10 abril 2019

Neuma Dantas mostra, em obra, a linguagem irreverente do Foia dos Rocêro


Há 120 anos surgia na Bahia um periódico debochado, de crítica política e linguagem irreverente: Foia dos Rocêro (1899-1968). Durou 69 anos. Tinha como redator o Coroné Zé Perêra Capa Bode que exercia papel de representante dos roceiros. Como os órgãos da imprensa eram veiculados, no período, a partidos políticos, o redator brincou nomeando o jornal como “órgão oficial da roça e do partido do desengrossa”, ou seja, do partido da oposição, partidários que não bajulavam o poder.



“Foia dos Rocêro – Crítica política e humor na imprensa baiana do século XIX” é o título do livro que a jornalista Neuma Augusta Dantas e Silva estará lançando no dia 17 de abril, às 10h no Auditório do CEADD, 1º andar da FACOM, em Ondina pela Editora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (EDUFRB). A publicação do seu conteúdo, primeiro como e-book e agora como impresso, realiza um sonho da autora. Deve-se também registrar o apoio do professor Sergio Mattos que incentiva o estudo da imprensa baiana e do jornalismo político brasileiro. Ele está à frente da Editora Edufrb.

 


A obra é fruto de uma pesquisa que analisa o jornal Foia dos Rocêro no seu primeiro ano de publicação (1899-1900). O objetivo é apresentar a ideologia do periódico, quem falava e a quem se dirigia a crítica. Humor e ironia eram as armas utilizadas, assim como termos depreciativos e de animalização no jornal.



Como a pesquisa é inédita (não foram encontrados outros textos dedicados) o estudo foi exclusivo do semanário, além de entrevistas com historiadores, estudiosos do humor, análise documental de livros e outros jornais em arquivos públicos, museu e bibliotecas para a fundamentação teórica.



Dividido em três capítulos, o primeiro (Política, Cultura, Sociedade e Economia na Velha Bahia) conta com três momentos. Bahia Politica (1899-1900), Processo matinal da cultura e Cidade suja, pobre, mas colorida. Nesse estudo, o Brasil na época tinha 16 milhões de habitantes e Manuel Ferreira de Campos Salles era o segundo presidente civil da história brasileira (1898-1902). Tempo da República Oligárquica e tinha como senador Ruy Barbosa, o maior nome da politica nessa época.



Quem governava a Bahia era o conselheiro Luiz Vianna desde 1896. Em 1900 ele foi substituído pelo advogado Severino Vieira e o Intendente Antonio Vitório de Araújo Falcão administrava, interinamente, a Prefeitura de Salvador. “Era esse o berço do Orgo Uficiá da roça e do partido do dizingrossa”. Assim, a política era marcada por interesses individuais. Entre os manifestos registrados pela Foia está a Revolta dos Caixeiros em consequência do resultado eleitoral para Intendente (prefeito), acusado de fraudulento.

 


A Foia tratava a Província da Bahia como a “Mulata Veia, aquela que é explorada e sugada em seus seios fartos do dinheiro público, pelos políticos” (p.31). Nessa Primeira República o governo estadual garantia o poder do coronel sobre seus dependentes e rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos públicos. O coronel, por sua vez, hipotecava seu apoio no governo, principalmente na forma de votos. A estudiosa Katia Mattoso descrevia a cidade como suja, pobre, mas colorida.



No segundo capítulo, desdobra-se em quatro momentos (Jornalismo humorístico: o riso subversivo da noticia) explica as características que formam o universo humorístico, suas origens, aplicação e formatos sempre conjugados ao exercício jornalístico.



A pesquisadora mostra que a forma de noticiar do periódico da roça incomodava os poderes oficiais. Existiram diferentes publicações humorísticas na Bahia, porém a Foia dos Rocêro e a Gazeta dos Roceiros são muito provavelmente os únicos exemplares impressos onde se escrevia em “linguagem dos tabaréus”. O objetivo era mostrar com essa escolha dialetal, que o caipira ou analfabeto, não era alienado, ignorante ou desinformado como poderia parecer. “Conforme os diálogos de roceiros nas colunas do periódico, eles se interessavam pelas notícias da cidade, discutiam os procedimentos políticos e assumiam um posicionamento crítico diante das mazelas sócias e administrativos” (p.53).

 


Essa forma humorística era para conquistar o leitor, criticar, provocar o poder. Estratégicas escolhidas para combater arbitrariedades. Com certa liberdade que se opunha a falta de respeito a ideias diferente na virada do século.  Capa Bode tinha talento para provocar o humor. Ele usava das categorias de humor e da ironia para desestabilizar uma imagem criada, segundo o jornalista, sob bases falsas de hipocrisia. Jesuíno Ávila usava pseudônimo de Coroné Capa Bode para melhor se proteger dos poderosos.



Os governadores Luis Vianna e Severino Vieira eram apelidados de Reis Lulu e Reis Sivi. Vianna apresentava-se desnutrido no físico e no bolso e maltrapilho, mama no peito da Mulata Veia ao ocupar o cargo. Depois de recuperado lhe dá adeus ao fim do mandato, para seguir em direção ao navio que o levara a Paris. Era o estilo galhofeiro que o hebdomadário utilizava como linguajar caipira e os ditados ou expressões típicas do meio rural. Era a maneira que o Coroné Capa Bode rompe com a norma culta praticada na imprensa para fidelizar seu leitor, fazer a crítica e legitimar a fala do tabaréu.   



É nesse momento que o periódico é examinado, detalhadamente, em seu conteúdo. Terceiro capítulo. Medindo 37 X 26cm, o Foia apresenta-se em três colunas preenchidas com editorial, artigos, trovas, charadas, versos e personagens travestidos de tipos rurais. Tudo isso distribuído em quatro folhas que misturam graça e seriedade.



Editado semanalmente (da 1ª a 4ª dominga de cada mês) se destacando pela narrativa e desenhos irreverentes. Os primeiros números foram impressos a partir do final de agosto de 1899 com o nome As Coisas dos Rocêro. A partir da última semana de janeiro de 1900, o jornal tomou o nome de Foia dos Rocêro e Folha dos Roceiros. Foram pulicados, ao todo 92 números (1899 a 1903) sob a direção do Coroné Capa Bode. Numa nova fase, mais adiante, a partir de 1927, foi editado até 1968, por Mário Paraguassú.

 


Nas páginas dos roceiros, as ilustrações (vinheta, caricatura e charge) retratam personalidades conhecidas da política baiana na virada do século XIX para o XX. Começou a ser expresso em textos ou sátiras verbais. Só depois se realizaram através de imagens.



A obra tem sua importância ao retirar do anonimato a Foia dos Rocêro contribuindo assim para a formação da memória do jornalismo baiano e brasileiro. Esse jornal deu uma contribuição para entender a fase histórica intermediária e polêmica durante a qual o Brasil viveu mudanças fundamentais nos padrões políticos: regime governamental da Monarquia para a República, surgimento de uma nova Constituição, passagem do sistema escravocrata para o trabalho remunerado e adoção de novas formas de produção.


6 comentários:

grafojornaldeneuma disse...

O meu agradecimento especial ao colega Gutemberg Cruz, um exemplo de profissional ético e um amigo querido.

grafojornaldeneuma disse...

To maydavid

You can get the book through the site of Universidade Federal do Recôncavo Baiano
(https://www.ufrb.edu.br/editora/titulos-publicados) ou download free in the same site.
Obrigada.

coupons chrome extension disse...

Nice post enjoy every bit of it.

Anônimo disse...

It's very well written.

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