05 dezembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (08)


ANOS 60



Nos anos 60 o mundo ocidental efervescia. Enquanto os hippies e o movimento psicodélico abriam fronteiras através da meditação do misticismo e da exploração dos estudos alterados da mente, outro movimento procurava a expansão da consciência social. Era tempo do questionar a autoridade através do movimento estudantil, do movimento pelos direitos humanos, do feminismo e da arte.



Os festivais de música foram a grande arena da cultura brasileira. Os concursos principais, transmitidos pelas emissoras Record, Excelsior, Tupi e Globo, deram notoriedade a uma das gerações mais vigorosas da música popular brasileira. Artista mais proeminente da Jovem Guarda (uma ingênua, mas divertida, versão brasileira do rock), Roberto Carlos partia em busca de um público mais maduro com Roberto Carlos, de 1969, disco recheado de canções românticas.




Ziraldo lança o gibi Pererê, a primeira a refletir toda a euforia de uma época, com personagens tipicamente brasileiros. Henfil cria Os Fradinhos. Mauricio de Sousa cria os personagens Mônica, Cascão e Chico Bento. O maior mito do cinema novo, Glauber Rocha torna-se símbolo de sucesso do cinema brasileiro no exterior com os filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. A bossa nova viajou muito bem para os EUA, onde todo mundo dançava o twist. O destaque era para o talento elegantíssimo de Tom Jobim e o canto de João Gilberto. No comando da Jovem Guarda, Roberto e Erasmo Carlos arrebatam as paradas com versões de rock estrangeiros, doces baladas e novos padrões de comportamento jovem. Armados de guitarras e discursos inflamados, Caetano Veloso e Gilberto Gil semeiam a polêmica nos festivais de MPB, colhem prestígio e inventam a Tropicália.



Nos anos 1960 e 1970, os leitores brasileiros se habituaram à produção de revistas de histórias em quadrinhos baseadas em séries televisivas e programas de variedades da televisão. No mesmo ano em que estreava na televisão brasileira, o popular seriado O Vigilante Rodoviário, que trazia as aventuras de um policial da polícia rodoviária federal e seu cachorro Lobo, recebeu versão quadrinizada pelas mãos do desenhista Flávio Colin, para a Editora Outubro, de São Paulo. A trama policial se passava em cidades brasileiras, apresentando episódios singelos que emulavam a série televisiva.




Personagem-título da famosa série de TV brasileira Vigilante Rodoviário, criada em 1959, mas que só estreou em 1961. Era inspirado, em parte, no cowboy mascarado brasileiro, o Vingador. O objetivo da série era de concorrer com Rin Tin Tin, Papai Sabe Tudo e outros. O Vigilante Rodoviário (interpretado por Carlos Miranda) era um policial das estradas, sempre pilotando sua motocicleta Harley Davidson ou o carro Simca Chambord. Na garupa, era acompanhado por um pastor alemão chamado Lobo. A presença do cão policial teve que ser explicada num episódio, uma vez que a presença de cachorros não era permitida na polícia da época. Entre os atores convidados para a série estavam Ary Toledo, Stênio Garcia (que, curiosamente, cerca de 20 anos depois também viveria um herói das estradas televisivas: o caminhoneiro Bino de Carga Pesada), Juca Chaves, Etty Fraser, Elísio de Albuquerque, Luiz Guilherme, Geraldo Del Rey, Milton Ribeiro, Fúlvio Stefanini, Mário Alimari, Lola Brah, Lucy Meirelles, Amândio Silva Filho, Sérgio Hingst e Tony Campello.




