14 março 2019


Há 80 anos nascia Glauber Rocha



Ele era capaz das mais apaixonadas adesões e das mais enfáticas críticas a amigos e inimigos. Fazia filmes ao mesmo tempo reflexivos, políticos e formalmente inovadores. Dava declarações sinceras sobre tudo, sem a preocupação de agradar a ninguém, a não ser à sua integridade intelectual. Era um sujeito anacrônico. Para ele, era preciso, urgente, desenvolver o conhecimento da cultura brasileira, vasculhar as raízes, revolver o passado, por mais trabalho que desse. Ele nasceu no dia 14 de março de 1939, há 80 anos.

 


Ideias na cabeça nunca lhe faltaram: o que tinha faltado, muitas vezes, era a câmara na mão. E as mão, desocupadas, pareciam embaralhar-lhe, muitas vezes, as ideias na cabeça. O remédio, portanto, era botar sempre uma câmara nas mãos desse que foi, no mínimo, a figura mais instigante do cinema brasileiro: Glauber Rocha.



O inventor do Cinema Nova, de Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e de Cabeças Cortadas morreu aos 42 anos. Em seu último filme, A Idade da Terra, numa narração lida por ele mesmo, Glauber diz: “O homem é mais forte que a morte”. Enfant terrible do cinema brasileiro, gênio segundo muitos. Indiscutivelmente, o maior mito do cinema novo.

 


Glauber era um artista, radical, livre e longe das ponderações e conciliações dos políticos. Escreveu sobre o cinema brasileiro com suas dores e contorções. Nas ruas aprendeu o diabo e Deus naqueles chãos de febre, necessidade e sonho, entre livre atiradores, pedintes, passantes, tiros a êsmo e desempregados crônicos – era o cinema nacional.



Considerado o mais amado e odiado cineasta brasileiro, era visto pela ditadura militar, que se instalou no país em 1964, como um elemento subversivo. Ao longo de sua carreira, fez 11 longas e seis curtas, tendo a luta pela liberdade como tema recorrente. Liderou o movimento do Cinema Novo, que buscava quebrar radicalmente com o estilo cinematográfico norte-americano, notadamente a narrativa clássica hollywoodiana.

 


Glauber de Andrade Rocha nasceu no dia 14 de março de 1939, em Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia. Na época, a fazenda de seu avô em Cafarnaum não existia mais. Ela havia servido de esconderijo a jagunços e pistoleiros, o que deu origem a histórias fantásticas que povoaram a infância do menino. Estudante em Salvador, ele fundou e presidiu o cineclube Clube Western. Foi o primeiro contato com o cinema.

 


Antes de estrear na realização de uma longa-metragem (Barravento, 1961), Glauber Rocha realizou vários curtas-metragens, ao mesmo tempo que se dedicava ao cineclubismo e fundava uma produtora cinematográfica. Em 1958, filma seu primeiro curta, “Pátio”, com Solon Barreto e Helena Ignez. Esse curta metragem prenunciava o seu compromisso com uma nova linguagem e o introduzia no mundo mítico do cinema mítico até ´para ele: “Cinema para mim é algo sagrado. Eu sei que nem todo mundo pensa assim, mas, para mim, cinema é realmente algo sagrado. Mas é preciso entender que cinema é pintura em movimento com som. O cinema baseado na estrutura do diálogo é o anticinema”. Em O Pátio ele revelava sua preocupação com a pesquisa da linguagem.

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