24 outubro 2006

Objeto de desejo e até de fetiche


De mero artefato de proteção, o sapato se transformou em moda, objeto de desejo, símbolo de status e até de fetiche. Na esteira dessas transformações, o calçado feminino segue à frente. Não é por acaso que as mulheres constituem o público que mais consome calçados, influindo diretamente na consolidação de novos modelos e na mudança às vezes radical dos padrões.

No início dos anos 90 todas as botas criadas ao longo do século foram recuperadas. As botas de cowboy, uma invenção do show biz hollywoodiano foram sempre bem decoradas. Do cowboy à longa 7/8, do borzeguim caipira à botinha de verniz dos anos 60, vale praticamente tudo. O best-seller são os sapatos abotinados – de amarras com elástico ou afivelados. O futuro está nos zíperes. E nesse período, as botas, quase sempre masculinas-femininas, se alternavam entre a elegância severa e a sensualidade agressiva. Até as botas militares, estilo peso pesado, cuja função antigamente era a de impressionar o inimigo, mudaram de performance, e seu aspecto brutal passou a ser considerado extremamente sedutor.

Sapato tem a ver com o estilo, a personalidade da pessoa. O sapato identifica muito cada personalidade. A futurista Grace Jones, misto de cantora/atriz e modelo, aparece com botas metálicas, espaciais, bem de acordo com seu estilo de vida. A top Cindy Crawford prefere as botas longas, quase meias de verniz, colantes/eletrizantes. A botina Richelieu, modelo romantismo perverso, fez o tipo Madonna. Há o borzeguim chic de Débora Bloch, o borzeguim natural da Rita Lee ou mesmo as botas à la Peter Pan, amarradas nas laterais. As botas de salto alto valem para as festas de dança. O sucesso das botas deve-se ao ajustamento progressivo das calças, que culmina com o fuseau e a legging.

E por falar em salto, o hábito de colocar saltos nos sapatos para erguer o pé e parecer mais alto vem do início do século 17, num momento em que a moda na corte francesa era particularmente caprichosa. Foi seguindo o exemplo de Luis XIV, o Rei Sol, que apareceram sapatos enfeitados com fitas e pompons. Os saltos eram quase sempre velhos e representavam um sinal da distinção do cortesão. Quem usava saltos altos, naquele tempo, eram os homens – os nobres da corte, que com eles se sentiam imponentes. No século XVIII é que as mulheres tomaram conta da inovação, introduzindo-o com sapatilhas e também em chinelos.

O truque para tornar pernas mais esguias e bem modeladas ganhou o mundo e hoje se tornou verdadeiramente fashion. A história mostra que são os homens os verdadeiros responsáveis pela alta carga de “sex appeal” contida num Chanel de gorgurão, salto sete. Indiferente aos ditames da moda, não é de hoje que eles se rendem à simples visão de um par de pernas suspensas. Elegância é fundamental, mas cuidado: não exagere com os saltos altos. Sapatos desprovidos de salto alto são tão inadequados quanto os de salto alto, porque não favorecem o correto equilíbrio e não permitem a postura ideal. Se com o salto alto a coluna inclina-se para a frente, sem o salto, inclina-se para trás.

A força dos esportes elevou o tênis à condição de calçado dos anos 90. O primeiro tênis de lona e sola de borracha, chamado de sneaker foi lançado para os jogadores de croquet, em 1860, pela empresa Wait Webster, de New York. Os tenistas, que popularizaram o nome, aderiram à fórmula pouco tempo depois. Mas o conceito moderno de calçados esportivos foi criado na década de 20 por um atleta alemão. Seu objetivo era equipar de melhor maneira todos os esportistas. Em 1920, Adi Dassler resolveu criar o primeiro tênis específico para ginástica. Ele pesquisou as necessidades de cada esporte e, em cada modalidade, procurava saber exatamente onde o “pé apertava”, para aperfeiçoar futuramente seu calçado.

Foi na década de 30 que Dassler descobriu que o calçado tinha que atender às necessidades físicas de cada esporte. Em 1948 ele fundou a Adidas (derivado da conjunção de seus dois nomes), uma empresa marcada pelo pioneirismo de seu fundador e pela qualidade de suas três letras. Hoje, existem tênis para cada modalidade esportiva. Desde o basquete, futebol, alpinismo, vôlei e até mesmo aeróbica e jogging.

O impacto da introdução das tecnologias de calçados atléticos em sapatos sociais provocou uma revolução no mercado. Se os sapatos de salto alto foram por muito tempo um dos sofrimentos inerentes à condição feminina, agora a tecnologia transformou elegantes scarpins em confortáveis calçados do dia a dia. A tecnologia por trás destes sapatos é a mesma que transformou os tênis em maravilhas de engenharia: finas folhas de espuma de poliuretano são injetadas com gás, formando um colchão de ar que é costurado entre a sola e o forro do sapato, especialmente nas áreas de maior impacto – calcanhar e a parte frontal do pé.

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