25 março 2019

Viagem musical pela Bahia (1)


Berço da brasilidade, a Bahia se tornou uma imagem idílica para os brasileiros. Estereótipos como o da preguiça, do tempero ou do suingue baiano rondam o imaginário popular e são usados pelos próprios baianos como forma de autopromoção. “Baiano não nasce, estreia” é uma das frases utilizadas para mostrar a artisticidade inata do povo local. A Bahia, terra de filhos ilustres em todas as áreas da cultura, é cantada por seus admiradores, baianos ou não.

 


Quando se apresentava na rádio Sociedade da Bahia, na década de 1940 o sambista Riachão ficou conhecido como o cronista musical da cidade. Isso porque, além de compor músicas que tem Salvador como cenário, Riachão costuma falar de fatos que aconteceram nesses lugares, como o de uma baleia que foi exposta na Praça da Sé. Seu primeiro CD lançado em 2000, canta Salvador num estilo que ele chama de samba cartão postal. As imagens dos bairros e das ruas da cidade são cantadas de um modo que faz o ouvinte ter a sensação de percorrer os lugares citados: “Quem chega na Praça Cayru/olha pra frente o que é que vê/vê o elevador Lacerda/que vive a subir e a descer/É o retrato fiel da Bahia/baiana vendendo alegria/coisinha gostosa de dendê/acarajé ôô

ôô”.

 


O bairro de Itapuã cantada em música de Dorival Caymmi como uma bucólica vila de pescadores já não é mais a mesma, mesmo assim o local ainda é uma referência. “Saudade de Itapuã” (Caymmi) e “Tarde em Itapuã” (Vinícius de Moraes e Toquinho) são músicas emblemáticas. O bairro perdeu a tranquilidade de outrora, mas os compositores cantaram o local da época deles. O local era de veraneio para os soteropolitanos na época de Caymmi, anos 30 e 40. Nos anos 60 e 70, quando Vinícius morou lá, já havia uma avenida que ligava a cidade à antiga vila, mas o local ainda era vasto como um recanto.

 


Na letra do samba "Você já foi à Bahia?" é iniciada com uma pergunta: "Você já foi a Bahia, nega?" e em seguida são listados vários argumentos para convencer a "nega" - e a todos os seus ouvintes - a irem à Bahia. Aspectos diferentes do estado são salientados na letra: motivos de ordem religiosa, ao mencionar a Igreja do Senhor do Bonfim e das graças que alcançará quem visitá-la; a típica culinária baiana como vatapá, caruru, mungunzá; a diversão através do samba; e por fim motivos históricos são alegados como a memória do tempo do Império, com suas donzelas, através da arquitetura da "cidade velha". Tudo é motivo para se visitar a Boa Terra. Ao fim do samba o afeto do compositor transparece quando revela que não há terra como a Bahia.



Os autores de algumas das mais famosas (e apaixonadas) músicas sobre a Bahia não nasceram lá. Trata-se do mineiro Ary Barroso, que passou apenas alguns dias na capital baiana, e do paulista Denis Brian. Compositor de “Bahia com H”. Na música, Brian pede licença para se declarar ao Estado: “Dá licença de gostar um pouquinho só/a Bahia eu não vou roubar tem dó/e já disse o poeta/que terra mais linda não há/isso é velho e do tempo em que já se escrevia Bahia com H”. Ele também canta as paisagens soteropolitanas: “Deixa ver, Baixa dos Sapateiros, Charriot, Barroquinha, Calçada, Taboão..../deixa ver, teus sobrados, igrejas/teus sambas, ladeiras/e montes tal qual um postal”.





Já as canções de Barroso, tais como “No Tabuleiro da Baiana”, “Quando em Penso na Bahia” e “Baixa dos Sapateiros”, fazem o ouvinte percorrer um itinerário geográfico musical pela Bahia, mais precisamente por Salvador, o que faz com que muitos turistas já cheguem à cidade cantarolando as músicas. “Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia/a morena mais frajola da Bahia/pedi-lhe um beijo, não deu/pedi-lhe um abraço, não quis,/pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu://Bahia, terra da felicidade”.

 


E quem não se lembra de Gordurinha cantando “o pau que nasce torto/não tem jeito, morre torto/baiano burro, garanto que nasce morto/sou da Bahia e comigo não tem horário/não sou otário ninguém pode me zombar/sou cabra macho, sou baiano toda hora/meio dia, duas horas, quatro e meia, o que é que há/cabeça grande é sinal de inteligência/eu agradeço a providência, ter nascido lá/salve a Bahia Ioiô/Salve a Bahia Iaià”.


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