Há 120 anos, no dia 19 de março de 1890 em
Santo Amaro, Bahia, nascia José Wanderley de Araújo Pinho que se tornou uma das
mais importantes figuras do Estado da Bahia. Foi historiador e político. O texto a seguir está
no meu livro Gente da Bahia, volume dois: Filho de João Ferreira de Araújo
Pinho, presidente da Província de Sergipe, em 1876 e Governador da Bahia de
1908 a 1911. Pela linha materna era neto do Barão de Cotegipe, João Maurício
Wanderley, um dos mais prestigiosos chefes do Partido Conservador no tempo do
Império. O rico acervo do arquivo do Barão, conservado pela família materna, o
gosto do seu pai pelas letras, levaram o jovem Wanderley a ingressar nas lides da
História.
Wanderley formou-se em Direito, pela
Faculdade Livre de Direito da Bahia, em 1910, quando o governo Araújo Pinho
estava em pleno prestígio político, mas foi logo surpreendido com a inesperado
renúncia do velho santamarense, o bombardeio da Bahia, e a perda do mandato de
promotor público. Em 1917 no salão do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
ele pronuncia uma conferência sobre Costumes Monásticos-Freiras e Recolhidas
onde indagava entre curioso e malicioso, se o namoro alí se limitava apenas
àquele estimar sem consequência. Seriam puros ou pecaminosos os amores destas
freiras?. A conferência surpreendeu a sociedade da época. E a partir de 1929,
porém, ele faz sua verdadeira profissão de fé como historiador, da qual não
mais se afastaria até 1967, data de sua morte.
Foi diversas vezes relator na Câmara do
Orçamento da Marinha e ocupou vários cargos representativos no Ministério
Público. Entre 1924 e 1930 foi Deputado Federal. No governo Otávio Mangabeira
exerceu a prefeitura da cidade do Salvador (1947/1951). Sua presença no cargo
deu grande importância às comemorações do 4º Centenário da Cidade. A História
da cidade marchou pelas ruas em apoteose, desde Tomé de Souza até aquele
momento. Foi iniciativa sua o desfile do quarto centenário. Foram
empreendimentos de sua administração como prefeito, a abertura da primeira
pista da Avenida Centenário, o asfaltamento da Estrada da Liberdade, início da
construção da Avenida Vasco da Gama, abertura e asfaltamento da Avenida
Amaralina e de outras vias urbanas, reforma dos jardins do Terreiro e do Campo
da Pólvora. Com o governador Mangabeira, colaborou para a construção do Hotel
da Bahia.
Professor de História do Brasil na
Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, marcou época no estudo da disciplina,
tendo animado a pesquisa histórica entre seus discípulos. Os alunos eram
constantemente incentivados a realizar pesquisas inéditas, procurar material
novo, dar novas dimensões aos estudos, especialmente de História da Bahia, com
ricos arquivos à disposição. Lutou pela proteção aos monumentos históricos da
Bahia. Era presidente de honra do instituto Geográfico e Histórico da Bahia,
além de 1º vice-presidente do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro. Era
membro da Academia de Letras da Bahia ocupante da cadeira nº1, cujo patrono é o
historiador Frei Vicente de Salvador, Wanderley Pinho substituiu ali a Afrânio
Peixoto, de quem foi grande amigo. Foi também Ministro do Tribunal de Contas do
Estado, cargo no qual se aposentou.
Como historiador, deixou uma obra que pode
ser considerada notável. Alguns dos seus livros, estudos definitivos na
historiografia brasileira, como História de um Engenho no Recôncavo, Cotegipe e
o seu Tempo e Salões e Damas do Segundo Reinado. Pesquisador criterioso, seguro,
tinha a preocupação de consultar as melhores fontes para chegar às conclusões.
Seu estilo era claro. Ele escreveu algumas páginas verdadeiramente antológicas
na literatura histórica brasileira. Deixa inéditos alguns trabalhos de
História, inclusive um importante estudo sobre a História Social da Bahia.
Entre suas obras estão Política e Políticos no Império (1930); A Sabinada
(1930); Cartas do Imperador D.Pedro II ao Barão de Cotegipe (1933); Cotegipe e
seu Tempo - Primeira fase -1815/1867 (1937) importante estudo do aspecto
político de nossa História; D. Marcos Teixeira - Quinto Bispo do Brasil (1940);
Testamento de Mem de Sá (1941); Salões e Damas do Segundo Reinado (1942) onde
encontramos as bases do estudo social de um grupo de elite dedicado aos seus prazeres,
seus luxos, seus devaneios; História de um Engenho do Recôncavo - Matoim, Novo,
Caboto, Freguesia - 1552/1944 (1946), onde ele faz um perfil da economia
agrária açucareira do Recôncavo baiano desde o início de sua produção, suas
fases de maior desenvolvimento, como também suas fases de depressão; Abertura
dos Portos na Bahia (1961); História Social da Cidade do Salvador, 1549/1650
(1968 - edição póstuma sem revisão do autor), entre outros. Vale lembrar a
síntese do século XIX, de 1808 a 1856, publicado na História Geral da
Civilização Brasileira, sob a direção de Sérgio Buarque de Holanda. Além de
livros e muitas obras relativas ao serviço do estado, publicou inúmeros artigos
jurídicos, literários e históricos, em jornais e revistas do Brasil.
Ele sabia que o homem está intimamente
ligado à época em que vive, ao conjunto de circunstâncias sociais, econômicas,
ecológicas ou mesmo antropológicas que traçam o seu destino, e as indagações
que ele fez à História, são determinadas pelos problemas de que tem vivência.
Wanderley Pinho escreveu biografias e monografias porque eram as indagações do
seu tempo. Havia necessidade de apresentar a História das gentes brasileiras,
de biografias que nos entusiasmassem pelas qualidades invulgares da pessoa em
foco. Em 07 de outubro de 1967 ele faleceu, no Rio de Janeiro, mas sua obra
ficou reunida no Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, instalado no Engenho
Freguesia, e inaugurado em 1971. O museu proporciona uma verdadeira viagem ao
passado, apresentando coleções de mobiliário, imaginária, pinturas e
instrumentos agrícolas, dos séculos XVIII e XIX. O museu mantém oficinas,
seminários, cursos, palestras e uma série de ações integradas com grupos da
terceira idade. Ainda em 1971 O governo do Estado, através da Secretaria de
Educação e Cultura instituiu o Prêmio de História e Biografia Wanderley Pinho.
E no bairro do Itaigara tem uma rua com seu nome.
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