18 abril 2018

Humor sutil do baiano Café


José Carlos Café Alves (Café) nasceu em Santa Inês – BA, no dia 02 de fevereiro de 1960. Viveu ali, parte da sua infância. Em Santo Antônio de Jesus– BA iniciou os estudos, concluindo em 1981 o segundo grau como técnico em contabilidade. As primeiras habilidades manuais foram aprendidas na marcenaria do seu pai, José Alexandre Alves. Nas horas vagas, gostava de construir seus próprios brinquedos. Já adulto, deixou de lado o ofício de marceneiro e passou a se dedicar a outras atividades como office boy, auxiliar de escritório e balconista. Paralelamente aos estudos e trabalho, serviu o Tiro de Guerra local e, também passou a se dedicar a tocar violão. Em 1986 parte em aventura para Salvador a fim de estudar Artes. Em 1994 forma-se em Artes Plásticas na UFBA- Universidade Federal da Bahia.

Sua experiência com o cartum deve-se principalmente a dois conceituados cartunistas que Café conheceu na década de 80: Caó e Nildão. “Os considero como meus mestres na arte de desenhar cartum. O primeiro me ensinou a usar a pimenta; o segundo, o azeite”,  finaliza o autor. Café teve cartuns selecionados em salões e festivais de humor nacionais e internacionais como:  V PortoCartoon – Portugal 2003; 1º Festival Internacional de Humor Dst & Aids do Ministério da Saúde, Brasília-DF 2008. Seu primeiro livro de cartuns intitulado Hora do Café foi lançado em 2016. Vamos conhecer um pouco mais desse artista gráfico baiano:



Como começou sua paixão pelas artes gráficas?

CAFÉ - Acho que essa paixão se inicia por volta de 1983, em Santo Antonio de Jesus  -BA, quando tive acesso a livros dos cartunistas Caó e Nildão. Foi por aí que descobri Saul Steinberg. O semanário O Pasquim, Henfil, Jaguar, Ziraldo, Nani, Borjalo, etc. Descobri outros famosos do traço como, Quino e Mordillo. Em S.Antonio eu sempre encomendava aos amigos que vinham para Salvador um exemplar do Pasquim. O momento que mais me aproximou das artes gráficas foi durante o curso de Artes Plásticas na UFBA, concluído em 1994. Lembro que eu garimpava nas bibliotecas da capital baiana tudo que estivesse ligado ao humor gráfico. Era muito prazeroso.

O que você mais gosta de fazer:cartum, charge, caricatura ou historias em quadrinhos?

CAFÉ - Cartum.

O que lhe inspirava na hora de produzir esses trabalhos?

CAFÉ - Qualquer fato curioso. A finalidade é sempre o riso e a reflexão. O cartum é uma arma poderosa capaz de mostrar o lado ridículo, contraditório que o ser humano não admite, não gosta.


Quais são as suas principais influências?

CAFÉ - Charle Chaplin, embora seja de outra linguagem. No início da minha carreira tive bastante influência de Caó.

Você já participou de diversas exposições. Fale um pouco delas?

CAFÉ - Centro de Cultura de Cachoeira - Ba, 1987; Centro Cultural de S. A de Jesus- Ba, 1987; Galeria do Aluno na EBA, UFBA, 1992; Bar Sax - Bairro da Graça, 1992;  Extudo Restaurante, Rio Vermelho, Salvador -Ba, 2006;  Participações em vários festivais de Humor tipo: XXX Salão internacional de humor de Piracicaba; V e XII Portocartoon - PT ,2003 e 2010, respectivamente ; Ricardo Rendón, Colombia, 2003; I Festival Internacional de Humor DST & AIDS, Min. Saúde, BR, 2004; FHUBA no TCA, 2012; Considero essas exposições e festivais como um importante exercício para o meu crescimento como  cartunista. Os temas são sempre desafiadores, envolve muita pesquisa. Aprendi muita coisa praticando e vendo a prática de outros cartunistas. Tenho vários catálogos desses festivais.

Quando foi publicado seu primeiro trabalho?

CAFÉ - Primeiro cartum, em 1986 num jornal de época que surgiu em S. A. de Jesus chamado Reconvale, onde um náufrago anuncia a venda de ilha com plantio de coqueiro e bananeira.



Já criou algum personagem para tiras em quadrinhos?

CAFÉ - Muito pouco.  Tenho um chamado “O escultor”. Já no caso de HQ, tenho outros personagens como é o caso do “Jegue bom de carga”, publicado na revista Esfera do Humor, 1992; “Nestor filma cocô”, uma HQ que tenta conscientizar os donos de cães a apanhar o cocô dos seus animais postos em lugares públicos (essa HQ é inédita) Tenho outra, “Shopping praia”, inspirada em camelôs de uma praia aqui no litoral norte baiano (foi selecionada no V FIHQ-PE) A falta de incentivo, e espaço adequado para publicação, acabam contribuindo para que essas produções sejam esporádicas. Prefiro fazer HQ, a tira em quadrinhos.

