13 abril 2020

Mistura que dá samba, rock, blues e jazz (01)


Quadrinhos e música sempre tiveram uma relação de troca. A música sempre esteve presente nos gibis e os personagens de papel viraram música para frequentar as paradas de sucesso. Essa mistura é antiga. Leia alguns exemplos dessas influências mútuas. 


1956 - (ITALIA) – BLUES FOR LADY DAY – A HISTÓRIA DE BILLIE HOLIDAY, do quadrinista italiano Paolo Parisi. Apresenta a trajetória da cantora, considerada a mais emocionante voz da música norte-americana, desde seu início nos clubes baratos do Harlem, EUA, até sua aclamação mundial. Mostra ainda a sua amizade com a lenda Louis Armstrong e Count Basie. E traz também sua relação conturbada com as drogas, álcool, o que, adicionado ao racismo institucionalizado, a levaram para a prisão diversas vezes. Essa HQ traz como abertura dos capítulos títulos de canções de Billie Holiday e toda a narrativa é conduzida por falas da cantora feitas em diversas entrevistas e apresentações.




1962 (EUA) -  JOSIE E AS GATINHAS (Dan DeCarlo, 1963–1982, 1993, Archie) - Seis anos após a sua estreia, as residentes de Riverdale Josie e Melody começaram uma banda, e recrutaram a baixista Valerie para formar Josie and the Pussycats. Desde sua origem, a banda apareceu através de diversos títulos Archies, frequentemente roubando a cena em crossovers. A HQ ganhou uma adaptação em desenho animado pela Hanna-Barbera, onde ficaram mais conhecidas, entre 1970 e 71, e até uma tentativa de ressurreição das personagens em um filme live action em 2001. A animação ganhou o nome Josie e as Gatinhas. Um trio musical real foi formado junto com o desenho animado, tendo lançado um álbum no mesmo ano de estreia da animação.



1968 (BRASIL) - BATMACUMBA (Gilberto Gil / Caetano Veloso) - Faixa do disco Tropicália ou Panis et circencis. Utilizando o prefixo bat, Caetano e Gil formulam uma discussão entre dois pontos da cultura — cultura de massas e a macumba. Ao aproximar esses dois fenômenos, os autores apresentam em uma composição, que toma partido da rítmica própria da crença afro-brasileira, o som inusitado de uma guitarra, transportando o diálogo entre rock e atabaque para o nível do diálogo entre culturas.



1977 (EUA) KISS. O grupo apareceu em uma edição de Howard, o Pato e, pouco depois, a Casa Ideias lançou um quadrinho onde a banda era retratada como super-heróis. Desde então, o Kiss apareceu em três histórias solo pela editora e, em 1997, Todd McFarlane lançou Kiss: Psycho Circus, que durou 31 publicações e foi até os anos 2000. Depois o grupo ainda publicou histórias pela Dark Horse, Platinum Studios, IDW e Dynamite Entertainment.




1980 (ARGENTINA) – BILLIE HOLIDAY. Criada pelos argentinos Carlos Sampayo (roteiro) e José Muñoz (arte), a biografia em quadrinhos da cantora quando sua morte completava 40 anos. Fragmentado, obscuro, passional ao extremo e cujo clima sempre foi marcado por beleza e dor. A HQ chamou atenção principalmente pelo preto e branco de alto contraste de Muñoz e o roteiro noir de Sampayo. A ideia de homenagem dos quadrinistas à cantora é fazer jazz com quadrinhos.




1980 (EUA) - CRISTAL é uma personagem que pertence à Marvel Comics , associada ao grupo dos X-Men. Ela apareceu pela primeira vez em Uncanny X-Men #130 , durante A Saga da Fênix Negra. Cristal foi criada capitalizando o final da moda disco e do glam rock (cujos integrantes usam pesadas maquiagens), principalmente, do grupo Kiss, que fazia sucesso na época nos quadrinhos da editora Marvel. A idéia era lançar uma heroína multimídia, que apareceria também no cinema.  A mutante capaz de converter som em luz é praticamente uma pista de dança ambulante. O visual refletia o espírito dos tempos. Ela foi criada por conta de uma parceria da Marvel com a Casablanca Records.



1984 (EUA) - Para a revista Epic Illustrated, o desenhista americano Philip Craig Russel retomou os conceitos de seu projeto NIGHT MUSIC, fazendo adaptações de óperas – dentre elas Pelleas & Melisande (de Claude Debussy). O artista fez outras adaptações de óperas posteriormente, dentre elas A Flauta Mágica, de Mozart, e O Anel do Nibelungo, de Richard Wagner.




1984 (BRASIL) -  TUBARÕES VOADORES, interpretada por Arrigo e Vânia Bastos. É uma canção construída totalmente a partir das HQs. Trata-se de uma canção construída por módulos musicais (uma técnica também utilizada no LP Clara Crocodilo). Assim, não há linearidade na canção, tampouco o convencional “refrão”, geralmente o aspecto mais apropriável da música popular pelo ouvinte. Além disso, a canção está entremeada por ruídos, por efeitos sonoros, por intervenções rápidas de clusters sonoros que fragmentam o discurso sonoro e dificultam a linearidade da escuta. A canção se comporta como um HQ, quadro a quadro, posto que  Tubarões Voadores foi musicada por Arrigo a partir de uma história em quadrinhos (HQ) de Luiz Gê. Arrigo Barnabé, um dos músicos a integrar o movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulistana, sempre assumiu a influência e o diálogo com os quadrinhos. Havia lançado em 1980 o LP independente Clara Crocodilo, cuja arte da capa é de Luiz Gê. Tubarões Voadores lida com a paranoia da classe média nas grandes metrópoles, às voltas com uma situação absurda, surreal e inevitável, com uma narrativa que casa muito bem com a arte estilizada e o conceito. A história foi então formatada como encarte para acompanhar o LP, depois publicada entre 86 e 87 na revista Circo, que teve Luiz Gê como editor, e em outras poucas ocasiões nos anos seguintes.




1989 (EUA) - ROCK ’N’ ROLL COMICS. O norte-americano Todd Loren fundou a editora independente Revolutionary Comics, para unir suas duas paixões, rock e quadrinhos, e ainda ganhar dinheiro com isso. Essas histórias “não-autorizadas” de bandas de rock famosíssimas receberam a aura que só os quadrinhos podem proporcionar nesta série independente que correu por 4 anos e 63 edições. Entre as bandas roteirizadas estão Guns N’ Roses, Metallica, The Who, Black Sabbath, The Rolling Stones, The Cure, entre outras. Devido a natureza não-licenciada das HQ’s, um bom número de bandas processou o então editor Todd Loren. Até 2013, a série era um item bastante disputado entre colecionadores, quando a Bluewater Productions anunciou uma reimpressão de toda a coleção.



1989 (BRASIL) – O guitarrista do grupo paulista Ira!, Edgard Scandura lança seu primeiro disco solo, onde canta e toca todos os instrumentos: AMIGOS INVISÍVEIS, onde presta tributo aos quadrinhos europeus onde o desenhista da capa segue a linha Moebius. O disco abre com uma vinheta instrumental, segue com uma declaração de amor às heroínas de bandas desenhadas europeias Valentina, Barbarella, Justine, entre outras. Nome da canção: Amor em B.D.

Nenhum comentário: