12 dezembro 2019

Sesquicentenário dos quadrinhos brasileiros (12)


ANOS 90



1990/2000 - A última década do século é a da realidade virtual. As novas tecnologias de realidade virtual já permitem que as pessoas, literalmente, entrem no computador para interagir com os atores colocados em cena. Assim, usando um capacete criador de realidade virtual, entra-se no filme. O relativismo de todos os conceitos e noções políticas, culturais, ética e estética é uma das características mais marcantes de nossa época. Não há mais qualquer noção de bem ou mal, de certo ou errado, de belo ou feio que seja aceita sem contestações por uma parcela significativa de uma sociedade. 

O “tudo é relativo” de Albert Einstein transformou-se na síntese, no emblema mais característico de nossos dias. Se em épocas anteriores eram necessários longos e dolorosos processos para que os homens abandonassem suas crenças, seus princípios morais e sua fé, hoje questiona-se o próprio sentido de se adotar ou defender qualquer sistema de valores. “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”, disse o escritor americano Marshall Berman, recorrendo a um discurso de Próspero, personagem central da peça Tempestade, de William Shakespeare. Esta é uma descrição exata de nossos tempos.




Aline – Tira criada  por Adão Iturrusgarai em 1993 e publicada inicialmente em 1996 no jornal Folha de S. Paulo, até o ano de 2004. Em 2014, para comemorar o vigésimo aniversário da tira, Adão retomou a personagem de Aline com quarenta anos, agora com problemas inerentes à idade e uma filha, Luna, mas 'mais poliamor do que nunca'. Em suas histórias, Aline vive um relacionamento amoroso a três, fazendo humor sobre questões como feminilidade e liberação sexual. A garota trabalha fora numa loja de discos, odeia cozinhar e arrumar a casa, e mora com dois homens: Otto e Pedro.




Fala, Menino! - Projeto de literatura e quadrinhos criado por Luis Augusto (1971-2018), cartunista e escritor baiano, publicado em jornais e livros desde 1996 e na tv, desde 2005. Com a honestidade da perspectiva infantil, Luis Augusto fala da criança como o ser inteligente e crítico que é, capaz de discutir o comportamento adulto. E junto com o Lucas, o personagem central da turma, busca discutir o relacionamento do mundo adulto com a infância, talvez o único momento da vida em que somos quem nascemos para ser, sem tantas máscaras sociais, sem tantos preconceitos... A série conta as diferenças físicas ou sociais, de superação de limites, de inclusão, de responsabilidade social com a naturalidade doce e subversiva das lições que apenas a infância sabe dar.



Jab, um Lutador – Criação de Flávio Luiz em 1999 de forma independente. Tiras de um cão dálmata, atrapalhado com seus próprios limites, que ele busca a todo custo vencer, se envolvendo nas mais variadas modalidades esportivas. Jab tem um sonho: tornar-se campeão de boxe (ou de qualquer outro esporte). Ele pode não vencer suas lutas (o que geralmente acontece), mas nunca desiste de lutar. Está sempre experimentando novos esportes, modismos e novidades. Apesar de ser um pouco desastrado, é um cara ´gente boa´, amigo fiel e com um grande coração.




Xaxado - Da simplicidade do traço à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto com seus pais e amigos. Sensível às frustrações de seu tempo, demonstra especial preocupação com a desigualdade social. O personagem deu origem a uma turma que ocupou diariamente, ao tempo de 12 anos, as páginas do jornal baiano A Tarde, a partir de 1998. Criação do quadrinista Antônio Cedraz (1945-2014), a Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente brasileiros e já recebeu diversos prêmios. Todo o trabalho tem um bom acabamento visual das personagens, com precisão no traço e originalidade temática. Através de um enredo fluente, falando de um cotidiano em que se misturam o real e o simbólico, o objetivo e o subjetivo, o autor constrói uma atmosfera da qual é difícil ficar alheio.




Aú, o Capoeirista - No final de 2008 o baiano Flávio Luiz lança o álbum Au, o Capoeirista tendo um negro como protagonista. Humor e aventura de forma bem equilibrada, aborda vários elementos da cidade de Salvador como música e culinária. Exímio lutador, Au vale-se de sua astucia e inteligencia para solucionar os problemas. A história, ambientada em Salvador, é repleta de aventura, humor, consciência ecológica e mostra o cotidiano do capoeirista mirim Aú e seu inseparável amigo, o macaquinho Licuri.



Cabra – Criação do baiano Flávio Luiz. Ficção científica e cultural regional se unem para contar a história de Severino Crispim dos Santos, também conhecido como o Cabra.



Capitão Douglas – Personagem criado por Laerte personifica a atitude autoritária. Personagem da série O condomínio nos anos 1990. O velho Capitão é saudosista de guerras, vive combatendo moinhos de vento, com pompa militar e de lembranças da guerra do Paraguai. Embora aposentado de suas funções (referência aos militares que comandaram o Brasil de 1964 a 1985), continua a sua luta para impedir o “fim da cultura e civilização”. Em 2010 Laerte publica no quatro volume da coleção Striptiras, Capitão Douglas Capricórnio na sua luta contra as hordas de bárbaros famintos sanguinários assassinos destruidores da cultura e da civilização.

  

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