Como é o processo de criação?

CAFÉ - A partir de uma ideia, faço esboços buscando uma forma capaz de mostrar por um determinado ponto de vista uma cena cômica imaginada. Aí entra duplo sentido, jogo de palavras, metáfora, etc.

O que você anda lendo ultimamente?

CAFÉ - Tenho lido mais é sobre o golpe que aí está. Além de leituras diárias na internet (prefiro a blogosfera), já li A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr.; O Quarto Poder, de Paulo Henrique Amorim;    literatura, O irmão alemão, de Chico Buarque, Traçando Porto Alegre, de Luis Fernando Veríssimo, ilustrado por Joaquim da Fonseca. Ed. Artes e ofícios, 2009; Lage 40 anos de humor. Org. Nildão; leio também literatura de cordel, quadrinhos nacionais tipo “Em terras americanas”, com Paulo Setúbal, Tom Figueiredo e Vitor Sousa. Ed. Cedraz, 2015; Billy Jackson, com Cau Gomez e Victor Mascarenhas, 2013. Enfim, não sou um leitor voraz, mas me interesso por diversos estilos de leitura. Gosto de estar alinhado com as produções gráficas dos colegas baianos. Sempre que posso vou aos lançamentos.


Como você analisa o atual cenário das artes gráficas no Brasil?

CAFÉ - As artes gráficas em papel impresso perderam muito espaço para o formato digital. Contudo, ainda se continua produzindo livros e revistas impressos. Os jornais impressos estão em extinção. E devido ao pequeno poder aquisitivo da maioria da nossa população, livro ainda é um objeto muito caro em nosso país. No meu caso, faço livro revista, por conta própria, quando posso, por necessidade de me expressar, por paixão pelo desenho. Ainda não consigo sobreviver apenas do desenho, do humor. Um dos  ramos que mais tem dado lucro no Brasil é o farmacêutico. Basta olharmos a quantidade de novas farmácias que são abertas todo dia. Sinal de que a população está muito doente. A nossa arte de humor, poderia ser um grande aliado na prevenção de doenças. O humor faz bem para o corpo e o espírito.

O mercado vive uma fase, isso está refletindo na produção independente também?

CAFÉ - Com certeza. Acho que toquei nisso na pergunta anterior. É muito caro fazer livro independente, mesmo com o advento do computador  (ele agiliza muito durante as diversas fases da confecção do mesmo). O papel, embora se invista tanto em sua reciclagem, em edições digitais, encarece muito o produto final impresso. Buscar patrocínio é uma tarefa árdua, desanimadora para quem se lança a fazer tudo sozinho, lidar com a burocracia complexa de editais, ufa! A gente acaba perdendo o tesão, e, consequentemente, o foco da  obra .

É fácil ser um profissional no Brasil? Quais são as maiores dificuldades?

CAFÉ - Não. O maior desafio é conseguir pagar as contas no final do mês.  Para isso, preciso dar aula em escola pública, (ensino na rede de Lauro de Freitas), faço free lancer quando aparece, e paralelamente vou praticando o humor gráfico com foco em cartum.

Você produziu um livro de cartuns em 2016 via independente. Fale sobre essa obra?

CAFÉ – Hora do Café. Trata-se de uma seleção de cartuns da minha trajetória como cartunista. Parte dos cartuns nele contidos foram selecionados em festivais de humor no Brasil e no exterior, e/ou publicados em outros meios de comunicação, como é o caso da revista Esfera do Humor, criada por mim em 1992. A outra parte é de cartuns inéditos. Hora do Café aborda a vida em toda a sua dimensão poética. São cartuns impregnados de humor sutil que tratam das múltiplas vertentes da natureza humana. Formato  11 cm x 15 cm, capa dura, 64 páginas impressas em 4 cores. Tiragem 500 exemplares, lançamento ocorrido no restaurante Póstudo, Rio Vermelho, Salvador - BA, outubro de 2016.  Fiquei muito feliz com esse projeto independente.

Que material você usar para desenhar e arte finalizar?

CAFÉ - Papel comum, lápis, borracha, caneta com tinta preta, preferência nanquim. Escaneio o desenho, e no computador uso Photoshop para colorir, e Corel draw, edição. Em breve passarei a usar o Illustrator, muito usado por designers. Uso  também uma caneta digitalizadora da Wacom pois o mouse é muito limitado e cansa a mão.


Quem são hoje, para você, os bons chargistas e cartunistas?

CAFÉ - Posso citar, Laerte, Angeli, Aroeira, Nildão, Caó, Cau Gomez, Lute, Setúbal e J. Bosco.

Você já viveu algum tipo de repressão no seu trabalho no jornal?

CAFÉ - Nunca trabalhei em jornal.

No Brasil já é possível viver só de humor?

CAFÉ - Pouca gente consegue.

Quais são seus próximos projetos?

CAFÉ - Publicar dois novos livros de cartuns. Um no formato de Hora do Café, e outro, em formato diferente sobre coisas ligadas ao futebol.



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