Há
80 anos nascia Glauber Rocha
Ele era capaz das mais apaixonadas
adesões e das mais enfáticas críticas a amigos e inimigos. Fazia filmes ao
mesmo tempo reflexivos, políticos e formalmente inovadores. Dava declarações sinceras sobre tudo,
sem a preocupação de agradar a ninguém, a não ser à sua integridade
intelectual. Era um sujeito anacrônico. Para ele, era preciso, urgente, desenvolver
o conhecimento da cultura brasileira, vasculhar as raízes, revolver o passado,
por mais trabalho que desse. Ele nasceu no dia 14 de março de 1939, há 80 anos.
Ideias na cabeça nunca lhe faltaram: o
que tinha faltado, muitas vezes, era a câmara na mão. E as mão, desocupadas,
pareciam embaralhar-lhe, muitas vezes, as ideias na cabeça. O remédio,
portanto, era botar sempre uma câmara nas mãos desse que foi, no mínimo, a
figura mais instigante do cinema brasileiro: Glauber Rocha.
O inventor do Cinema Nova, de Deus e o
Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e de Cabeças Cortadas morreu aos 42
anos. Em seu último filme, A Idade da Terra, numa narração lida por ele mesmo,
Glauber diz: “O homem é mais forte que a morte”. Enfant terrible do cinema
brasileiro, gênio segundo muitos. Indiscutivelmente, o maior mito do cinema
novo.
Glauber era um artista, radical, livre e
longe das ponderações e conciliações dos políticos. Escreveu sobre o cinema
brasileiro com suas dores e contorções. Nas ruas aprendeu o diabo e Deus
naqueles chãos de febre, necessidade e sonho, entre livre atiradores, pedintes,
passantes, tiros a êsmo e desempregados crônicos – era o cinema nacional.
Considerado o mais amado e odiado
cineasta brasileiro, era visto pela ditadura militar, que se instalou no país
em 1964, como um elemento subversivo. Ao longo de sua carreira, fez 11 longas e
seis curtas, tendo a luta pela liberdade como tema recorrente. Liderou o
movimento do Cinema Novo, que buscava quebrar radicalmente com o estilo
cinematográfico norte-americano, notadamente a narrativa clássica
hollywoodiana.
Glauber de Andrade Rocha nasceu no dia
14 de março de 1939, em Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia. Na época, a
fazenda de seu avô em Cafarnaum não existia mais. Ela havia servido de
esconderijo a jagunços e pistoleiros, o que deu origem a histórias fantásticas
que povoaram a infância do menino. Estudante em Salvador, ele fundou e presidiu
o cineclube Clube Western. Foi o primeiro contato com o cinema.
Antes de estrear na realização de uma
longa-metragem (Barravento, 1961), Glauber Rocha realizou vários
curtas-metragens, ao mesmo tempo que se dedicava ao cineclubismo e fundava uma
produtora cinematográfica. Em 1958, filma seu primeiro curta, “Pátio”, com
Solon Barreto e Helena Ignez. Esse curta metragem prenunciava o seu compromisso
com uma nova linguagem e o introduzia no mundo mítico do cinema mítico até
´para ele: “Cinema para mim é algo sagrado. Eu sei que nem todo mundo pensa
assim, mas, para mim, cinema é realmente algo sagrado. Mas é preciso entender
que cinema é pintura em movimento com som. O cinema baseado na estrutura do
diálogo é o anticinema”. Em O Pátio ele revelava sua preocupação com a pesquisa
da linguagem.
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