Há 120 anos surgia na Bahia um periódico
debochado, de crítica política e linguagem irreverente: Foia dos Rocêro
(1899-1968). Durou 69 anos. Tinha como redator o Coroné Zé Perêra Capa Bode que
exercia papel de representante dos roceiros. Como os órgãos da imprensa eram
veiculados, no período, a partidos políticos, o redator brincou nomeando o
jornal como “órgão oficial da roça e do partido do desengrossa”, ou seja, do
partido da oposição, partidários que não bajulavam o poder.
“Foia dos Rocêro – Crítica política e
humor na imprensa baiana do século XIX” é o título do livro que a jornalista
Neuma Augusta Dantas e Silva estará lançando no dia 17 de abril, às 10h no
Auditório do CEADD, 1º andar da FACOM, em Ondina pela Editora da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (EDUFRB). A publicação do seu conteúdo, primeiro como
e-book e agora como impresso, realiza um sonho da autora. Deve-se também
registrar o apoio do professor Sergio Mattos que incentiva o estudo da imprensa
baiana e do jornalismo político brasileiro. Ele está à frente da Editora
Edufrb.
A obra é fruto de uma pesquisa que
analisa o jornal Foia dos Rocêro no seu primeiro ano de publicação (1899-1900).
O objetivo é apresentar a ideologia do periódico, quem falava e a quem se
dirigia a crítica. Humor e ironia eram as armas utilizadas, assim como termos
depreciativos e de animalização no jornal.
Como a pesquisa é inédita (não foram
encontrados outros textos dedicados) o estudo foi exclusivo do semanário, além
de entrevistas com historiadores, estudiosos do humor, análise documental de
livros e outros jornais em arquivos públicos, museu e bibliotecas para a
fundamentação teórica.
Dividido em três capítulos, o primeiro
(Política, Cultura, Sociedade e Economia na Velha Bahia) conta com três
momentos. Bahia Politica (1899-1900), Processo matinal da cultura e Cidade
suja, pobre, mas colorida. Nesse estudo, o Brasil na época tinha 16 milhões de
habitantes e Manuel Ferreira de Campos Salles era o segundo presidente civil da
história brasileira (1898-1902). Tempo da República Oligárquica e tinha como
senador Ruy Barbosa, o maior nome da politica nessa época.
Quem governava a Bahia era o conselheiro
Luiz Vianna desde 1896. Em 1900 ele foi substituído pelo advogado Severino
Vieira e o Intendente Antonio Vitório de Araújo Falcão administrava, interinamente,
a Prefeitura de Salvador. “Era esse o berço do Orgo Uficiá da roça e do partido
do dizingrossa”. Assim, a política era marcada por interesses individuais.
Entre os manifestos registrados pela Foia está a Revolta dos Caixeiros em
consequência do resultado eleitoral para Intendente (prefeito), acusado de
fraudulento.
A Foia tratava a Província da Bahia como
a “Mulata Veia, aquela que é explorada e sugada em seus seios fartos do
dinheiro público, pelos políticos” (p.31). Nessa Primeira República o governo
estadual garantia o poder do coronel sobre seus dependentes e rivais, sobretudo
cedendo-lhe o controle dos cargos públicos. O coronel, por sua vez, hipotecava
seu apoio no governo, principalmente na forma de votos. A estudiosa Katia
Mattoso descrevia a cidade como suja, pobre, mas colorida.
No segundo capítulo, desdobra-se em
quatro momentos (Jornalismo humorístico: o riso subversivo da noticia) explica
as características que formam o universo humorístico, suas origens, aplicação e
formatos sempre conjugados ao exercício jornalístico.
A pesquisadora mostra que a forma de
noticiar do periódico da roça incomodava os poderes oficiais. Existiram
diferentes publicações humorísticas na Bahia, porém a Foia dos Rocêro e a Gazeta
dos Roceiros são muito provavelmente os únicos exemplares impressos onde se
escrevia em “linguagem dos tabaréus”. O objetivo era mostrar com essa escolha
dialetal, que o caipira ou analfabeto, não era alienado, ignorante ou
desinformado como poderia parecer. “Conforme os diálogos de roceiros nas
colunas do periódico, eles se interessavam pelas notícias da cidade, discutiam
os procedimentos políticos e assumiam um posicionamento crítico diante das mazelas
sócias e administrativos” (p.53).
Essa forma humorística era para
conquistar o leitor, criticar, provocar o poder. Estratégicas escolhidas para
combater arbitrariedades. Com certa liberdade que se opunha a falta de respeito
a ideias diferente na virada do século.
Capa Bode tinha talento para provocar o humor. Ele usava das categorias
de humor e da ironia para desestabilizar uma imagem criada, segundo o
jornalista, sob bases falsas de hipocrisia. Jesuíno Ávila usava pseudônimo de
Coroné Capa Bode para melhor se proteger dos poderosos.
Os governadores Luis Vianna e Severino
Vieira eram apelidados de Reis Lulu e Reis Sivi. Vianna apresentava-se
desnutrido no físico e no bolso e maltrapilho, mama no peito da Mulata Veia ao
ocupar o cargo. Depois de recuperado lhe dá adeus ao fim do mandato, para seguir
em direção ao navio que o levara a Paris. Era o estilo galhofeiro que o hebdomadário
utilizava como linguajar caipira e os ditados ou expressões típicas do meio
rural. Era a maneira que o Coroné Capa Bode rompe com a norma culta praticada
na imprensa para fidelizar seu leitor, fazer a crítica e legitimar a fala do
tabaréu.
É nesse momento que o periódico é
examinado, detalhadamente, em seu conteúdo. Terceiro capítulo. Medindo 37 X
26cm, o Foia apresenta-se em três colunas preenchidas com editorial, artigos,
trovas, charadas, versos e personagens travestidos de tipos rurais. Tudo isso
distribuído em quatro folhas que misturam graça e seriedade.
Editado semanalmente (da 1ª a 4ª dominga
de cada mês) se destacando pela narrativa e desenhos irreverentes. Os primeiros
números foram impressos a partir do final de agosto de 1899 com o nome As
Coisas dos Rocêro. A partir da última semana de janeiro de 1900, o jornal tomou
o nome de Foia dos Rocêro e Folha dos Roceiros. Foram pulicados, ao todo 92
números (1899 a 1903) sob a direção do Coroné Capa Bode. Numa nova fase, mais
adiante, a partir de 1927, foi editado até 1968, por Mário Paraguassú.
Nas páginas dos roceiros, as ilustrações
(vinheta, caricatura e charge) retratam personalidades conhecidas da política
baiana na virada do século XIX para o XX. Começou a ser expresso em textos ou
sátiras verbais. Só depois se realizaram através de imagens.
A obra tem sua importância ao retirar do
anonimato a Foia dos Rocêro contribuindo assim para a formação da memória do
jornalismo baiano e brasileiro. Esse jornal deu uma contribuição para entender
a fase histórica intermediária e polêmica durante a qual o Brasil viveu
mudanças fundamentais nos padrões políticos: regime governamental da Monarquia
para a República, surgimento de uma nova Constituição, passagem do sistema
escravocrata para o trabalho remunerado e adoção de novas formas de produção.
6 comentários:
O meu agradecimento especial ao colega Gutemberg Cruz, um exemplo de profissional ético e um amigo querido.
To maydavid
You can get the book through the site of Universidade Federal do Recôncavo Baiano
(https://www.ufrb.edu.br/editora/titulos-publicados) ou download free in the same site.
Obrigada.
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