Berço da brasilidade, a Bahia se tornou
uma imagem idílica para os brasileiros. Estereótipos como o da preguiça, do
tempero ou do suingue baiano rondam o imaginário popular e são usados pelos
próprios baianos como forma de autopromoção. “Baiano não nasce, estreia” é uma das
frases utilizadas para mostrar a artisticidade inata do povo local. A Bahia,
terra de filhos ilustres em todas as áreas da cultura, é cantada por seus
admiradores, baianos ou não.
Quando se apresentava na rádio Sociedade
da Bahia, na década de 1940 o sambista Riachão ficou conhecido como o cronista
musical da cidade. Isso porque, além de compor músicas que tem Salvador como
cenário, Riachão costuma falar de fatos que aconteceram nesses lugares, como o
de uma baleia que foi exposta na Praça da Sé. Seu primeiro CD lançado em 2000,
canta Salvador num estilo que ele chama de samba cartão postal. As imagens dos
bairros e das ruas da cidade são cantadas de um modo que faz o ouvinte ter a
sensação de percorrer os lugares citados: “Quem chega na Praça Cayru/olha pra
frente o que é que vê/vê o elevador Lacerda/que vive a subir e a descer/É o
retrato fiel da Bahia/baiana vendendo alegria/coisinha gostosa de dendê/acarajé
ôô
ôô”.
O bairro de Itapuã cantada em música de
Dorival Caymmi como uma bucólica vila de pescadores já não é mais a mesma,
mesmo assim o local ainda é uma referência. “Saudade de Itapuã” (Caymmi) e
“Tarde em Itapuã” (Vinícius de Moraes e Toquinho) são músicas emblemáticas. O
bairro perdeu a tranquilidade de outrora, mas os compositores cantaram o local
da época deles. O local era de veraneio para os soteropolitanos na época de
Caymmi, anos 30 e 40. Nos anos 60 e 70, quando Vinícius morou lá, já havia uma
avenida que ligava a cidade à antiga vila, mas o local ainda era vasto como um
recanto.
Na letra do samba "Você já foi à
Bahia?" é iniciada com uma pergunta: "Você já foi a Bahia,
nega?" e em seguida são listados vários argumentos para convencer a
"nega" - e a todos os seus ouvintes - a irem à Bahia. Aspectos
diferentes do estado são salientados na letra: motivos de ordem religiosa, ao
mencionar a Igreja do Senhor do Bonfim e das graças que alcançará quem
visitá-la; a típica culinária baiana como vatapá, caruru, mungunzá; a diversão
através do samba; e por fim motivos históricos são alegados como a memória do
tempo do Império, com suas donzelas, através da arquitetura da "cidade
velha". Tudo é motivo para se visitar a Boa Terra. Ao fim do samba o afeto
do compositor transparece quando revela que não há terra como a Bahia.
Os autores de algumas das mais famosas
(e apaixonadas) músicas sobre a Bahia não nasceram lá. Trata-se do mineiro Ary
Barroso, que passou apenas alguns dias na capital baiana, e do paulista Denis
Brian. Compositor de “Bahia com H”. Na música, Brian pede licença para se
declarar ao Estado: “Dá licença de gostar um pouquinho só/a Bahia eu não vou
roubar tem dó/e já disse o poeta/que terra mais linda não há/isso é velho e do
tempo em que já se escrevia Bahia com H”. Ele também canta as paisagens
soteropolitanas: “Deixa ver, Baixa dos Sapateiros, Charriot, Barroquinha,
Calçada, Taboão..../deixa ver, teus sobrados, igrejas/teus sambas, ladeiras/e
montes tal qual um postal”.
Já as canções de Barroso, tais como “No
Tabuleiro da Baiana”, “Quando em Penso na Bahia” e “Baixa dos Sapateiros”, fazem
o ouvinte percorrer um itinerário geográfico musical pela Bahia, mais
precisamente por Salvador, o que faz com que muitos turistas já cheguem à
cidade cantarolando as músicas. “Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia/a
morena mais frajola da Bahia/pedi-lhe um beijo, não deu/pedi-lhe um abraço, não
quis,/pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu://Bahia, terra da felicidade”.
E quem não se lembra de Gordurinha
cantando “o pau que nasce torto/não tem jeito, morre torto/baiano burro,
garanto que nasce morto/sou da Bahia e comigo não tem horário/não sou otário
ninguém pode me zombar/sou cabra macho, sou baiano toda hora/meio dia, duas
horas, quatro e meia, o que é que há/cabeça grande é sinal de inteligência/eu
agradeço a providência, ter nascido lá/salve a Bahia Ioiô/Salve a Bahia Iaià”.
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