A palavra, seja falada, escrita,
desenhada, fotografada, filmada, construída ou cantada, está no centro das
atenções na mostra que o artista, herdeiro da poesia concreta dos anos 1950, do
rock and roll e do tropicalismo dos 1960 e 1970, da arte pop e do movimento
punk dos anos 1980.
A exposição Palavra em Movimento, que
abre na Caixa Cultural Recife, marca três décadas de produção visual de Arnaldo
Antunes. A abertura ocorre no dia 16 de agosto. A mostra, em circulação desde
2016, já passou por cidades como São Paulo, Brasília, Fortaleza, Rio de
Janeiro, Florianópolis e Salvador. Segundo o curador Daniel Rangel, a maneira
integrada de criar de Arnaldo Antunes é inspirada na poesia concreta e remete à
expressão joyceana “verbivocovisual”, que sintetiza a proposta, colocada em
prática nos anos 1950 pelos concretistas brasileiros, dos novos modos de se
fazer poesia, visando a uma “arte geral da palavra”.
“Palavra em Movimento” reúne
caligrafias, colagens, instalações e objetos poéticos, além de adesivos,
banners, áudios e vídeos de trabalhos realizados nos últimos trinta anos. É uma
síntese da trajetória do artista vanguardista no circuito das artes visuais
contemporâneas. “Trata-se de um artista do presente, que aborda temas atuais;
conceitos políticos, comportamentais, ecológicos, espirituais e poéticos, para
diversos públicos e em contato com diferentes mídias”, explica Rangel.
Na análise de André Gardel (http://www.sesc.com.br/portal/site/palavra/dossie/artigo/verbo+viajante+palavra+corpo+e+performance+poetica+em+arnaldo+antunes)
Arnaldo estabelece um livre trânsito entre a indústria “major” e a “minor”,
entre os espaços “cults” e “bregas”, oficiais e alternativos, entre o erudito e
o popular, entre os “happy few” e a massa. E é justamente essa postura
transicional, de Hermes-Mercúrio mensageiro multicultural e interartístico, que
propicia o exercício e ampliação do viés “pedagógico” de sua produção. Pois é a
partir da potencialização das forças que tencionam a palavra poética, nômade,
distendendo-se e reverberando, de modo recorrente, em todos os meios de
expressão a que se dedica, que vem à tona seu ideário último: a revitalização,
multimídia, de um estado de linguagem – primitivo, semiótico, performativo – em
que nome e coisa, objeto e signo surgem como um único e mesmo fenômeno
pulsante. Num resgate de uma situação e de um momento originários em que a
linguagem torna-se corpo e o corpo, linguagem.
Assim, a obra de Arnaldo Antunes vem
trazendo para o universo da cultura popular, de modo sistemático e com grande
poder inventivo, elementos expressivos que fincam raízes em algumas das mais
importantes experimentações de vanguarda culta. Tentando, direta ou
indiretamente, diminuir o fosso existente entre experimentação formal e
ampliação de público. Outros artistas e movimentos na música popular comercial
brasileira fizeram e/ ou fazem o mesmo. No entanto, a obra de Arnaldo Antunes,
apesar de se inserir nessa tendência, mantém uma singularidade muito
específica.
Dos poetas e do movimento concreto,
Arnaldo devora, como bom antropófago que se alimentou da cartilha canibal do
modernista Oswald de Andrade, o instrumental linguístico e semiótico; a
inserção da escrita ideogramática na escrita alfabética, que incorpora a
estrutura analógica à lógica discursiva ocidental; a pesquisa gráfica e
caligráfica revitalizando o verbal; a contaminação multimeios; a poesia visual
de fundo construtivista; a proesia; a busca isomórfica de significação entre
signo verbal e referente, similaridades fônicas e ambiguidades semânticas etc.
E do Momento Tropicalista que, por si só, já é uma deglutição pop de
proposições modernistas, Arnaldo incorpora uma criação que enfrenta, de modo
plural e muito pessoal, o jogo artístico que se desdobra da dialética
contemporânea entre novidade e tradição, estética culta e de massas.
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