue sua carreira é a experimentação, a inovação e a adaptação criativa de diversos modelos musico-poéticos, muitos deles estrangeiro (…). As primeiras ambições musicais de Caetano ligam-se a objetivos poéticos. Referindo-se ao seus primeiros anos de compositor, ele revela: 'De minha parte, tentava fazer uma poesia como a de Lorca, partindo dos samba de roda de Santo Amaro, tratando-as à maneira de Caymmi, revisto por João Gilberto'. Estas intenções iniciais se expandem quando, em 1965, o jovem compositor se muda para São Paulo e começa a discutir ativamente a expressão musical justamente com outros artistas que estavam surgindo”, escreveu o professor Charles A. Perrone no livro Letras e Letras da MPB (Elo Editora, 1988).

 

Em 1997, saiu o primeiro livro de Caetano, "Verdade Tropical" (Editora Companhia das Letras), um relato pessoal sobre sua visão de mundo. Seu disco "Livro", de 1998, ganhou o prêmio Grammy em 2000, na categoria World Music. Em 2002, Caetano publicaria outro livro sobre a Tropicália: Tropicália – uma história de música e revolução no Brasil.

 


Caetano é um sebastianista joãogilbertiano

 

“Caetano é polêmico, como todos os que retiram da palavra o fundamento estruturador de existências radicais. É importante, como os que escapam do senso comum e investem na afirmação do direito à diferença. Caetano, a cada passo, se realimenta o impulso revitalizador (e sempre atual) que o projeta como liderança natural, consciente e responsável, não se deixando capturar como produto massificado e manipulado. Sem a arrogância dos impostores, tem oferecido, ao longo de quase três décadas, criações que o tornam, simultaneamente, um poeta planetário e brasileiro. Raros são os que conseguem, de fato, harmonizar angulações diversas”, escreveu Ivo Lucchesi e Gilda Korff Dieguez no livro Caetano. Por que não/ Uma viagem entre a aurora e a sombra (Leviatã Publicações, 1993).

 

Ainda na apresentação da extensa obra (400 páginas), eles concluem: “Ser Caetano hoje, portanto, em meio à grandeza de tantos contemporâneos, é tarefa para quem soube ir fundo, retornar à superfície e, por fim, poder dizer: eu sou eu e minha vontade; eu sou os outros na minha verdade. Afinal, um ser-palavra que fundou uma dicção e se move na contradi (c) ção, ocupando a interdi (c) ção dos tempos brasileiros”.

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