22 novembro 2013

Conheça Caipora, Mula Sem Cabeça e Tutu



Caipora


Ele tem o hábito de cavalgar porcos e ressuscitar a caça abatida. Conhecido com Caipora (ou Caapora) que em tupi significa habitante do mato. Pertencente à mesma classe dos entes protetores da floresta (mais exatamente da caça), Caipora difere do Curupira porque o primeiro é uma figura de um brutamonte com o corpo coberto de pelos e montado num gigantesco porco do mato. Já o segundo se apresenta como um moleque franzino e de pés invertido.

A expressão caipora se apresenta como sinônimo de azarado. Dizia-se antigamente de todo caçador infeliz na caça que ele “estava com o Caipora”, e que todo aquele que se encontrava com o ser monstruoso estava votado, a partir de então, a fracassar em toda coisa que intentasse. Uma carta do Padre Anchieta datada de 1560, dizia: "Aqui há certos demônios, a que os índios chamam Curupira, que os atacam muitas vezes no mato, dando-lhes açoites e ferindo-os bastante".

De acordo com a lenda, o Caipora é o terror dos caçadores que caçam além das necessidades. O
Caipora usa todos seus conhecimentos sobre a vida na floresta para fazer armadilhas para os caçadores, destruir suas armas e bater nos cães de caça. O caipora assusta os caçadores, reproduzindo sons da floresta, além de modificar os caminhos e rastros para fazer com que os caçadores se percam na floresta.

Caipora tem o poder de ressuscitar qualquer animal morto sem sua autorização, para isso apenas fala para que o bicho ressuscite. Por ser muito veloz às vezes as pessoas apenas sentem Caipora como se fosse uma rajada de vento no mato.Para entrar numa mata com permissão da Caipora, a pessoa deve levar sempre uma oferenda para ela, como um Pedaço de Fumo-de-Rolo, um Cachimbo. Caipora emite um som estridente causando que causa arrepios e pavor a todos os que o escutam. Em algumas regiões do Brasil Caipora é conhecido como o Curupira.

Ainda diz a lenda que aos domingos, sextas-feiras e dias santos o Caipora age com mais força e de maneira mais intensa. Uma forma de escapar da ação do Caipora é oferecer-lhe fumo de corda e outros presentes, que devem ser deixados próximos ao tronco de uma árvore, de preferência numa quinta-feira. Mesmo assim, não é garantia de que o Caipora não irá agir, pois dizem que ele pode ser traiçoeiro.

 

Mula Sem Cabeça


Por todo sertão brasileiro não há quem não saiba que mulher que se casa com padre, cedo ou tarde, vira Mula sem Cabeça. Trata-se de uma das criaturas assombrosas mais populares do imaginário brasileiro. Já o homem, que se casa com uma freira, vira Cavalo sem Cabeça. Mas esse nunca gozou da mesma popularidade, comprovando o triunfo do preconceito machista. A transformação da mulher em mula ou outro animal está associada diretamente a uma punição moral.

Existem várias explicações para a origem desta lenda, variando de região para região. Em alguns locais, contam que a mula-sem-cabeça surge no momento em que uma mulher namora ou casa com um padre. Como castigo pelo pecado cometido, transforma-se neste ser monstruoso.

Em outras regiões, contam que, se uma mulher perde a virgindade antes do casamento, pode se transformar em mula-sem-cabeça. Esta versão está muito ligada ao controle que as familias tradicionais buscavam ter sobre os relacionamentos amorosos, principalmente das filhas. Era uma forma de assustar as filhas, mantendo-as dentro dos padrões morais e comportamentais de séculos passados.

Existe ainda outra versão mais antiga e complexa da lenda. Esta, conta que num determinado reino, a rainha costuma ir secretamente ao cemitério no período da noite. O rei, numa determinada noite, resolveu segui-la para ver o que estava acontecendo. Ao chegar ao cemitério, deparou-se com a esposa comendo o cadáver de uma criança. Assustado, soltou um grito horrível. A rainha, ao perceber que o marido descobrira seu segredo, transformou-se numa mula-sem-cabeça e saiu galopando em direção à mata, nunca mais retornando para a corte.

 

No lugar da cabeça, nas noites apavorantes em que a criatura surge, há jatos de fogo lançados pelas ventas invisíveis. E mais: ela relincha de maneira mil vezes audível que uma mula normal. Além disso, ela carrega no pescoço o freio de ferro. E quem conseguir arrancá-lo, quebra o feitiço, voltando a ter nos braços a mulher original.

Mas é preciso ter muito cuidado escondendo unhas e dentes. A Mula sem Cabeça odeia essas duas coisas. E suas patas são mortíferas e seu golpe, quase impossível de ser detido, daí a razão de ninguém ainda ter conseguido extrair-lhe o freio orlado de sangue dos dentes invisíveis.

Seu pelo é negro e o rabo é uma espécie de farol traseiro, reluzindo na noite como um facho de luz. A Mula sem Cabeça veio de Portugal e arredores. A razão do animal ser mula parece a de que os prelados costumavam seguir, em suas andanças piedosas, trepados numa mula, montaria ideal ara vencer terrenos acidentados.


Tutu


 
Ele é irmão do Bicho Papão e do Boi da Cara Preta. Tutu é uma criatura toda negra sem forma
discernível alguma. A palavra Tutu provém do termo africano quitutu, que significa ogro ou papão. Ele é senhor dos terrenos noturnos infantis na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Aqui na Bahia o Tutu deixa de ser uma mera sombra para assumir a forma explícita de um porco do mato, graças à semelhança dos termos tutu e caititu. O caititu, ou queixada, é uma espécie de porco selvagem, montaria predileta do Caipora nortista.

Segundo a crença, o Tutu persegue as crianças arteiras e, principalmente, aquelas que não querem dormir. Nossas mães indígenas, ao contrário dos europeus e africanos, preferiam invocar, numa admirável lição de delicadeza, o auxílio dos pássaros ou animais de dono prolongado, a fim de o emprestassem a seus indiozinhos insone. “Acatipuru, empresta teu sono/para meu filho dormir.../Iacuturu, empresta teu sono/para meu pequeno filho dormir.../”, diz, como numa oração, o suave acalanto.

Também conhecido como Quibungo, uma espécie de Bicho-Papão negro, um visitante africano inesperado que acabou por se domiciliar na Bahia, onde passou a fazer parte do folclore local. Trata-se de uma variação do Tutu e da Cuca, cuja principal função era disciplinar, pelo medo, as crianças rebeldes e relutantes em dormir cedo.

O Quibungo faz parte dos contos romanceados, sempre com um episódio trágico ou feliz mas sem data que o localize no tempo. É um Velho do Saco para os meninos, um temível devorador de crianças, especialmente as desobedientes. Sem dúvida um meio eficaz de cobrar disciplina pela imposição do pavor.
           
É um bicho meio homem, meio animal, tendo uma cabeça muito grande e também um buraco no meio das costas, que se abre quando ele abaixa a cabeça e se fecha quando levanta. Engole as crianças abaixando a cabeça, abrindo o buraco e jogando-as para dentro. É também um feiticeiro, demônio, lobisomem, macacão, preto velho. No fundo continua sempre a ser um ente estranho e canibal que prefere a carne tenra das crianças.

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