O personagem fora idealizado e dirigido por Ary Fernandes, inspirado na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, criada em 1948 por Ademar de Barros, governador de São Paulo, para dar emprego aos Pracinhas por lutarem na Segunda Guerra Mundial. A série chegou aos gibis em 1963 e contava as aventuras do Inspetor Carlos (Carlos Miranda) e seu cão Lobo (King), que lutava contra o crime sobre uma moto Harley Davidson 1952 ou em um possante carro Simca Chambord ano 1959. Foram produzidos em película cinematográfica (mais cenas) 38 episódios, que seria depois reprisados pelas emissoras Excelsior, Cultura, Globo e Record. Flavio Colin adaptou os  primeiros roteiros da TV. Depois, foi substituido por Osvaldo Talo a partir do número nove. Quando vigilante rodoviário saiu, a Outubro já publicava o gibi do Capitão 7, super herói vivido pelo ator e ex lutador de boxe Aires Campos, na TV Record, que liderava a audiência das19h em SP durante seis anos a partir de 1955. O seriado foi um grande sucesso, mas os políticos da época o tornaram inviável financeiramente: antes mesmo de completar a primeira temporada, aumentaram os custos das fitas, graças às instruções 204 e 208, promulgadas por Jânio Quadros. Ou seja, taxaram os produtos importados em 100%, aumentando absurdamente o valor dos materiais utilizados na realização do "show". Para pegar carona no sucesso de TV, a Editora Outubro, dirigida por Jayme Cortez e Miguel Penteado, produziu um gibi do Vigilante Rodoviário. Os roteiros de Gedeone Malagola eram bem fieis às tramas da TV. No início, os desenhos ficaram a cargo de Flavio Colin e posteriormente passaram para Osvaldo Talo, que assumiria também os roteiros. O título teve 12 edições e um almanaque, publicado entre 1962 e 1964.




O primeiro super-herói brasileiro nasceu na TV Record de São Paulo: Capitão 7. Estreou em 24 de outubro de 1954 e durou até o ano de 1966 – 12 anos no ar -, atingindo 503 episódios, alguns alcançando a marca de 92% de audiência no horário. Idealizado pelo diretor Rubens Biáfora, o personagem foi inspirado em heróis dos quadrinhos americanos como Superman e Flash Gordon. Estrelado pelo galã Ayres Campos que se revelou melhor empresário que artista. Patenteou a personagem e o licenciou para vários produtos e arranjou um patrocinador para o programa, o leite Vigor. Um produto altamente consumido pelas crianças, logo o gibi Capitão 7 também seria licenciado. No papel da namorada do protagonista, a atriz Idalina de Oliveira. O gibi inspirado na série chegou às bancas em novembro de 1959, lançado pela editora paulistana Continental. O primeiro número foi produzido pelo luso-brasileiro Jayme Cortez, mas artistas como Julio Shimamoto, Getúlio Delphim e Juarez Odilon se revezavam na equipe de criação da revista. O herói passou a voar sozinho, sem a utilização de espaçonave, e erguer pesos indescritíveis com seus poderosos braços. Em sua identidade civil, ele era o cientista químico Carlos. Ainda criança, ele ganhou seus poderes de um alienígena, que o levou para ser educado e treinado em outro planeta. A revista chegou a estampar o rótulo do patrocinador, bem como o de camisetas e fantasias para crianças. Na época, Aires Campos se preocupava em manter uma fábrica de uniformes do herói, com fantasias até hoje de todos os outros super heróis no Brasil. O personagem usava um uniforme, malha colante azul com o número sete em amarelo no peito. O capacete, uma mascara nos olhos e um bigode apareceram apenas nos primeiros episódios da série. Mais tarde, o herói passou a aparecer de cara limpa. De olho no sucesso da revista, a fábrica de brinquedos Estrela encomendou à Continental a produção do gibi de outro herói, o Capitão Estrela, de Juarez e Cortez. O gibi do Capitão 7 durou até meados de 1964. Foram 60 edições e o super herói só voltou às páginas impressas em março de 2010, como forma de resgate e homenagem a um dos personagens mais icônicos do Brasil, sendo apresentada a uma nova geração de leitores na revista Almanaque Meteoro n.01. O gibi só acabou porque o próprio Ayres Campos proibiu a publicação. O ator alegou que não recebia royalties pelo uso da imagem do herói. O personagem também foi escrito por Gedeone Malagola e Helena Fonseca. Desenhada também por Osvaldo Talo e Sergio Lima. Nos quadrinhos o Capitão Sete teve um único uniforme que ele guardava comprimido numa caixa de fósforos, era o tímido químico Carlos, namorado de Silvana, a filha de um tenente da Interpol. O super herói se parecia com o Super Homem, quando voava, ainda mais por usar também um uniforme azul. Curiosidade: o número do Capitão é uma referência à TV Record, sintonizada no canal 7 paulistano. Assim era fácil lembrar que ele era o "herói do 7" ou "herói da Record".


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