
De
Joyce a Picasso, passando
por Felline, Resnais e
tantos outros prestaram
atenção nos quadrinhos
porque neles viu uma
reação autenticamente imaginativa
contra as formas oficiais.
Esse é um elemento
capital e valorativo
no debate que hoje
permanece aberto e
vivo acerca das funções
e valores da cultura
de massas. Conforme
escreve o crítico
e estudioso Francis Lacassin:
“Que as tiras desenhadas
cultivem o fabuloso,
o irreal e o
impossível, me parece
conforme à sua
vocação natural: serem
o luar da realidade”.
(LACASSIN, apud GUBERN,
1979, p.23).


Os
atributos de classificação
entre popular e erudito
alteram-se, inúmeras
vezes, no decorrer do
tempo. As qualificações
para cada uma delas
não necessariamente se
mantêm. Shakespeare, por
exemplo, já foi
concebido, em sua
época, como autor popular.
Rabelais, considerado
por Mikhail Bakhtin (1987, p.2)
– ao lado de Dante,
Boccaccio, Shakespeare
e Cervantes – um dos
criadores da nova
literatura europeia, foi
recusado pelo seu
caráter popular
e pelo aspecto não
literário de sua
obra. Hoje, todos são
tidos como representantes
inequívocos da literatura
consagrada (BORELLI, 1996, p.
25).
O
valor de uma obra
de arte reside, em
parte, na capacidade
que ela possui de
criar personagenssólidos,
heróis e heroínas que
se transformem em
“tipos”, em símbolos representativos
de certa época, ou
então em cristalização
de uma paixão da
alma humana. E os
quadrinhos, ao longo
de sua trajetória,
criou uma galeria de
“tipos” universais, tanto
no campo da aventura
realista, como no
da ficção científica,
e sobretudo, no domínio
do humor. A imprensa,
o cinema, a HQ
e os folhetins
de televisão são os
reservatórios da mitologia
da sociedade atual. Num
mundo onde a realidade
encontra-se exposta,
sem limites, em tempo
real, por meio das
mídias digitais, a HQ
é uma dos únicos
meios de expressões
que recupera o sonho.
Uma
vez que o elemento
onírico está se
perdendo da concepção
dos bens culturais,
num mundo onde as
características realistas
da informação e da
comunicação são cada
vez mais reforçadas,
em detrimento do direito
de sonhar, inerente
ao ser humano. E
até os efeitos especiais,
que já foram voltados
para a criação de
ilusões e fantasias,
atualmente recriam hiper-realidades,
onde o efeito imagético
e sonoro equivale aos
eventos e leis
naturais, mesmo nos
territórios ficcionais
mais fantásticos. É
no conteúdo da linguagem
das HQs que o
elemento afetivo demonstra
a força da fantasia
no despertar da imaginação
e do gosto pela
leitura infantil, que
prossegue ao longo
de toda a vida.
Referências:
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Silvia Helena Simões. Ação,
suspense, emoção.
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São Paulo: Clemente
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Cultura. São Paulo:
Brasiliense, 1994
RAMOS,
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Petrópolis: Vozes, 1995.
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Camilo. Linguagem e
cartum... ta
rindo de
que? Um
mergulho nos
salões de
humor de
Piracicaba. Piracicaba:
UNIMEP, 2002.
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