22 abril 2010

Cathy em preto e branco

“Ya pihi irakema” dizem os índios ianomâmi da Amazônia, que significa “que contaminado pelo seu ser” - uma parte de você entrou em mim, vive e cresce em mim. É exatamente o que eu sinto. Alguma coisa de você vive em mim. Já escrevi sobre Cathy neste blog diversas vezes, hoje ela fala de si:


“Neta de índia e filha de sertanejo - minhas marcas de nascença e pertença. Libriana desassossegada, apressada, ansiada, com sede de felicidade causada pelas coisas pequenas e pelas pessoas grandes. Abençoada por Iansã, eu mudo a direção dos meus ventos se quero outro tempo. Vivo destituída de tudo, menos de coragem e paixão. Meu abraço é sempre forte, e meu banho sempre demorado. Não quero saber de amor que não seja libertação. Casamento para mim é cativeiro consentido. Odeio culpa e desculpas. Perdoo, mas não esqueço o que me fazem - nem de bom nem de ruim. Durmo muito, e falo mais ainda. Entupo-me de gente, música, livros, poesia, histórias, lugares e saudade. Busco sempre “o de dentro”, não suporto superficialidades.


“Gosto de mudanças, de trocar as coisas e pessoas de lugar. Sou partidária de gente fiel e que fala a verdade - acima de tudo para si mesma. Sou uma mulher de carne vibrante, de olhar atento, de tesão a flor da pele. Meu amor é renovável, mas é sempre para agora. Acho o destino sagrado, mas mutável. Não quero o mal do outro, mas só acendo vela pra mim. Apesar de... ainda acredito nos seres humanos. Tenho fé em orixás e para eles faço minhas preces. Peço benção a minha avó e proteção a todos os meus amores. Raramente me sinto cansada ou desanimada com a vida, porque confio que o céu é aqui - e o inferno também.


“Minha solidão é permanente, ainda que eu esteja em companhia. Recuso-me a odiar pessoas, porque não quero despender energia com isso. Só gosto de música que tira minha alma pra dançar. Nada em mim é passivo. Estou sempre indo embora, talvez de tanto que eu quero ficar. Sou guiada por meus instintos e memória ancestral. Clarice Lispector me permitiu entender a mulher que sou e a mulher que posso vir a ser. Inspiro e respiro todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para uma e outra, ou por simplesmente ter ainda tanta fome de mundo e dificuldade em ser permanente.

“Alegro-me muito ou sofro muito, e cada vez mais estou certa disso: viver as coisas e pessoas em suas totalidades. Não confundo amor com apego, nem tampouco com carência, por isso fico sozinha o tempo que for necessário, adestrando meu coração a reconhecer o amor sem enganos. E falando em amor, eu não o procuro: combinamos que Ele sempre me encontrará mundo afora. Meus amigos têm vocação para sê-los. Tenho fobia de juras de amor e principes encantados - prefiro homens sem essência de sapo! Temo gente de silêncios profundos. Não acredito em Deus, mas acho cachorros sua melhor criação. Desconfio dos homens, mas acho coca-cola, vodka e sorvete suas melhores invenções. Não tenho respeito pelas coisas sem calor. Gosto de relações honestas, de gente que solta faíscas pelos olhos e que não tem prazo de validade, ou seja, gosto de gente de dentro para fora. Fui criada com mocotó, não com danoninho.


“Negocio com perdas e danos, porque foi assim que aprendi a jogar e ganhar. Sou doce sem ser açucarada. Respiro sempre fundo. Estou sempre me perdendo, me procurando, me achando. Quando sonho, sonho alto, é por isso que estou aqui. Minha mão é pesada, minha alma é leve e meu corpo é feito para o afeto, para o afago. Não tenho tempo para complexos. Não nasci para ser guardada em segredo, por isso sou assim: explícita até a carne. Sou alegre até quando estou triste. Rir é minha marca registrada. Não planto flores em cascalho (se é que você me entende!). Não sei esperar, prefiro ir ao encontro. Tenho saudade das sensações mais do que das pessoas. Sou prática e racional, mas minha porção romântica me diz que “aquele homem” virá em breve, seguro e leal, e ajeitando os meus cabelos negros e escorregadios, recitará então Pablo Neruda dentro dos meus olhos: “Quero fazer com você o que a Primavera faz com as cerejeiras...”.

PERFIL 1

Sou antes de tudo a saudade de meu pai. Sou persistente,impaciente,intensa,hedonista,curiosa e vivo tudo até a última gota. Sou exagerada na alegria e na tristeza. Não me considero vítima de nada. Tenho pressa de viver. Preciso de paixão o tempo todo. Abomino jovens obtusos que vestem camisas com imagens de Che Guevara e nem sabem ao certo quem ele foi. Raciocino com a língua e bebo pra lembrar. Prefiro vodka a cerveja. Tenho aversão a pusilanimidade e nenhuma paciência com conformismos. Tenho preconceito com bacharéis que falam e escrevem errado. Não suporto gente morna, prefiro as que me queimam. Desconfio de movimentos feministas,acredito é em inteligência,trabalho,independência,coragem,salto alto e lingerie preta.


