10 janeiro 2008

Mail Art/Arte Postal (2)

O mail art se demonstra uma das alternativas encontradas pelos artistas para explorar novos recursos perceptivos e, ao mesmo tempo para descobrir novas possibilidades de fazer sentir sua presença na coletividade. Verifica-se a utilização de um média que se presta ao relacionamento à distância – e que impõe a periodicidade – entre emissor e receptor, mas que na verdade vai além, desta convenção.

A mensagem é, com efeito, reciclada passando desse estágio de correspondência a dois ou mais participantes para o domínio exterior, como o demonstram as várias exposições de arte postal realizadas no decorrer da época. O cartão postal, criado pelo próprio artista, e o cartão comercial alterado, parecem ter sido os primeiros veículos de exploração dessa arte essencialmente processual. A idéia de arte postal, entretanto, logo ganhou dimensões operacionais maiores e é hoje um campo que se expande continuamente como transmissão de mensagens utilizando a carta, a circular, o telegrama, o boletim e outros meios que se adequam pelo formato e peso à circulação postal.

A arte postal pertence à classe dos sistemas que desfazem as fortes barreiras que tem separado os níveis da arte daqueles da vida. As motivações para esta nova expressão são múltiplas e não dependem de qualquer circunstância especial. Artistas, em número considerável, rompendo com o conceito tradicional de obra, afastando-se dos esquemas de exposições oficiais e comerciais, desconfiados da função crítica e, no mínimo, indiferentes às revistas de arte dominantes – ou seja, hostis a todo o status quo poderia parecer indispensável à carreira artística – passara,m a organizare-se para enfrentar uma situação inteiramente diversa, criando suas próprias associações, seus próprios intercâmbios, suas próprias publicações, e selecionando os locais para suas exposições.

Tornaram-se economicamente independentes dos mecanismos centralizadores da arte, ao dedicar-se a atividades paralelas. As comunicações através da correspondência postal logo se fizeram elemento de peso para a consolidação e expansão desse comportamento autônomo. Essa atividade de arte correio representa um grande incentivo para as novas gerações. Significa um passo à frente no sentido de uma democratização de hábitos, de questionamento efetivo das exigências burocráticas e poderá ser uma contribuição sempre crescente na formação de uma cultura nova.

O poema experimental, postal – disse o baiano Almandrade – é uma técnica atuando na criação de linguagens. O espectador não está mais diante de uma obra acabada, a comunicação direta (visual) transforma o consumidor em participante. O experimentalismo vai de encontro à cultura burguesa, do objeto único e redundante.

TROCA DE INFORMAÇÕES

Os artistas de todo o mundo começaram a trocar criações entre si através do correio, trabalhando desde o envelope, onde se faz colagem, se escreve, colam-se fotos e, tudo junto, com endereçamento e selo, ganhando uma função estética bastante viva. Assim, a arte adquiriu uma linguagem crítica e atualíssima. Um processo mais que estético-visual-conceitual cumpre um círculo de revelações humanas – importante entre a incompreensão de muitos. Uma forma de arte multilateral.

A origem da arte postal está ligada ao dadaísmo, noveau réalisme, Grupo Fluxus e à Escola Postal de Nova York. Inúmeros acontecimentos em diferentes regiões do mundo levaram a sua origem. A criação do cartão postal em 1869 pelo australiano Manuel Herman pode ter sido o ponto de partida. Van Gogh e o poeta futurista russo Maiakovsky já enviavam a seus amigos correspondências repletas de ilustrações. Marcel Duchamp, em 1916, enviou a seus vizinhos, o casal Arensberg, um cartão postal que era uma colagem de outros cartões. Os integrantes do Grupo Fluxus passaram a fazer uso sistemático do cartão postal com intenções artísticas. Estava então criado um novo movimento artístico. Na década de 1950, Ray Johnson, nos Estados Unidos, foi considerado o fundador da mail art.

Nas décadas de 1960 e 70, a arte postal se difundiu rapidamente por todo o mundo, escapando à lei da massificação da arte, tornando-se uma prática – considerada anárquica por muitos – contra o fechado e extremamente comercial circuito de artes plásticas. Nessa época, foi a única forma encontrada por centenas de artistas de pequenas cidades, de países longínquos ou com sistemas fechados de governo, para participar de mostras internacionais de artes visuais.

Na década de 1980, a mail art passou a ser considerada um dos maiores movimentos artísticos do mundo, com exposições que até hoje acontecem em grandes centros culturais, principalmente na Itália, Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra, França, Alemanha e Japão. No Brasil, a primeira mostra internacional de arte postal aconteceu em 1975, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1981, a 16ª Bienal Internacional de São Paulo dedicou grande espaço a mail art, recebendo mais de 8 mil obras de todo o mundo. Hoje, ainda é comum o menosprezo a essa manifestação artística, tida por muitos como um modismo passageiro restrito das décadas de 1970 e 80. Mas a troca de trabalhos artísticos ainda persiste no mundo via correio ou e-mail.

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