19 março 2019

Faz 30 anos que Leminski se foi. Vamos lembrá-los através de seus poemas








Tarde de vento.

Até as árvores

querem vir para dentro.




Ameixas


ame-as

ou deixe-as 




Tudo o que eu faço

alguém em min que eu desprezo

sempre acha o máximo





Vai ver o dia

quando tudo o que eu diga

seja poesia





SE



se

nem

for

terra

se

trans

for

mar





 








Amor bastante



quando eu vi você

tive uma idéia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante





basta um instante

e você tem amor bastante







um bom poema

leva anos

cinco jogando bola,

mais cinco estudando sânscrito,

seis carregando pedra,


nove namorando a vizinha,

sete levando porrada,

quatro andando sozinho,

três mudando de cidade,

dez trocando de assunto,

uma eternidade, eu e você,

caminhando junto







DESENCONTRÁRIOS




Mandei a palavra rimar,

ela não me obedeceu.

Falou em mar, em céu, em rosa,

em grego, em silêncio, em prosa.

Parecia fora de si,

a sílaba silenciosa.





Mandei a frase sonhar,

e ela se foi num labirinto.

Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.

Dar ordens a um exército,

para conquistar um império extinto.





RAZÃO DE SER



Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,

preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

E as estrelas lá no céu

Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.



Tem que ter por quê?




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