A canção de protesto ressurgiu nos anos
1950 com forte poder de mobilização. Nesse período a música pop teve uma
importância muito grande na criação de um clima anti-discriminação e
anti-guerra nos Estados Unidos na década de 60. O pop divulga uma atitude
contrária à energia nuclear, ao apartheid e à fome nos anos 70 e 80. Há também
a força do reggae dentro do processo político jamaicano e os movimentos de
independência na África.
Vamos conhecer um pouco dessas atitudes
politicas adotadas pelo pop em quatro décadas. A primeira, que vai do
pós-guerra ao fim da década de 60 (corresponde à era pré-industrial de rock),
marcada pelo idealismo e vontade de “mudar o mundo”. Nas décadas de 70 e 80 as
causas são mais humanitárias do que propriamente políticas.
ANOS
50
– As canções de protesto de Pete Seeger seguiam os passos de dois compositores
com origem nas classes trabalhadoras (Leadbelly e Woody Guthrie). Membro do
Partido Comunista, especializou-se em coletar e divulgar hinos sindicalistas.
Nessa época o rock and roll foi reprimido e provocou ondas de censura todas as
vezes em que se manifestou como energia anárquica, sem causas conhecida.
Exemplo: rebolado de Elvis Presley, identificado pela sociedade norte-americana
dos anos 50 como um elemento nocivo, oriundo da cultura negra. Uma manchete do
New York Times de março de 1956 afirmava que o rock´n´roll era uma “doença
contagiante”.
ANOS
60
– A música teve papel importante na luta pela aprovação de leis
anti-segregacionistas que tomou corpo no período, sob a liderança de Martin
Luther King. O gospel era usado como
produto para reuniões entre organização e comunidades negras. O grupo vocal
Freedom Singers, ligado ao movimento, viajou o país arrecadando fundo e
divulgando a campanha. Harry Belafonte tornou-se ativista político,
contribuindo com dinheiro arrecadado através de calipsos inofensivos como
Banana Boat Song. Artistas brancos como Bob Dylan, Joan Baez e Peter, Paul and
Mary tomaram parte em marchas e festivais. Em 1963, Dylan compôs Only a Pawn in
Their Game, baseada na história de Medgar Evers, líder negro morto pela Ku Klux
Klan.
Em 1963 Bob Dylan gravou o folk de
protesto Blowin’ In The Wind. Captando e transmitindo as frustrações dos
oprimidos nos Estados Unidos (principalmente os negros), esse músico branco
conseguiu atingir praticamente todas as classes da sociedade e seu som
tornou-se uma espécie de hino oficial para o movimento pelos direitos civis que
aconteceu nos anos 60.
Várias canções pop contribuíram para a
criação de uma atmosfera desfavorável à guerra do Vietnã nos EUA entre 1968 a
1972: Fixing To Die Rag (Joe MacDonald), War (Edwin Starr), Unknown Soldier
(Doors) e What´s Going On (Marvin Gaye).
Em 1968 Mick Jagger participou de um ato
público pelo fim da guerra em Londres. Em 1969, John Lennon e Yoko Ono passaram
três dias “na cama pela paz”. E compôs Give Peace a Chance, que se tornou o
hino da marcha anti-guerra.
ANOS
70
– Na Inglaterra em 1976 bandas de reggae (Aswad, Merger, Steel Pulse),
expoentes do movimento punk (Clash, Stranglers, Jam), Peter Gabriel, Peter
Townshend, The Fall, The Specials e Elvis Costello, entre outros criaram o Rock
Against Racism. O movimento tinha ligações com o Partido Socialista dos
Trabalhadores, que ganhara força na oposição ao National Front, organização
partidária de caráter fascista. A ideia era alertar o público jovem para a
ascensão do neo-fascismo e pregar a convivência étnica através de concertos que
misturavam bandas brancas e negras. A banda irlandesesa U2 fez sucesso com a
música Sunday Bloody Sunday, letra que trazia o desabafo e a indignação dos
cantores contra a intolerância religiosa entre protestantes e católicos que
resultou na morte de dezenas de pessoas, fato ocorrido em 1972, em Derry, na
Irlanda do Norte.
