A
ascensão feminina em cargos de poder é um dos grandes temas das Ciências
Sociais. As mulheres têm poder na política baiana? Um olhar mais atento nos
mostra que a questão é mais complexa do que parece. A obra doutoral (revisada e
transformada em livro) de Claudia de Faria Barbosa, lançada recentemente pela
Editora Appris – AS MULHERES NA POLÍTICA LOCAL – ENTRE AS ESFERAS PÚBLICA E PRIVADA
registra vulnerabilidades, tomadas de decisão, de assumir cargos pelo passado,
presente e futuro. Descortina uma cartografia da política dos municípios
baianos. Como as mulheres constroem suas identidades em contextos cujas marcas
da dominação masculina estão inscritas na subjetividade das estruturas sociais.
A
pesquisadora Claudia de Faria Barbosa questiona se o fato de maior participação
feminina, em números, nos quadros políticos, dentro do processo contemporâneo
brasileiro e baiano, indica efetiva cidadania e espaços conquistados pelas
mulheres. O estudo focou as prefeitas baianas, ou seja, mulheres como agentes
de exercício do poder político acessando debates sobre política e gênero.
O
interesse foi compreender se as mulheres realmente conseguem autonomia e/ou se
“empoderar” no sentido de tomar atitudes e levantar bandeiras de luta contra as
segregações, violências e vulnerabilidades. O surgimento de tais questões de
estudo foi evidenciado por verificar que o senso comum julga suas
administrações como incapazes de dar conta das demandas da população e, sobretudo,
tomar atitudes que efetivamente atendam aos interesses de outras mulheres.
Com
o propósito de ultrapassar a visão naturalizada/essencializada do papel
feminino no espaço público e privado, a análise evidencia como é trilhado o
caminho das mulheres que ingressaram na política local, gestão 2009-2012. E
acrescenta a questão de como se processa suas percepções e vivências nas
relações entre as esferas privada e pública, com a perspectiva da elaboração da
consciência de si e para si.
Ao
debruçar sobre a questão das mulheres na política baiana, ouviu as gestoras
locais sobre seus enfrentamentos de desafios, suas percepções, atuações e
aflições. A obra valoriza o pensamento transformador do ser humano, fundamental
para quem almeja ver algo mais que o senso comum pode mostrar. Salientou o
exercício da reflexão e centrou nas questões propostas para questionar o
vivido, exercitar a teoria, sobretudo, evidenciar aspectos entrelaçados no
cotidiano da política e nas relações de gênero.
Organizada
em três capítulos, os dois primeiros trazem a base teórica da discussão sobre a
ciência política e a epistemologia feminista. O terceiro evidencia a investigação
empírica – as vivências das mulheres na política local. Conforme a autora: “as
mulheres, em suas múltiplas ações, referências e atuações, ao agir na política
enfrentam situações únicas e muitas variáveis estão em jogo. Ademais, são
apenas ´peças na engrenagem´ do poder político dominante e da reprodução do
capital e de uma práxis de ordem patriarcal”. E atribui que o “empoderamento
das mulheres é algo por devir, apostando mais na consciência e na práxis de
transformar, do que realmente em dados numéricos. São novos tempos em que os
disfarces transformam a dominação em algo tão sutil que se torna quase
impossível percebê-la”, conclui.
A
esperança é de que a política seja um espaço público onde a vida ativa não se
reduz ao trabalho e ao consumo, mas em liberdade, conforme proposta pela
pensadora Hannah Arendt ao afirmar que o “sentido da política é a liberdade”. E
que a comunicação e o diálogo não sejam apenas informação, mas dignidade e
cidadania onde se expressem emoções e ações. Portanto, a originalidade da
pesquisa de Claudia Barbosa está no fraseado. Ao trabalhar com a invisibilidade
de algo que existe nos lugares comuns e nas ideias preconcebidas, ela traduz a
busca de um incessante saber. Mostra a situação de mulheres investidas de poder
político, olha com olhos livres a realidade. Aí está a sua essência, seu
preciosismo e raridade. Uma obra que trás uma contribuição ímpar e inédita para
as questões postas com referência à cidadania das mulheres e a política local
brasileira e, sobretudo baiana.
Um comentário:
Gutemberg
Você sabe o quanto tem participação sua nesse trabalho. Sou grata para muito além de suas palavras sobre a obra. Amigo dedicado, defensor das causas feministas e da política de ideias e de presença.
Gratidão!!
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