11 fevereiro 2009

Quero ficar em seu corpo feito tatuagem (2)

A tatuagem é uma tradição milenar e desde os tempos antes de Cristo que o homem gosta de pintar o corpo para fazer parte de determinado bando, grupo social ou tribo. Os primitivos se tatuavam para marcar os fatos da vida biológica: nascimento, puberdade, reprodução e morte. Depois, para relatar os fatos da vida social: virar guerreiro, sacerdote ou rei; casar-se, celebrar a vida, identificar os prisioneiros, pedir proteção ao imponderável, garantir a vida do espírito durante e depois do corpo.

Muitos povos acreditavam que os desenhos davam proteção mágica contra doenças ou má sorte. Outros usavam (e ainda usam) a tatuagem para identificar o nível ou status do portador, ou o fato de que ele pertence a um determinado grupo (é o caso, por exemplo, da gangue de motociclistas Hell´s Angeles, nos Estados Unidos).
Existem restrições religiosas à prática da tatuagem (“Você não fará qualquer corte na sua carne por causa dos mortos ou tatuará qualquer marca sobre você. Levítico 19: 28). Com o advento do cristianismo ela foi proibida na Europa, mas persistiu em outras partes do mundo. Foi redescoberta pelos europeus na época das grandes navegações, quando eles entraram em contato com os índios americanos e com os polinésios. Marinheiros europeus (e mais tarde norte-americanos) começaram a se tatuar, e surgiram casas especializadas em portos de todo o mundo.
Em fins do século XVIII, quando a Europa chegou à Polinésia, alí, diante de uma sociedade sensual, o homem branco redescobriu o gosto de marcar o corpo. A tatuagem do Taiti, das Ilhas Samoa e de outros recantos do Pacífico e da Oceania seduziu um sem-número de marinheiros, que aos poucos fora,m retornando à Europa inteiramente tatuados. Os brancos adaptaram as técnicas primitivas, inseriram temas ocidentais, e já em meados do século XIX o mundo havia se transformado num vasto empreendimento tatuado.
A arte de desenhar e colorir o corpo com agulha e pigmentos variados foi introduzida na Europa em 1770 pelo capitão Cook. Os apaixonados pela tatuagem dizem que, em 1945, três homens tatuados mudaram o mundo: Churchill, que tinha uma âncora no branco direito, Stalin, com uma caveira no peito, e Roosevelt, com o brasão da família no bíceps.
No século XIX os prisioneiros que eram soltos nos Estados Unidos e os desertores do Exército britânico eram identificados por tatuagens. Mais tarde, prisioneiros na Sibéria ou em campos de concentração nazistas também eram marcados.
Na era Cristã, na clandestinidade, sob o jugo do poder pagão, os primeiros cristãos se reconheciam por uma série de sinais tatuados, com cruzes, as letras IHS, o peixe, as letras gregas. Na era moderna, a tatuagem passou por vários anos de marginalidade. Ela retorna a ser questão de relevância em nossa sociedade quando surge em artistas de música, cinema, e em pessoas comuns.
Deixando de ser um símbolo de marginalidade, e sim uma forma de expressão individual de arte e estética do corpo, a tatuagem não é mais tosca como as de cadeias, e sim um desenho de traços mais finos e cores variadas. E assim, a elite (pertencente à indústria das finanças, dos bens de consumo, das telecomunicações, da informática e do entretenimento) começou a colorir a pele. De executivos da Nike, empresários da Fiat, atletas, artistas de cinema e da música pop, estilistas e topo models são os novos porta-estandartes da tatuagens. De Gérard Depardieu a George Michael, de Julia Roberts a Britt Eklabd, de Sean Penn a Sean Connery, de Jodi Watley a Carré Otis, de Thierry Mugler a Jean Paul Gaultier, de Kim Basinger a Madonna, de Johnny Depp a Melanie Griffith. No Brasil temos Monique Evans, Beth Prado, Guilherme Karam, Evandro Mesquita, Supla, Marina, Alexandre Frota, Bruno Gagliasso, Deborsh Secco, Kelly Key e muitos outros
No Brasil, o precursor da tatuagem moderna foi um cidadão dinamarquês chamado Knud Harald Lucky Gregersen, conhecido popularmente como Lucky, ou Mr. Tattoo. Chegando por aqui em 1959, Lucky se estabeleceu em Santos, São Paulo, utilizando seu talento e suas técnicas de desenhista e pintor profissional. Lucky teve uma participação real no mundo da tatuagem brasileira. Os tatuadores chegam a dizer que por mais imperfeita que seja a tatuagem de Lucky, ela vale muito, pois foi graças ao dinamarquês que o Brasil entrou no mapa da tatuagem moderna. Lucky foi notícia em vários jornais, e em 1975 o jornal O Globo o considerou o único tatuador profissional da América do Sul, sendo sua morte noticiada no jornal A Tribuna de Santos do dia 18 de dezembro de 1983. Por um bom tempo Lucky continuou sendo o único, até que começaram a aparecer, aos poucos, os seus seguidores, que herdaram dele as técnicas e a arte de fazer tatuagem.

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