Em 1977 é criada na Califórnia, a
Alliança for Survival contra a ameaça nuclear, promovendo shows com Jackson
Browne, Stevie Wonder e Bob Dylan. Outro movimento (Músicos Unidos por uma
Energia sem Perigo) realizou uma série de concertos no Madison Square Garden de
NY em 1979, com James Taylor, Tom Petty, Bruce Springsteen. Na Inglaterra, a
Campanha pelo Desarmamento Nuclear, iniciado em 1969, renasceu em 1981 com o
lançamento do LP Life in the European Theatre, com faixas do Clash, Specials,
The Beat, Peter Gabriel, Madness, Stranglers e Style Council.
Em 1979 os punks do Clash lançaram um
dos mais importantes discos da história do rock, intitulado London Calling. A música
fala sobre várias questões políticas do mundo todo e de Londres, terra do
quarteto. Brutalidade policial, guerra nuclear, dívidas e assuntos que
preocupavam a população dos anos 70/80 estão lá, além do título, uma alusão à
frase “Essa é Londres chamando…”, utilizada durante a Segunda Guerra Mundial
pela Inglaterra para se comunicar com países que ela havia ocupado.
ANOS
80
– Vários artistas se alinharam à política de boicote à África do Sul adotada
pela ONU. Steve Wonder gravou It´s Wrong, sobre o tema em seu LP de 1985. No
mesmo ano Bob Dylan, Bono, Springsteen, Lou Reed, Jimmy Cliff e Afrika
Bambaataa cantaram “Nós não vamos ticar em Sun City” no LP Sun City. O grupo
inglês Artistas Against Apartheid organizou em junho de 88 um concerto em
homenagem ao 70º aniversario de Nelson Mandela com Wonder, Belafonte, Tracy
Chapmann e Peter Gabriel. O concerto foi o maior evento pop beneficente da
história. Os direitos humanos foram abordado também. A turnê Conspiração da
Esperança marcou o aniversario da Anistia Internacional em 86 pelo EUA com U2, Tom
Petty, Fela Kuti, Lou Reed, Sting, Dylan
e Joan Baez. Em 88 a Anistia promoveu uma turnê mundial para comemorar o 40º
aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com Peter Gabriel,
Sting, Bruce Springsteen, Tracy Chapman e Youssou N´Dour.
Fazer oposição a primeira-ministra
Margareth Thatcher também deu o tom da década. Tom Robinson, Jimmy Sommerville
(Communards), Billy Bragg e Paul Weller (Style Council) aderiram à causa e
formaram o Red Wedge para estimular a politização das populações jovens e
ganhar votos para o líder trabalhista inglês Neil Kinnovck. Spandau Ballet,
Smith, Lloyd Cole e Madness participaram dos concertos do Red Wedge que
terminavam com o canto Maggie Out. Thatcher foi reeleita em 87.
A causa da fome reapareceu através dos
esforços do irlandês Bob Geldof, na Inglaterra, e de Harry Belafonte, nos EUA.
Sob a legenda Band Aid lançaram música com renda revertida para as vítimas da
fome na Etiópia. Dois concertos simultâneos da serie Live Aid, em Londres e
Filadelfia (85) arrecadaram US$ 140 milhões.
OBS: Nem todos aderiram à causa. Elvis passou
de rebolador a reacionário quando entrou para o Exército. Mais tarde John
Lennon descreveu como “o fim de Elvis”. Na década de 70 o guitarrista inglês Eric
Clapton pronunciou, em um show em Londres, um discurso racista contra a
presença de imigrantes negros na Inglaterra. Logo ele que canta blues, uma das
formas de música negra. O movimento Rock Against Racism foi uma reação direta
ao discurso. O guitarrista do Who, Peter Townshend em 1968 gravou um comercial
para o Exército no inicio da carreira, incitando os jovens a se
alistarem no auge da campanha anti-Vietnã. A lista é grande e não cabe nesse
espaço.
Um comentário:
Muito bom!
Eu ja me peguei pensando em como muitos dos artistas deste rótulo "rock" se deslocaram de uma postura de "esquerda" para pautas conservadoras.
Especialmente nesses tempos da voga do fascismo.
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