Não sou boazinha e desprezo esse rótulo. Quem gosta de diminutivos,definha. Vida doméstica não é pra mim,é pra gatos. Tudo tem que ser forte para q eu não durma,fuja ou morra de tédio. Desconfio de quem pede pouco e de quem pouco oferece. Acho melancia a fruta + deliciosa, Hugh Jackman o homem + atraente, inteligência e bom humor as duas + poderosas armas de sedução. Fetiche:panturrilhas torneadas. Aviso 1:sou libriana de sangue quente. Aviso 2:não subestime minha inteligência. Aviso 3:nunca vou ser o que os outros querem. Admiro pessoas aguerridas,competentes,perseverantes. Sou totalmente passional diante de livros e música. Sou apaixonada por minha mãe e enlouquecida por minha vó. Sofro de intolerância crônica contra pessoas lerdas e religiosos militantes. Conto nos dedos os amigos leais que tenho e esses me bastam.


Homem tem que ter atitude e mulher deveria usar + o cérebro e - a bunda. Não aceito determinismos,meu destino quem faz sou eu. Já quis ser pugilista,dançarina,delegada, hoje sou jornalista. Amor só conheço o intenso. Gosto de me sentir pertencida, não dominada. Não acredito em metade da laranja. Aliás,não gosto de nada pela metade. Eu não sou fração, sou unidade. Sinto necessidade de estar só de vez em quando,não sou carente profissional. Gosto de ficar triste de vez em quando,a tristeza é providencial. Triste dos esfuziantes inveterados. Quero o que a vida tem de + quente e perturbador. Arranjo briga pra defender meus direitos e os dos outros. Sou mamífera ao extremo:mexeu com os meus mexeu comigo. Não queira me comandar,tenho o hábito de não obedecer. Gosto q me toquem nos cabelos,costas e pés. Gosto que me façam rir,acreditar e sentir saudade. Não me nego. Eu gozo. Eu sangro. Nunca ensinei covardias ao meu coração. Gosto de mim. Me aceito impura. Me gosto com pecados. Divirto-me enquanto seu lobo não vem. Prefiro os justos aos bons. Por puro bom senso não acredito em Deus, em nenhum.


O comum não me atrai. Os burros não me interessam. A solidão é minha melhor conselheira. Não quero nunca perder a coragem de me enfrentar. Acho o amor extremamente cruel:ao invés de dar, exige. E quem nos ama quer que sejamos algo que não somos. Admiro os que viram o jogo,acham graça de si mesmos,se amam acima de tudo e sabem bancar a conta dos seus desejos/escolhas sem depois se acovardar. Apesar dos medos, avanço, pois Clarice Lispector me ensinou que o medo deve me guiar sempre para o que quero. Gosto de braços, panturrilhas,costas,olhos,boca e perfume. Gosto de quem lê, quem gosta de animais, quem gosta de sexo, quem ouve boa música e discute sobre os + variados assuntos.


Não gosto de homem escravo meu, filho meu,nem meu pai. Sou como Jack Kerouac, em On the Road: “Eu só confio nas pessoas loucas pra viver,loucas pra falar,desejosas de tudo ao mesmo tempo,que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira,+ queimam,queimam.” Sou a favor da gentileza, respeito, pena de morte. Sou contra sutiã, gente mal-educada, jornalismo sensacionalista, voto obrigatório, esmola, remuneração de político(político não é profissão). Se um dia encontrar com Deus vou perguntar pra que servem muriçocas. Quero incendiar o Congresso Nacional, pular de paraquedas, conhecer a África e o mundo,ter 1 filho,1 canil,uma casa a beira-mar,escrever livros,morrer de amor e doar todos os meus órgãos (...)


PERFIL 2

Sou o sorriso enigmático de Monalisa, as delícias dos Jardins Suspensos da Babilônia, os muros da Muralha da China, a grande prova de amor ocultada sob as paredes do Taj Mahal, os gladiadores do Coliseu de Roma lutando por vida e glória, os mistérios das Pirâmides do Egito, os pecados de Mae West, a lingua-navalha de Nelson Rodrigues, a solidão de Clarice Lispector, a simplicidade de Mario Quintana, as ruas sensuais e cadentes de Salvador, as guitarras do Creedence Revival, o blues endemoninhado de Muddy Waters. Sou a amante amada, a boca bem beijada. Sou o vermelho do vinho, o preto da coca-cola, a transparência da vodka. Sou forte por fora e macia por dentro (ou seria o contrário?). Sou o vento de Iansã, o corpo onde repousam os guerreiros. Sou aquela que pôs seus sonhos num barco, o barco no mar e depois abriu o mar com as mãos. Sou canga estendida sob a areia da praia. Sou Carnaval, oferenda e ritual. Sou os livros com os quais faço amor. Sou tudo que aqui falo. Mas especialmente tudo que aqui calo...

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

3 comentários:

Cathy Rodrigues disse...

Tanto amor em ti, em mim, mais ainda...

Obrigada mais uma vez...

Cathy disse...

"Nesta ausência que me excita, tenho-te, à minha vontade,
numa vontade infinita...
Distância sejas bendita! Bendita sejas, saudade!"
(Gilka Machado)

Gutemberg disse...

Cathy

Haja coração...,
pois a mente sempre sonha,
o corpo se esconde na fronha,
os olhos enchergam na manha
o cheiro espalha essa sanha
e o toque que não se toca estranha,
ah vida enfadonha!!!


Guto